A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 10,46-52, que corresponde ao 30º domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Jesus sai de Jericó a caminho de Jerusalém. Vai acompanhado pelos seus discípulos e por mais pessoas. De repente, escutam gritos. É um mendigo cego que, da beira do caminho, se dirige a Jesus: «Filho de David, tem compaixão de mim!».
A sua cegueira impede-o de desfrutar a vida como os outros. Ele nunca poderá peregrinar até Jerusalém. Além disso, fechar-lhe-iam as portas do templo: os cegos não podiam entrar no recinto sagrado. Excluído da vida, marginalizado pelo povo, esquecido pelos representantes de Deus, só lhe resta pedir compaixão a Jesus.
Os discípulos e seguidores irritam-se. Aqueles gritos interrompem a sua marcha tranquila em direção a Jerusalém. Não podem escutar em paz as palavras de Jesus. Aquele pobre incomoda. Há que silenciar os seus gritos. Por isso, «muitos o repreendiam para que se calasse».
A reação de Jesus é muito diferente. Não pode seguir o seu caminho ignorando o sofrimento daquele homem. «Detém-se», faz com que todo o grupo pare e pede-lhes para que chamem o cego. Os seus seguidores não podem caminhar atrás dele sem escutar as chamadas dos que sofrem.
A razão é simples. É dito por Jesus de mil maneiras, em parábolas, exortações e ditados soltos: o centro do olhar e do coração de Deus são os que sofrem. Por isso, Ele os acolhe e se vira para eles preferencialmente. A sua vida é, acima de tudo, para os maltratados pela vida ou pelas injustiças: os condenados a viver sem esperança.
Incomoda-nos os gritos dos que vivem mal. Pode irritar-nos encontrá-los continuamente nas páginas do evangelho. Mas não nos está permitido «mutilar» a sua mensagem. Não há Igreja de Jesus sem escutar os que sofrem.
Estão no nosso caminho. Podemos encontrá-los em qualquer momento. Muito perto de nós ou mais longe. Pedem ajuda e compaixão. A única postura cristã é a de Jesus perante o cego: «Que queres que faça por ti? ». Esta deveria ser a atitude da Igreja perante o mundo daqueles que sofrem: que queres que faça por ti?