12 Novembro 2021
Existe a espiritualidade. E existem as religiões, que engaiolam a busca espiritual gratuita em imagens, dogmas, preceitos e estruturas. Pensar e falar de Deus, indo além dos cercados das religiões, que construíram uma espécie de oligopólio do sagrado, é o objetivo da coleção “Oltre le religioni” (Além das religiões), lançada em 2016 pela editora Gabrielli, em colaboração com a agência de informação Adista.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 10-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quatro volumes publicados até agora, com contribuições de teólogos, filósofos e estudiosos de várias disciplinas:
- Além das religiões. Uma nova época para a espiritualidade humana (2016);
- O cosmos como revelação. Uma nova história sagrada para a humanidade (2018);
- Uma espiritualidade além do mito. Do fruto proibido à revolução do conhecimento (2019).
- O quarto, recém-lançado - Além de Deus. Escutando o mistério sem nome, (Oltre Dio. In ascolto del mistero senza nome) organizado por Claudia Fanti e José María Vigil (pp. 256, euro 19) - aborda a questão central do novo paradigma pós-religioso, o pós-teísmo, ou seja, a "superação da imagem teísta de Deus, como um ser com poder sobrenatural e traços antropomórficos e patriarcais, onipotente e onisciente, criador, senhor e juiz, que mora fora deste mundo imperfeito e passageiro e exerce o seu governo" sobre os seres humanos, “intervindo milagrosamente no domínio da natureza”.
Oltre le religioni
O tema, que aparentemente poderia parecer contraditório - buscar o divino, prescindindo da imagem de Deus - é denso e complexo e se embrenha em um terreno ainda pouco explorado.
Se, de fato, a superação da antropomorfização de Deus é uma aquisição já presente na tradição mística e também em alguns setores mais avançados da teologia crítica e progressista, ao contrário, a renúncia à imagem de um Deus transcendente, providente e pessoal é decididamente mais difícil de alcançar. A maioria dos teólogos - escreveu em uma das contribuições José Arregi, teólogo basco "herege", que foi proibido de lecionar nas faculdades de teologia e que deixou a ordem franciscana e o sacerdócio - continua a "considerar a qualidade pessoal de Deus como essencial e irrenunciável, acusando não raro os não teístas de cederem ao 'gnosticismo da moda' e de reduzir Deus a uma mera energia cósmica ou a uma vaga realidade impessoal e panteísta”.
A morte do Deus teísta, no entanto, não acarreta automaticamente o deslizamento para uma espécie de espiritualismo new age, nem a passagem para o ateísmo, mas o início de "uma busca espiritual desvinculada de qualquer pretensão de verdade e de qualquer pertencimento que não seja aquele à nossa casa comum e à nossa comum humanidade”, consta na introdução de Fanti.
Uma busca que, superando desconfianças e suspeitas mútuas, poderia ser conduzida em conjunto por crentes de diferentes credos e não crentes, em direção ao horizonte comum de uma espiritualidade universal depurada do teísmo e dos dogmas das religiões. Considerando também o que afirmava o físico Max Planck: nem mesmo a ciência pode resolver “o mistério último da natureza”, porque “em última instância nós próprios somos parte do mistério que procuramos resolver”.
Leia mais
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- Deus conosco no quotidiano
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Buscar o divino, prescindindo da imagem de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU