21 Setembro 2021
Em defesa do multiculturalismo e da diversidade religiosa, durante sua visita a Budapeste e à Eslováquia, de 12 a 15 de setembro, o Papa Francisco proclamou com força uma mensagem de audácia e de criatividade aos líderes da Europa.
A opinião é do jornal francês Le Monde, em editorial publicado no dia 17-09-2021. A tradução, da versão italiana, é de Luísa Rabolini.
A famosa afirmação de João Paulo II: "Não tenham medo!" permaneceu gravado na memória. Pronunciada na missa inaugural de seu pontificado em outubro de 1978, não se dirigia apenas aos católicos europeus. Mas aqueles que viviam atrás da Cortina de Ferro, incluindo seus compatriotas poloneses, a tomaram como um incentivo para enfrentar a época soviética.
O Papa Francisco não retomou a fórmula precisa em sua visita a Budapeste e à Eslováquia, de 12 a 15 de setembro. Mas todas as palavras que proferiu ali renovaram a todos os europeus, e não apenas aos da Europa Central ou apenas aos católicos, o encorajamento do seu predecessor polonês.
Diante dos desafios contemporâneos que afligem o continente, não se deixem dominar pelo medo, basicamente disse a eles. Não só o medo os tornaria infiéis a si mesmos, mas também os fecharia ainda mais diante de uma "uma sociedade fraterna".
Decididamente contracorrente em relação aos medos europeus, o chefe da Igreja Católica esforçou-se principalmente para minimizar a diversidade cultural e social. Ao visitar aquele que chamou de "um gueto" cigano em Kosice, na Eslováquia, quis mostrar que o pluralismo é constitutivo da Europa, ainda que nunca tenha sido fácil de implementá-lo e embora pressuponha esforços contínuos "de integração". Ele defendeu uma diversidade cultural consciente.
Multiculturalismo: quem, além deste papa, ainda ousa reivindicar este termo? Os governos renunciaram a ele há muito tempo, à medida que dentro de seus eleitorados cresciam os contrastes à imigração. E o fez perante os bispos húngaros, valorizando o “ambiente multicultural” do país.
Durante esses quatro dias, o papa não pronunciou muito a palavra "migrantes", mas todos a ouviam como um baixo contínuo. Não sem malícia, Francisco especificou no final de sua viagem que os líderes húngaros, incluindo o primeiro-ministro Viktor Orban, um defensor ferrenho do movimento anti-imigração, não haviam abordado o assunto com ele em seu encontro.
Francisco também tentou convencer os cristãos daqueles países que, se o comunismo os deixou com más lembranças em matéria de liberdade religiosa, hoje não devemos negar essa liberdade aos outros.
Ele alertou contra o ressurgimento do antissemitismo e relembrou a tragédia do Holocausto.
A diversidade religiosa e a secularização atual não devem ser consideradas como ameaças, mas como "mensagens de abertura e paz". Reivindicar as próprias raízes só faz sentido se, ao mesmo tempo, se souber "olhar para o futuro", disse aos bispos húngaros. Não basta ostentar o símbolo da cruz, como fazem alguns políticos como Matteo Salvini, o líder da extrema direita na Itália, para ser fiéis à mensagem daquele que foi crucificado há dois mil anos.
Finalmente, o papa novamente deu uma lição para a União Europeia. A pandemia, "a prova do nosso tempo", lembra-nos que a tentação do "cada um por si" está sempre presente. "A Europa não pode se contentar em ser um escritório de gestão", disse ele no avião na viagem de volta.
“A Europa deve referir-se aos sonhos dos seus Pais fundadores”. É precisamente uma mensagem de audácia e de criatividade que o Papa proferiu durante esta visita aos europeus, chamados a "não se barricar num catolicismo defensivo".
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O Papa contracorrente em relação aos medos europeus. Editorial do jornal Le Monde - Instituto Humanitas Unisinos - IHU