08 Novembro 2021
A economia é uma questão constantemente abordada pelo Papa Francisco em seu Magistério, fazendo uma proposta que aos poucos está sendo assumida, sobretudo pelos mais jovens, como caminho de futuro: “A economia de Francisco”, que no Brasil recebe o nome de “Economia de Francisco e Clara”.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Refletir sobre esse tema foi a proposta de um convite que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), faz toda primeira quinta-feira de cada mês na live “Igreja no Brasil Painel”, um espaço conduzido por Dom Joaquim Mol Guimarães, bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB.
Desta vez o tema foi: “Cristãos, esta economia mata!”, e contou com a presença da presidenta do Instituto Casa Comum, Silvana Bragatto, e seu esposo, o historiador, escritor e consultor em políticas públicas Célio Turino.
Segundo Dom Mol, “o Papa Francisco é contundente contra tudo o que fere a dignidade humana e o que fere o meio ambiente, a nossa casa comum”, insistindo em que “ele é forte e implacável contra o sistema econômico que globalizou a miséria de grande parte da população mundial e favoreceu a riqueza de uma pequena parte da população mundial”. Como proposta alternativa o Papa fez a proposta da Economia de Francisco, “pacto intergeracional que visa mudar a economia atual e dar uma alma à economia do amanhã, para que esta seja justa, inclusiva e sustentável”, segundo o bispo auxiliar de Belo Horizonte.
Comentando as propostas do Papa Francisco, Dom Mol refletia sobre a necessidade de uma mudança de paradigma, um aspecto presenta na reflexão do Papa Francisco diante de um sistema econômico que é injusto em sua raiz, onde o mercado por si só não resolve tudo. Daí nasce o dever moral de fazer a justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano, devolver aos pobres o que lhes pertence.
Em sua reflexão, Silvana Bragatto partia da ideia de que o mundo atualmente está cada vez mais desigual, mostrando a necessidade de uma economia que proporcione qualidade de vida para as pessoas. Nos deparamos com uma economia baseada no egoísmo, na competitividade, no lucro, com crianças educadas para a competitividade. Frente a isso, ela propõe uma economia de confiança, de afeto, de respeito. A professora destaca a necessidade de realmar a economia, de conhecer experiências de novas economias, algo que quer mostrar a Articulação Brasileira de Francisco e Clara.
Segundo Célio Turino, “o sistema mais ilógico que a humanidade já produziu é o sistema chamado capitalista, porque ele é baseado na acumulação e no crescimento continuo”. Ele se questiona “Como apostar nesse sistema num planeta que é finito?”. Frente à globalização atual, Turino diz pensar numa globalização poliédrica, que mantem a especificidade de cada um. Junto com isso uma economia do Cuidado, da dádiva, da festa, do bem viver, do suficiente, que promove a harmonia do individuo com ele mesmo, a harmonia do individuo com a comunidade, a harmonia da comunidade humana com a coletividade da vida, com os outros seres.
O historiador vê a Economia de Francisco como “o grande guarda-chuva para essas outras práticas econômicas que existem, que muitas vezes são invisibilizadas, desrespeitadas e desprezadas”. Ele relatava experiências de economia circular, destacando a importância de mostrar realidades e possibilidades diferentes.
Para Silvana, a Economia proposta pelo Papa Francisco é uma economia do cuidado, do afetivo, do respeito, da vizinhança. São realidades que querem ser trabalhadas nas Casas de Francisco e Clara, definidas por Célio Turino como “incubadoras dessas novas economias, espaços de discussão de vida comunitária”.
Tudo isso para combater uma realidade histórica presente no Brasil e na América Latina, que tem como fundamento, segundo Turino, a desumanização dos povos que viviam no continente, o desrespeito aos conhecimentos desses povos. Isso criou uma mentalidade, sustentada pela elite, que gerou racismo e uma mentalidade de tudo voltado para fora, uma elite que sempre viveu de costas para o povo, que criou um ódio aos pobres, algo presente em toda América Latina.
Existem propostas alternativas, segundo Silvana Bragatto, sustentadas numa economia circular, que favorece o acordo entre vizinhança, a partilha, o aproveitar o que já se tem, um novo conceito de produção que abaixa o preço e contribui com o meio ambiente, o reparo dos produtos. Nesse ponto, ela refletia sobre a renda básica universal, proposta pelo Papa Francisco, que definia como “combustível para fazer a criatividade aflorar e criar economias circulares”.
Tudo isso, em vista de “estimular o desenvolvimento da economia que protege a vida, que estimula a vida, ao contrário daquela que mata”, segundo refletia Dom Mol no final de um encontro virtual que colocou em foco, mais uma vez, elementos muito presentes na vida do povo, que sofre as consequências dessa economia que mata e favorece exclusivamente às elites.
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Alternativas a uma economia que mata: uma urgente mudança de paradigma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU