23 Setembro 2021
"Em Paulo Freire, o oprimido tem a condição e a urgência libertadora. A educação em Freire faz do oprimido agente fundamental de transformação do mundo", escreve Romero Venâncio, professor de Filosofia na Universidade Federal de Sergipe.
“E no entanto, refaço minhas asas
Cada dia. E no entanto, invento amor
Como as crianças inventam a alegria.”
Hilda Hilst
Pelo menos desde 2013, o educador e filósofo Paulo Freire vem sendo atacado da maneira mais baixa e covarde como nunca visto nesse país. Xingamentos, impropérios, insultos vulgares, desrespeito à obra e acusações sem o mínimo fundamento... Quase tudo inicialmente orquestrado pelo astrólogo pé-na-cova Olavo de Carvalho e sua turma de discípulos. Uma gente desqualificada acadêmica e politicamente. Uma direita que vive de palavrões e ataques em redes sociais. Quando saem as ruas é para demonstrar o quanto são ignorantes, tolos e medíocres. Uma gente com baixa formação intelectual, ressentida e que ganhou visibilidade com o crescimento de um bolsonarismo selvagem e negacionista incomum na história do Brasil. Alguns intelectuais de renome nacional e internacional foram escolhidos de propósito por esta gente para se tornaram o bode expiatória da miséria intelectual deles. Mas, sem dúvida, Paulo Freire foi o mais atacado quase que diariamente que já conta quase uma década.
2021 seria o ponto mais alto dessa gente. Mas eles não contavam com a reviravolta da história e da força das ideias de Paulo Freire. Com a exposição diária das contradições e da incompetência completa do governo Bolsonaro, essa turminha ficou mais encolhida. Tá perdendo seu “mito” inventado nas brumas de uma “fakeada” e no esgoto de uma direita sem rumo e sem tradição. Queriam enterrar a obra de Paulo Freire no ano de seu centenário. O que ocorreu? Exatamente o contrário. As homenagens no mês de nascimento do educador (setembro de 2021) apareceram de todos os cantos e de várias formas: lives aos montes, palestras, simpósios, cursos, encenações, documentários reexibidos, depoimentos, artigos, coletâneas... No Brasil, na América Latina... No mundo. A direita ficou sem discurso ou apenas requentando as ofensas de sempre e sem palanque. Não conseguiram deslegitimar a obra de Freire. A grande maioria dessa direita brasileira tem deficiência de leitura e de escrita. Mal sabe comentar um texto simples e jamais compreenderia uma obra como a: “Pedagogia do oprimido”. Obra refinada conceitualmente e que vem com um já clássico prefácio do gaúcho Ernani Maria Fiori que abrilhantou a obra de maneira incontornável. Temos nessa obra um inédito projeto pedagógico-político em que os de baixo retomam sua palavra e se tornam educandos, protagonistas, leitores do mundo... Em Paulo Freire, o oprimido tem a condição e a urgência libertadora. A educação em Freire faz do oprimido agente fundamental de transformação do mundo.
O projeto freiriano tá mais vivo do que nunca. Uma tradição de lutadores e lutadoras populares acordaram e avançaram na defesa da honra e da obra de Paulo Freire. Não se deixa companheiro para trás e nem à sorte dos lobos. MST, MTST, Universidades, Partidos de esquerda, grupos de Igrejas, educadores populares de todas as matizes, artistas, intelectuais de projeção nacional e internacional vieram na trincheira da batalha das ideias defender e rememorar a obra de Paulo Freire. Foi bonito e digno ver as redes sociais multiplicando textos, frases, comentários, indicações de leituras, fotos, charges, falas raras... Tudo em homenagem a Paulo Freire. O nome do educador pernambucano brilhou mais uma vez e como deve ser na trajetória de pessoas que deram sua vida a uma causa e a causa dos de baixo. Paulo Freire: o escritor, o educador (sempre), o gestor, o internacionalista... O amigo de Antonio Candido, Florestan Fernandes e Dom Paulo Arns... O marido de Elza Maria Costa (primeiro casamento) e Nita Freire (esposa dos últimos dias). A memória se fez justiça. Viva Paulo Freire.
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A vida e a vida de Paulo Freire. Nota sobre o centenário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU