24 Novembro 2021
Papa Francisco: "Já foi tudo anunciado. Não haverá nada de novo em relação ao que foi prometido que seria feito. A reforma nada mais será que pôr em prática o que foi dito pelos cardeais, o que foi pedido no pré-conclave" de 2013.
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 23-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na entrevista concedida pelo Papa Francisco à cadeia de rádio espanhola Cope, em setembro passado, sobre a nova Constituição Apostólica "Praedicate Evangelium", provavelmente a quarta do seu pontificado, que substituirá aquela de S. João Paulo II ("Pastor Bonus" - em vigor desde 22 de junho de 1988 com três reformas importantes introduzidas por Bento XVI), o Pontífice informa que está lendo o texto com cuidado e atenção "porque tenho que assiná-lo" e logo esclarece: “Não apresentará nada de novo em relação ao que estamos vendo até agora. Talvez alguns detalhes, algumas mudanças sobre os dicastérios que se unem, dois ou três dicastérios a mais, mas já foi tudo anunciado: por exemplo, Educação vai se unir à Cultura. Propaganda fide vai se unir ao dicastério da Nova Evangelização. Mas já foi tudo anunciado. Não haverá nada de novo em relação ao que foi prometido”.
Para chegar ao texto que o Santo Padre está estudando a fundo antes de assiná-lo e promulgá-lo, talvez no final de 2021, foram necessários oito anos e o trabalho de dezenas de pessoas entre cardeais do Conselho (que se reunirá pela 39ª vez desde 2013), especialistas em textos legislativos, teólogos e canonistas. Nos últimos anos, centenas de consultas foram feitas às igrejas particulares, a membros da Cúria e a numerosas universidades e acadêmicos. É uma obra coral enorme e relevante também porque irá fixar - para dizer de forma simples - o quadro constitucional da Igreja Católica e de seu governo, guia central no Vaticano e, portanto, de tudo o que dela deriva para as igrejas particulares no mundo.
Também à radio Cope, o Santo Padre quis esclarecer: “Alguns me perguntam: ‘Quando sairá a constituição apostólica da reforma da Igreja, para ver o que há de novo?’. Não. Não haverá nada de novo. Se tem alguma coisa nova, são pequenos detalhes de adaptação. Está na última parte, que está atrasada por causa da minha doença. Está sendo assada em fogo baixo, para que envolva tudo. Que fique claro que a reforma nada mais será que pôr em prática o que os cardeais disseram, o que pedimos no pré-conclave e que está se vendo. Está se vendo”.
Desde a primeira reforma da Cúria Romana do Papa Sisto V em 1588 com a Constituição Apostólica Immensa Aeterna Dei até o início dos anos 1900 não houve muitas reformas. Basicamente, quase nada mudou em quatro séculos. Pio X (Giuseppe Sarto) trata disso com a Constituição Sapienti Consilio de 1910. Depois dessas duas reformas, mais duas viriam: a Regimini Ecclesiae Universae (15 de agosto de 1967) de Paulo VI, imediatamente após o Concílio Vaticano II, e finalmente, 21 anos depois, a Pastor Bonus de João Paulo II (1988).
Em suma, em quase meio milênio apenas 4 reformas. A terceira e a quarta foram promulgadas nos últimos 54 anos. A que está prestes a chegar do Papa Francisco, a quinta, será, portanto, a terceira na época moderna.
Nas palavras do Santo Padre, o documento não deveria oferecer grandes surpresas. Agora as coisas novas já são conhecidas e quase todas em vigor. Então, depois de tantos anos de intenso trabalho de preparação para as reformas, quais poderiam ser as novidades?
Talvez a grande novidade, e da qual se sente necessidade, especialmente há alguns anos, será um conjunto de aprofundadas reflexões introdutórias sobre a sinodalidade na Igreja.
É provável que o Papa Francisco nesse documento proponha um encorpado magistério papal sobre o significado e a relevância da sinodalidade, como se para deixar a marca desse carisma e dessa graça em seu pontificado. O Pontífice, há tempo, evidencia por essa dimensão da vida eclesial uma atenção e cuidado especiais e há meses não poupa esforços para consolidar o ímpeto propulsor do Sínodo dos Bispos previsto para outubro de 2023, decidido por ele justamente sobre o tema da sinodalidade [1].
Algo semelhante já aconteceu com as Introduções das Constituições Apostólicas de Paulo VI e João Paulo II. Na introdução ao "Regimini Ecclesiae Universae" (1967), o Papa Montini escreveu de forma curta e incisiva sobre o Concílio Ecumênico Vaticano II, dizendo: "Não é, portanto, a reforma que o Concílio visa, uma subversão da vida presente da Igreja, ou seja, uma ruptura com a sua tradição, no que ela tem de essencial e venerável, mas sim uma homenagem a tal tradição, no próprio ato que quer despojá-la de toda manifestação ultrapassada e defeituosa para torná-la genuína e fecunda".
Na "Pastor Bonus" (1988), o Papa Wojtyla, numa introdução bastante longa e muito articulada, escreveu sobre vários argumentos, em particular sobre a comunhão eclesial, os bispos, a diaconia e a Cúria Romana, acrescentando à Constituição: "Numa palavra, a minha preocupação foi prosseguir resolutamente avante, a fim de que a conformação e a atividade da Cúria correspondam cada vez mais à eclesiologia do Concílio Vaticano II, sejam, de moda cada vez mais evidente, idôneas à consecução das finalidades pastorais da conformação da Cúria, e correspondam, de forma cada vez mais concreta, às necessidades da sociedade eclesial e civil”.
[1] “O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio. (...) A sinodalidade, como dimensão constitutiva da Igreja, oferece-nos o quadro interpretativo mais adequado para a compreensão do próprio ministério hierárquico. Se entendermos que, como diz São João Crisóstomo, ‘Igreja e Sínodo são sinônimos’ [19] - porque a Igreja nada mais é do que o ‘caminhar junto’ do Rebanho de Deus nos caminhos da história para encontrar Cristo Senhor - entendemos também que nela ninguém pode ‘elevar-se’ acima dos outros. Pelo contrário, na Igreja é necessário que alguém ‘se abaixe’ para se colocar ao serviço dos irmãos ao longo do caminho. (...) O empenho pela construção de uma Igreja sinodal - missão à qual todos somos chamados, cada um no papel que o Senhor lhe confia - está impregnado de implicações ecumênicas. Por isso, falando a uma delegação do patriarcado de Constantinopla, recentemente reiterei a convicção de que ‘o exame atento de como se articulam na vida da Igreja o princípio da sinodalidade e o serviço de quem preside oferecerá um contributo significativo para o progresso das relações entre as nossas Igrejas’ [28]”. (Papa Francisco, 17 de outubro de 2015).
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A Constituição Apostólica “Praedicate Evangelium”, que o Papa Francisco poderia promulgar até o final do ano, está sendo elaborada há sete anos. A sinodalidade poderia ser o tema principal da Introdução - Instituto Humanitas Unisinos - IHU