20 Agosto 2021
Odile Brousse concordou em falar sobre Emmanuel Abayisenga, o suposto assassino do padre Olivier Maire e o autor suspeito pelo incêndio na catedral de Nantes. Não para perdoá-lo, mas para “evitar julgamentos precipitados”. Para que a sua vida não se “resuma a dois atos hediondos”. No entanto, quando tomou conhecimento do ato indescritível, Odile Brousse admite ter chorado. “Como pôde atacar o que tanto amava, a Igreja? Não consigo entender”.
A reportagem é de Pascale Tournier, publicada por La Vie, 18-08-2021. A tradução é de André Langer.
Esta mulher, muito engajada no universo da ação social de Nantes, conhece bem o refugiado ruandês. Com seu esposo, Didier Brousse, um ex-pastor protestante, ela o hospedou durante alguns meses em 2015. Na época, Emmanuel Abayisenga participou das oficinas de inserção por ela organizadas. “Ele era um modelo para os outros: chegava na hora certa e comunicava com antecedência quando não podia vir”, lembra. A sobrinha deles, Cécile Murray, que testemunhou sua forte amizade em sua página do Facebook, deu-lhe aulas de francês.
Depois de uma negativa administrativa quanto à sua regularização, Emmanuel não tinha mais onde dormir. Odile e Didier Brousse, que moram em uma casa compartilhada com famílias cristãs no bairro de Alouettes, em Nantes, decidem acolhê-lo durante alguns meses. Em troca de moradia em um motor home, Emmanuel faz pequenos trabalhos para a comunidade. Ele separa os vegetais estragados para a mercearia solidária e revira o solo da horta.
“Ele estava sempre disposto a fazer o que lhe era pedido”, lembra Didier. Eles compartilham momentos emocionantes de oração, como nessa tarde em que seu pedido de asilo foi novamente recusado. Na sala de orações, decorado com um estandarte de tecido com a inscrição “Deixe o Rei da Glória entrar”, Emmanuel se ajoelhou. Seus amigos o cercam de afeto.
Ele foi morar em outro lugar, hospedando-se principalmente com os franciscanos idosos em Nantes. Os laços com o casal não são rompidos. Após ser agredido no final de 2019 na praça da catedral, é à porta deles que Emmanuel vem bater. “Ele estava com os óculos quebrados, as bochechas arranhadas e suas palavras eram confusas. Nós não medimos sua angústia e, sem dúvida, a reativação de traumas antigos. Estávamos todos muito ocupados”, lamenta Odile.
O incêndio na catedral de Nantes, em julho de 2020, coloca Emmanuel novamente no caminho dos Brousse. Como capelão do centro de detenção de Nantes, Didier o vê uma vez por semana, durante o tempo da sua prisão preventiva. Ele comentava que “não comia mais e ficava dizendo ‘Eu me tornei novamente um bebê’. Ele deveria ter sido melhor acompanhado do ponto de vista psiquiátrico”.
Diante do trágico acontecimento, os Brousse ainda acolheriam Emmanuel? Odile responde que ela só quer uma coisa: que “Emmanuel possa receber o perdão de Deus”. A comunidade está, em todo caso, construindo uma casa para, com o tempo, acolher jovens em dificuldade.
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O casal que abrigou o suposto assassino do padre Olivier Maire - Instituto Humanitas Unisinos - IHU