18 Outubro 2021
“Caminhar juntos, como diz a etimologia da palavra, é algo que a Igreja sempre fez desde seu início; é uma tradição venerável na instituição e o Papa Francisco deu um sentido novo, dando passagem para a participação de todo o povo de Deus. Uma grande aventura para fazer uma Igreja mais viva, missionária e evangelizadora”. Assim se pronunciava Vicente Jiménez Zamora, no início da vigésima oitava edição do programa Jueves de Religión Digital.
A reportagem é de Jordi Pacheco, publicada por Religión Digital, 15-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Depois da recente abertura oficial do Sínodo em Roma, e a poucos dias da fase diocesana do caminho sinodal, o debate de RD reuniu no último 14 de outubro o arcebispo emérito de Zaragoza e coordenador da equipe sinodal da CEE e outros protagonistas dos debates deste “caminhar juntos” com o propósito de desentranhar parte dos interrogantes que aborda o processo sinodal.
Os demais participantes do debate moderado, como é habitual por Jesús Bastante, foram a teóloga e blogueira Consuelo Vélez, o teólogo e membro da Comissão Teológica do Sínodo, Rafael Luciani, e o professor de Comillas e ex-secretário-geral da Caritas, Sebastián Mora.
“Sonho com uma Igreja missionária capaz de transformar tudo: linguagens, costumes, formas de entender para poder evangelizar o mudo. Estamos em um momento de Kairós no que cada um, com sua experiência e conhecimento, tem que estimular para colocar o sonho em ação”, destacou Sebastián Mora.
Para o teólogo venezuelano Rafael Luciani, a expectativa gerada por este caminho sinodal inaugurado pelo Papa Francisco durante o último final de semana é alta. “Trata-se de algo novo que não tem comparação, este sínodo é um processo de transição para um novo modo de proceder, o qual implica uma maneira completamente renovada de assumir a eclesiologia do povo de deus com o concílio. É algo novo para bispos e suas dioceses, paróquias, comunidades e famílias e o grande desafio é como podemos nos envolver. A sociedade reivindica mudanças à Igreja e tem que estar abertos à escuta”.
Um dos desafios que se colocam para a consumação do caminho sinodal é como enfrentar as divisões e assumir a diversidade, pressupondo a existência de conflitos. Para Consuelo Vélez, a resposta está nos leigos. “Chegou a hora dos leigos; É uma grande oportunidade para os leigos falarem e dizerem o que realmente sentem, sonham, porque quando se põe sonhos em palavras, esses se movimentam”, enfatizou a teóloga, desde a Colômbia.
O coordenador da equipe sinodal da CEE também acredita que “é a hora de todas as pessoas, mas principalmente dos leigos”. “Queremos que o início deste sínodo nas Igrejas e dioceses seja um evento para todo o povo de Deus. É por isso que criamos a partir da CEE uma página com uma infinidade de materiais para que isso se torne efetivo. Estamos à disposição de todas as dioceses para ajudar a dar o impulso necessário e para que possamos envolver a todos, não apenas os de sempre. Queremos caminhar juntos desde o início, para que todos se sintam partícipes”.
Para Rafael Luciani, um sinal muito positivo e que dá esperança é que se deseja criar uma cultura de consenso eclesial. Isso, garante, tem sido falado nestes dias em Roma. “Temos que falar, expressar pontos de vista e buscar convergências. Não apenas na secretaria sinodal. Essa prática se reflete no documento preparatório, que incentiva todos em pé de igualdade como batizados. Se essas relações não se completam, então estamos numa Igreja alheia aos tempos, temos que aprender e reaprender o que significa ser Igreja”.
Sebastián Mora destacou o que talvez seja um dos desafios mais urgentes para a Igreja: “Como Igreja, não podemos deixar de fora quem está na sarjeta da vida. Incluir os leigos é fundamental e essencial. Mas em um contexto de pandemia, ou pós-pandemia, que está deixando tantas pessoas de fora, todo o esforço do Sínodo deve levar em consideração as pessoas que geralmente não têm permissão para falar. Temos que trabalhar para realmente ouvir essas pessoas e dar voz a elas”, comentou.
“Também sonho com uma Igreja samaritana solidária com os pobres, um exemplo paradigmático para nós. A Igreja da proximidade, da proximidade a todos os homens e mulheres, dos que estão perto e dos que estão distantes”, acrescentou Vicente Jiménez, no mesmo sentido.
Para Rafael Luciani, o relatório Sauvé que tanto mexeu nos últimos dias na Igreja da França, na medida em que é um convite a todas as igrejas locais a seguirem esse caminho, dá a medida da necessidade urgente de mudar o modelo institucional. “Não é um sínodo sobre um tema, mas sobre a Igreja, sua identidade, sua missão neste terceiro milênio. Paulo VI disse algo muito claro no Vaticano II: 'O dever da Igreja é buscar uma forma mais completa de ser e de viver'. Isso é sinodalidade. No contexto de crise institucional, o sínodo é um instrumento de renovação”, explicou o teólogo.
Consuelo Vélez defendeu a superação do formalismo que muitas vezes impede “o que se manda fazer” de ser cumprido. “Nas paróquias esta experiência sinodal não deve ser para nos reunirmos como de costume, mas para ver como poderemos criar outras formas de convocação, que não seja uma coisa formal, que nos colocamos questões profundas e sérias”, afirmou Vélez afirmou em tom autocrítico. “Vejo ser difícil reverter o que considero um excesso de formalismo; as paróquias não têm poder de convocatória e devemos evitar o perigo de convocar os de sempre novamente para fazer o mesmo. É por isso que acredito que os padres devem sentar-se e ouvir os leigos. Se as coisas vierem de cima para baixo, isso não tem muito futuro”.
“A Igreja carece daquela cultura cívica de participação que é a sinodalidade, e esse processo que agora está em andamento é especialmente difícil quando essa cultura anterior de participação não existe na instituição. Temos que aprender a participar e isso se aprende participando. Como chegar a um consenso se sempre nos deram o consenso feito, a verdade já construída? É um grande esforço de cultura participativa. Nesse sentido, o sínodo deve servir para se tornar um lugar de aprendizagem”, alertou o professor de Comillas.
Uma Igreja multiforme é o que propõe Vicente Jiménez Zamora. E para isso, afirma, “a consulta é o método, o caminho é a participação e a meta é o discernimento”. “Todos nós temos que ouvir uns aos outros. A Igreja é o povo de Deus, mas é estruturada, harmonizada. Antes de ser papa ou bispo, alguém é cristão. Este Sínodo vai ajudar-nos a todos neste caminho de conversão”, disse o sacerdote nascido na província de Soria.
As reflexões de Luciani foram na mesma direção: “A Igreja não pode aprender por si mesma estando numa bolha. Trata-se de estar em saída, que propicie o encontro com aqueles que estão às margens. A sinodalidade nos transforma cotidianamente, na relação com o outro, cara-a-cara. Insistiu-se nisso durante a abertura do Sínodo: não se trata de consultar apenas os batizados”.
“Estamos em um momento que vai marcar um antes e um depois, mas tudo vai depender da forma como nos envolvemos, se formos sinceros e transparentes. Não é apenas uma organização que está se reestruturando, mas muito mais. Temos que ser honestos para entender que o nosso seguimento de Jesus deve estar no centro deste discernimento para que a Igreja mude”, acrescentou o teólogo.
Durante o tradicional minuto de ouro que fecha todas as quintas-feiras em Religión Digital, Consuelo Vélez fez um apelo para não perder a grande oportunidade que este momento histórico apresenta. “Não nos cansemos de tentar, de cada tentativa resta algo fica, na nossa história houve avanços e retrocessos, mas seguimos caminhando”.
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“A Igreja não pode aprender por si mesma. Então busque o encontro com aqueles que estão nas margens”, afirma o teólogo Rafael Luciani - Instituto Humanitas Unisinos - IHU