17 Setembro 2021
A pandemia não atenuou o avanço das mudanças climáticas. Também não há indícios “de um crescimento mais ecológico”. Após uma redução passageira das emissões de dióxido de carbono pelas medidas contra a Covid-19, elas continuam sua tendência de aumento. As concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera se mantêm em níveis sem precedentes, e apesar das medidas adotadas, os governos estão longe de cumprir os objetivos do Acordo de Paris. São algumas das conclusões lançadas pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).
A reportagem é de Alba Mareca, publicada por La Marea-Climática, 16-09-2021. A tradução é do Cepat.
A pesquisa conta também com contribuições do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), o Projeto Carbono Global, o Programa Mundial de Pesquisas Climáticas e o Escritório Meteorológico do Reino Unido.
A análise apresenta os últimos dados e resultados científicos sobre as mudanças climáticas que fundamentam a adoção de medidas e políticas globais. Não obstante, suas advertências não são novas ou contradizem o que a comunidade científica vem dizendo há anos. Também não é a primeira vez que a ONU se mostra pessimista em relação ao modo de abordar a crise climática.
“Durante a pandemia, escutamos que devemos reconstruir para melhorar, a fim de traçar um caminho mais sustentável para a humanidade e evitar os piores efeitos das mudanças climáticas na sociedade e nas economias. Nesse relatório se destaca que, até agora em 2021, não estamos avançando na direção correta”, alertou o professor Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
“Esse relatório não deixa espaço para dúvidas. O tempo está se esgotando”, destaca António Guterres, secretário-geral da ONU, para quem “esse ano é decisivo no que diz respeito à ação climática”. “Nesse relatório, elaborado pelas Nações Unidas e organizações científicas internacionais parceiras, é oferecida uma avaliação integral dos últimos conhecimentos adquiridos no âmbito da climatologia. O resultado é uma constatação alarmante de como estamos distantes do rumo previsto”, acrescenta.
Segundo o relatório, as concentrações dos principais gases do efeito estufa – dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) – continuaram aumentando em 2020 e durante o primeiro semestre de 2021. Embora em 2020 tenha sido registrada uma diminuição, em consequência da paralisação na atividade econômica por causa da pandemia, conseguindo limitar o aumento anual das concentrações atmosféricas de gases do efeito estufa de longa duração, esse efeito foi muito pequeno para diferenciá-lo da variabilidade natural.
De fato, entre janeiro e julho desse ano, as emissões globais nos setores de energia elétrica e da indústria já estavam no mesmo nível ou em um nível superior ao observado durante o mesmo período em 2019, antes da pandemia. Sem incluir o transporte aéreo e marítimo, as emissões globais se mantiveram aproximadamente nos mesmos níveis de 2019. As estimativas do relatório também estabelecem uma redução de 5% nas emissões procedentes do transporte por rodovias.
São dados que levam a uma clara conclusão: “Cinco anos após a adoção do Acordo de Paris, não se avançou na efetivação dos objetivos em relação às emissões”, diz o relatório. Assim - acrescenta -, “não haverá uma diminuição considerável das emissões até 2030, a menos que os países busquem alcançar uma recuperação econômica que inclua uma descarbonização profunda”.
A temperatura média global na superfície, correspondente ao período 2017-2021 – com base em dados reunidos até julho –, está entre as mais quentes já registradas e, de acordo com as estimativas, equivale a entre 1,06 e 1,26 grau acima dos níveis pré-industriais. Segundo o último relatório do IPCC, publicado no último mês de agosto, em consequência das emissões descontroladas procedentes das atividades humanas, a temperatura já aumentou aproximadamente 1,1 grau, desde essa época.
Sobre essa questão, os dois relatórios – o do IPCC e o publicado nessa quinta-feira – coincidem em que essa tendência não irá parar. Essa última análise conclui que é provável que, em cada um dos próximos cinco anos, a temperatura média global anual próxima da superfície ultrapasse ao menos 1 grau os níveis pré-industriais, que correspondem à média do período 1850-1900, e é muito provável que esse aumento oscile entre 0,9 e 1,8 grau.
Conforme seus dados, há 40% de probabilidades de que a temperatura média global, em um dos próximos cinco anos, seja ao menos 1,5 grau mais alta do que nos níveis pré-industriais. No entanto, é muito pouco provável – cerca de 10% de probabilidade – que a temperatura média dos cinco anos correspondentes ao período 2021-2025 esteja 1,5 grau acima dos níveis pré-industriais.
São resultado do aquecimento global os fenômenos meteorológicos e climáticos extremos que ocorreram durante este ano: a onda de calor excepcional nos Estados Unidos e Canadá e as chuvas que causaram inundações mortais na Europa Ocidental, no último mês de julho. “Foram sinais inequívocos das mudanças climáticas provocadas pelas atividades humanas”, sentencia o relatório.
O nível médio global do mar aumentou 20 cm, de 1900 a 2018. Em relação a esse aspecto, o relatório destaca que ainda que sejam reduzidas as emissões para manter o aumento da temperatura muito abaixo de 2 graus, o nível médio global do mar provavelmente aumentará de 0,3 m a 0,6 m até 2.100, e pode aumentar de 0,3 m a 2,1 m até 2.300. A adaptação “será fundamental”, conclui a análise: “Deverão ser adotadas estratégias de adaptação onde não existem”, especialmente nas regiões costeiras baixas, pequenas ilhas, deltas e cidades costeiras.
Os riscos à saúde também fazem parte desse amplo relatório e se dão, sobretudo, pelas ondas de calor, os incêndios florestais e a poluição atmosférica: perigos climáticos que estão se agravando e são especialmente daninhos para a população mais vulnerável. O aumento das temperaturas tem relação com o aumento da mortalidade e as incapacidades laborais relacionadas ao calor. Em 2019, foram perdidas mais de 103 bilhões de horas de trabalho em todo o mundo, em comparação com o ano 2000 por esse motivo, alerta o relatório.
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“Não estamos avançando na direção correta”, insiste (pela enésima vez) a ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU