30 Setembro 2021
Cyprien e Daphrose Rugamba foram mortos em 1994 junto com seis de seus 10 filhos durante o genocídio dos tutsis. A fase diocesana do processo de beatificação terminou na semana passada em Kigali. A história de quem os conheceu: “Pregavam a paz e distribuíam afeto aos mais necessitados”.
A reportagem é publicada por Mondo e Missione, 28-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foram mortos a 7 de abril de 1994 num dos massacres mais brutais e sangrentos da história contemporânea: o genocídio dos tutsis em Ruanda. Na semana passada, 26 anos depois, terminou a fase diocesana do processo de beatificação da família Rugamba. Graças ao exame realizado em Ruanda, as biografias do casal e os depoimentos de quem os conheceu passam agora para a Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano, que deverá avaliar a vida de Cyprien e Daphrose Rugamba, mortos no massacre, junto com os seis filhos, e decidir se inscrevê-los entre os santos e beatos da Igreja Católica.
Cyprien e Daphrose Rugamba. (Foto: Emmanuel Community)
“A peculiaridade desta família é o seu amor e a sua unidade, eles sempre se apoiaram até o fim da vida, por isso pedimos para ser santificados como família inteira”, disse ao site AllAfrica o padre Jean-Bosco Ntagungira, pároco da Igreja Católica Regina Pacis no distrito de Gasabo em Kigali, que liderou a coleta de testemunhos para a causa de beatificação.
O casal ruandês, casado desde 1965, é conhecido em sua terra natal por ter introduzido a Renovação carismática católica no país e por ter fundado uma Comunidade Emmanuel em Kigali (capital de Ruanda). “Eles sempre pregaram a unidade e a paz entre os ruandeses - explicou o padre Ntagungira - a ponto de os membros de sua comunidade nunca terem participado do genocídio: isso mostra o quanto eles tenham sido um exemplo para todos e o quanto suas ações realmente influenciaram os outros”.
Muitas pessoas se inspiraram na vida do Rugamba e no seu sentimento de amor ao próximo. Como Agnes Kamatali, amiga íntima da família, que ainda fala deles com palavras de enorme afeto: "Durante as missas e as reuniões comunitárias, eles sempre nos lembravam de nos amarmos uns os outros e perdoar aqueles que nos feriram porque também são ‘filhos de Deus'. Eles tinham um jeito de viver em harmonia com as pessoas ao seu redor: ajudaram as pessoas pobres e apoiaram os casais em dificuldade de muitas maneiras, aconselhando-os e ajudando-os a resolver seus problemas conjugais”.
Cyprien e Daphrose Rugamba.
(Foto: Emmanuel Community)
Quem especialmente se beneficiou da bondade da alma da família Rugamba, foram as crianças de rua de Kigali a quem Cyprien e Daphrose se dedicaram durante muitos anos: em 1992 fundaram uma organização para o cuidado e alimentação de crianças mais pobres da capital, hoje conhecido como CECYDAR (Centro Cyprien e Daphrose Rugamba). “Eles nos ensinaram a amar essas crianças que estão na rua e não receberam amor - explica Jean-Baptiste Ndayambaje, educador do CECYDAR -. Conseguiam dar todo o seu afeto a essas crianças, e se ainda hoje a sua missão continua conosco e porque esse afeto era contagiante”.
Mais de 800 mil foram as vítimas do genocídio em Ruanda. Pelas notícias da época, parece que Cyprien tivesse aconselhado o então presidente Juvenal Habyarimana a interromper o registro de pertencimento étnico nas carteiras de identidade de Ruanda. Uma tomada de posição que não agradou ao regime hutu e que o fez entrar na lista negra junto com toda a sua família. Junto com seis de seus 10 filhos, morreram em 7 de abril de 1994. Um dia antes, a morte do presidente Habyarimana havia desencadeado a escalada de violências.
O processo canônico de beatificação dos cônjuges Rugamba e seus filhos começou em 2 de outubro de 2015. Agora, com o encerramento da fase diocesana, está em um ponto crucial. “Reconhecer a santidade desta família seria um orgulho não só para a Igreja Católica, mas para todo o país - acrescentou o padre Ntagungira -. Além disso, seria um exemplo para as jovens gerações e as famílias ruandesas, que continuam a tirar lições de vida dessa família”.
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Ruanda, rumo aos altares a “família da paz” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU