Dois célebres economistas, ambos agraciados com o prêmio do Banco da Suécia por serem adeptos dos métodos, mas não dos resultados, liberais, da teoria dominante. Dois economistas muito políticos.
A reportagem é de Gilles Dostaler e Steven Coissard, publicada por Alternatives Économiques, 12-08-2021. A tradução é de André Langer.
Em 2 de julho de 2002, Tom Dawson, porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), anunciou durante sua coletiva de imprensa semanal que o Fundo exigia um pedido de desculpas de Joseph Stiglitz por seus repetidos ataques à instituição: “O número de suas declarações é absolutamente abominável e muitos dos seus comentários em seu último livro também são abomináveis, e aguardamos um pedido de desculpas”.
O livro em questão é A globalização e seus malefícios (Futura, 2002), publicado por Joseph Stiglitz logo após sua renúncia como vice-presidente e economista-chefe da instituição irmã do FMI, o Banco Mundial.
“Rebelde interno”, Joseph Stiglitz começou a criticar as políticas do Banco Mundial e do FMI antes de deixar a instituição, saída decidida porque o Tesouro dos Estados Unidos estava pressionando para que ele fosse silenciado. Este livro, traduzido para 35 idiomas e que vendeu mais de um milhão de cópias, é de fato uma acusação implacável contra as políticas dessas instituições. Depois de deixar o Banco Mundial, o economista criou e preside a Initiative for Policy Dialogue, uma organização fundada na Universidade de Columbia para explorar perspectivas alternativas para a globalização e o desenvolvimento.
Para Joseph Stiglitz, as organizações criadas pelos acordos de Bretton Woods traíram sua missão, e Keynes, um dos atores desta criação, se reviraria no túmulo se visse o que se tornaram hoje.
Apoiando-se no chamado Consenso de Washington, fundado no neoliberalismo e no fanatismo do mercado, elas não só deixam de contribuir para a estabilidade financeira internacional e a erradicação da pobreza, como agravam a perigosa situação em que o mundo hoje se encontra. Isso porque as regras do jogo em escala internacional são definidas pelos países dominantes, pelas empresas multinacionais e pelos grandes bancos de acordo com seus interesses, com os Estados Unidos obviamente ocupando o primeiro lugar. Defendendo o livre comércio para o resto do mundo, os Estados Unidos, por sua vez, protegem a sua economia.
Joseph Stiglitz mostra como as restrições orçamentárias impostas pelo FMI nos países asiáticos e na Argentina contribuíram para a deterioração de suas economias, aumentando as desigualdades e reduzindo recursos para a educação e os programas sociais. Ele ataca com igual vigor a terapia de choque, com suas privatizações aceleradas, impostas na ex-URSS. Tom Dawson ficou particularmente indignado com uma entrevista em que Joseph Stiglitz acusou o FMI de encorajar o terrorismo ao cortar fundos para a educação no Paquistão, o que forçou as crianças pobres a frequentar as escolas corânicas.
Joseph Stiglitz, que apresentou suas teses no Fórum Social Mundial em Mumbai em 2004, acredita que os protestos antiglobalização tiveram um efeito positivo. Eles levaram vários jornalistas a viajar para países afetados pelas consequências negativas da globalização e ver se as críticas dos manifestantes eram justificadas. A globalização, assim como é imposta, agrava as desigualdades, favorece os grandes interesses financeiros e industriais em detrimento dos cidadãos, elimina a diversidade cultural e destrói o meio ambiente. Além disso, o economista dedicou vários textos a este último problema.
No entanto, não é a globalização em si que se deve condenar, segundo ele, mas a forma como é implementada e as organizações responsáveis por ela. A globalização deve ser totalmente repensada para ajudar os países pobres a sair de sua miséria, ao invés de servir como um canal para a transferência de riqueza dos países pobres para os países ricos. É isso que Joseph Stiglitz desenvolve em seu livro, Un autre monde: contre le fanatisme du marché (ed. Fayard, 2006).
Repensar a globalização significa repensar as relações entre o Estado e o mercado. Joseph Stiglitz acredita, na esteira de Keynes, que é urgente definir o que ele chama de “terceira via”, entre o neoliberalismo e a coletivização completa da economia, que se mostrou ineficaz. Não há mão invisível, e a intervenção do Estado pode muitas vezes dar resultados melhores do que o livre mercado. Entretanto, atualmente são os fanáticos do mercado que dão as cartas. As consequências da liberalização financeira e da especulação são catastróficas.
Assim como tirou as lições de sua experiência no Banco Mundial em A globalização e seus malefícios, Joseph Stiglitz retorna, em Os exuberantes anos 90 (Companhia das Letras, 2003), sobre o que viveu como membro e presidente do Conselho de Consultores Econômicos de Bill Clinton. Também aqui a situação é gritante, apesar de o governo Clinton não ceder às sereias do neoliberalismo tão completamente como os que o precederam e o sucederam.
A desregulamentação, acentuada no governo Bush, exacerbou os problemas financeiros e alimentou os enormes escândalos que abalaram o mundo dos negócios estadunidense, enquanto os cortes de impostos favoreceram principalmente os ricos, em detrimento da cobertura social para os menos favorecidos. A situação financeira dos Estados Unidos também é agravada pela guerra no Iraque – guerra que só beneficiou as indústrias militares e petrolíferas –, que Joseph Stiglitz estimou ter tido um custo muito mais alto ao oficialmente admitido.
O economista não é gentil nem com Alan Greenspan, o ex-chefe do Banco Central dos Estados Unidos. Ele considera que sua política monetária ajudou a preparar o atual colapso do mercado imobiliário, do qual, mais uma vez, os menos ricos são as primeiras vítimas.
Ao lado de suas publicações de cunho polêmico e político, Joseph Stiglitz produziu, desde o início da década de 1960, uma importante obra teórica, que lhe rendeu a Medalha John Bates Clark em 1979, concedida pela American Economic Association a um economista com menos de 40 anos por sua contribuição excepcional; ele também recebeu o Prêmio do Banco da Suécia em memória de Alfred Nobel em 2001.
Seus escritos teóricos apoiam suas posições políticas. Desde o início de sua carreira, ele está realmente convencido de que o mercado não funciona da maneira prevista pela teoria ortodoxa da oferta e da procura e do equilíbrio geral. Mais particularmente, ele acredita que a informação está longe de ser gratuita e circular livremente entre os agentes. As informações são quase sempre assimétricas, com alguns agentes melhor informados do que outros.
Foi no campo da economia da informação, da qual foi um dos fundadores, que Joseph Stiglitz deu várias de suas contribuições mais importantes. Ele mostrou, por exemplo, como um agente menos informado pode extorquir informações de um agente mais bem informado – o que ele chama de screening. As principais características das economias contemporâneas, como a existência de um desemprego involuntário ou o racionamento do crédito, não podem ser explicadas sem transformar de maneira significativa a análise ortodoxa, integrando as imperfeições do mercado, a concorrência imperfeita e as assimetrias de informação.
Seus trabalhos sobre a economia da informação e, de forma mais geral, suas reservas sobre a eficiência do mercado, levaram Joseph Stiglitz a lutar contra a nova macroeconomia clássica desenvolvida a partir da década de 1970 com base na ideia das previsões racionais e do equilíbrio contínuo dos mercados. Acusando essa escola de pensamento de basear a macroeconomia em uma microeconomia walrasiana irrealista, ele propõe, em vez disso, adaptar a microteoria à macroteoria. Este é o programa de pesquisa da chamada nova economia keynesiana. Ele a define da seguinte maneira:
“A nova economia keynesiana começa com as intuições básicas de Keynes. Mas ela reconhece a necessidade de se afastar mais radicalmente do quadro neoclássico e estudar muito mais profundamente as consequências das imperfeições dos mercados de capitais, imperfeições que podem ser explicadas pelos custos da informação” (“Keynesian, New Keynesian and New Classical Economics”, Oxford Economic Papers, vol. 37, 1987, p. 123).
Joseph Stiglitz interveio em vários outros campos da reflexão econômica. Ele se debruçou sobre o crescimento econômico e suas relações com o progresso técnico e a distribuição das rendas. Inspirado em Schumpeter, ele foi um dos pioneiros do ressurgimento das teorias do crescimento endógeno. Ele fez contribuições para a economia do desenvolvimento, a organização industrial, a economia do trabalho e a economia financeira. É autor de livros didáticos nos quais integrou suas teses.
Considerado o “enfant terrible” [Uchitelle, 1999] da ciência econômica, Paul Krugman tornou-se, nos últimos trinta anos, essencial tanto como economista teórico quanto como participante ativo no debate público sobre a globalização e as políticas econômicas. Essa fama se explica por suas posições polêmicas e liberais, no sentido anglófono do termo (1) e por seus trabalhos fundadores, especialmente nos campos da economia internacional e da geografia econômica.
A escolha do júri do Prêmio do Banco da Suécia de 2008 é bastante lógica a esse respeito, mesmo que não se enquadre na tradição devido à idade e às análises do laureado. Aos 55 anos, Paul Krugman é o mais jovem economista “nobilizado” individualmente (Arrow tinha 51 anos e Merton 53 quando ambos foram reconhecidos pelas pesquisas coletivas).
Além disso, enquanto a linha ortodoxa (neoclássica) da ciência econômica é geralmente recompensada, Paul Krugman é um criador de problemas inclassificável no que diz respeito às principais correntes da teoria econômica (clássico em sua abordagem do comércio internacional e keynesiano em questões de política interior).
Seu objetivo é tentar agir sobre o seu tempo, e a maneira de fazer isso é influenciar a esfera do político. Ele usa seu poder jornalístico e seu excepcional talento de popularização para ensinar lições de economia a líderes políticos, demonstrando que as soluções que eles propõem geralmente não estão de acordo com os fundamentos desenvolvidos pela ciência econômica.
Essa estratégia de confiança absoluta nas virtudes do raciocínio econômico lhe rendeu muitos inimigos entre os não economistas e, paradoxalmente, o afastou ainda mais da tradição ortodoxa.
A nova teoria do comércio internacional teve sua origem em um escritório na Universidade de Yale no final dos anos 1970, quando Paul Krugman iniciou sua carreira como jovem professor. Ainda no escuro em relação ao rumo de suas pesquisas, o economista confirma, durante uma discussão com Rudiger Dornbush, sua intuição de que levar em conta rendimentos crescentes e a concorrência imperfeita poderia melhorar significativamente a compreensão do comércio internacional.
Tradicionalmente, o comércio internacional tem sido analisado em termos de diferenças de produtividade entre países, seja pela aplicação de vantagens comparativas (Ricardo), seja pela heterogeneidade na dotação de fatores (Heckscher-Ohlin, depois Samuelson).
O modelo ricardiano explica o comércio internacional comparando as diferenças de produtividade entre os parceiros comerciais. Os países exportam bens para os quais não possuem uma vantagem absoluta (Smith), mas sim uma vantagem comparativa, de sorte que cada país participante do comércio internacional se beneficie desse comércio. Os benefícios do comércio são então facilmente identificáveis pela queda nos preços dos bens comercializados.
No entanto, o modelo ricardiano não permite compreender os efeitos do comércio sobre a distribuição das rendas dentro de um país. Por essa razão, Eli Heckscher, Bertil Ohlin e depois Paul Samuelson o enriqueceram para distinguir os diferentes impactos do comércio nos setores importadores e exportadores. Sua abordagem destaca o fato de que o comércio produz vencedores e perdedores dentro de uma nação, apesar, em última análise, de uma situação geral melhor.
Apesar dessas renovações, os economistas estavam cientes de que a teoria tradicional não era mais capaz de descrever a evolução do comércio de hoje. No entanto, foi apenas no final da década de 1970 que um jovem economista, com apenas 26 anos, começou a juntar as diferentes peças do quebra-cabeça [Krugman, 1979].
Para construir a caixa de ferramentas da nova teoria do comércio internacional, Paul Krugman apoia-se em três referências teóricas principais: os retornos crescentes e a análise smithiana, a visão marshalliana de economias de escala e a análise da economia industrial de Chamberlin. A unificação foi alcançada em 1985 em uma obra em coautoria com Elhanan Helpman e que ainda hoje é referência: Market Structure and Foreign Trade: Increasing Returns, Imperfect Competition, and the International Economy. Isso ajuda a explicar as razões pelas quais o comércio se desenvolve primeiro entre países com dotações idênticas de fatores (comércio Norte-Norte ou Sul-Sul), depois no comércio intra-ramos (troca de bens com características comuns ou que satisfazem a mesma necessidade) e, finalmente, no comércio intra-empresa (papel das empresas multinacionais e de suas subsidiárias).
Por outro lado, além de fornecer um novo arcabouço teórico para explicar o comércio, a nova teoria do comércio internacional também melhora a compreensão do processo de especialização internacional. Na ausência de vantagens comparativas (Ricardo), os retornos crescentes e as economias de escala desempenham um papel determinante. Adam Smith já havia considerado o papel dos retornos crescentes e afirmou que duas nações têm interesse em se especializar e em comercializar, mesmo que produzam bens idênticos, porque o aumento da produção induzido pela abertura gera ganhos de produtividade (economias de escala ou efeitos de aprendizagem).
Assim, de acordo com a política comercial estratégica proposta por Paul Krugman e diretamente resultante de sua nova abordagem, a intervenção do Estado pode se mostrar positiva se conseguir capturar as rendas induzidas pela concorrência imperfeita.
O economista explica essa situação estudando o famoso exemplo da competição no mercado da aviação. As premissas de seu modelo são simples: duas empresas (Airbus e Boeing), um produto para o qual não há demanda interna (nos países de origem das empresas) e um novo bem (um avião de 150 lugares). Ele mostra que, ao subsidiar a Airbus antes que a empresa americana tenha decidido produzir o novo avião, as autoridades europeias conseguem eliminar a Boeing da produção do novo bem.
Argumentos desse tipo levaram a um recrudescimento de ataques ao livre comércio, fornecendo aos defensores do protecionismo uma base teórica que eles nunca foram capazes de estabelecer. De fato, se os retornos crescentes e as razões históricas podem estar na origem do comércio internacional, os governos podem tentar tornar essas circunstâncias favoráveis à sua nação. Uma vez estabelecida, a estrutura de especialização é autossustentável sob o efeito de economias de escala externas e através da acumulação de ganhos advindos do comércio.
Paradoxalmente, a principal contribuição de Paul Krugman para a nova política comercial estratégica não está em seus modelos, mas em sua reviravolta teórica operada no início da década de 1990. Ciente do escopo de suas análises, ele sempre se manteve muito cauteloso quanto às condições de sua aplicação. Assim, ele escreve que “vários anos de pesquisa teórica e empírica deixaram claro que o argumento estratégico, embora engenhoso, deveria ser apenas de importância secundária” [Krugman, 1994, p. 26]. Sem rejeitar os argumentos a favor de uma política comercial e industrial mais nacionalista, ele adverte que estes devem “ser vistos com grande cautela” [Krugman, 1998a, p. 114].
Finalmente, se a política comercial estratégica tem estado na origem de múltiplos ataques ao livre comércio, “a introdução de retornos crescentes e da concorrência imperfeita na teoria apenas reforça a ideia de que o comércio é sempre benéfico” [Krugman, 1998a, p. 199]. Na verdade, os parceiros comerciais se beneficiam da abertura, pois, ao se especializarem em diferentes bens, eles se beneficiam de uma maior variedade de bens disponíveis e de melhores escalas de produção. O livre comércio não pode ser visto como uma política ultrapassada. Ela permanece em si, ceteris paribus, a melhor expressão das políticas aplicáveis [Krugman, 1987], mas perdeu para sempre sua “inocência” quanto à sua eficácia indiscutível em todas as situações.
Em última instância, as análises de Paul Krugman fornecem um conjunto abrangente de modelos sobre o comércio internacional. Com base nisso, ele possui argumentos significativos para responder a eventuais ataques ao livre comércio ou a favor de uma política comercial agressiva e pode rejeitar, do ponto de vista teórico e prático, a maioria dos argumentos protecionistas. Nessas condições, se os últimos trinta anos foram, sem dúvida, os mais frutuosos em termos de pesquisa em economia internacional, deve-se “infelizmente concluir que o estudo de todas essas inovações não é uma prioridade para os alunos que iniciam seus estudos hoje [...]; são sempre os raciocínios de Hume e Ricardo que devem constituir a maior parte do que lhes é ensinado” [Krugman, 1998a, p. 124].
Em sua busca contínua para “dar sentido à complexidade confusa do mundo real” [Krugman, 1992], Paul Krugman aplicou, no início dos anos 1990, a caixa de ferramentas da nova teoria do comércio internacional a um campo amplamente ignorado pelos economistas, a geografia. Segundo ele, é o coração do processo da criação de riqueza econômica e comercial de um país. Para uma nação tão grande como os Estados Unidos, a distribuição da produção entre as regiões é certamente uma questão tão importante quanto o comércio internacional. Por conseguinte, questiona-se sobre os motivos da aglomeração das atividades em uma região, enquanto outras desempenham o papel de periferia (modelo centro-periferia). A nova economia geográfica resultante de seus trabalhos permite explicar ao mesmo tempo os determinantes da concentração e da localização, as origens de um desenvolvimento desigual, mas também as crises.
De fato, os fatores subjacentes à nova teoria do comércio internacional, de modo especial a interação entre os retornos crescentes e os custos de transporte, ajudam a explicar o desenvolvimento desigual em grande escala. Uma região, ao iniciar sua industrialização mais cedo por causa de condições iniciais favoráveis ou por causa da história (“acidentes históricos”), atrai todas as capacidades industriais de outras regiões.
Por outro lado, segundo Paul Krugman, a economia geográfica é essencial para determinar a origem das crises que não têm, a priori, uma causa precisa. Para isso, ele utiliza o caráter auto-organizador da economia, tomando o exemplo da formação dos furacões e dos embriões para definir o princípio da “ordem a partir da instabilidade”. Na verdade, ele se propõe a descrever a economia como um sistema complexo onde “o acaso e a ordem parecem evoluir espontaneamente para uma ordem inesperada” [Krugman, 1998b, p. 10]. Embora tenha várias limitações [Coissard, 2007], esta nova abordagem geográfica tornou-se a condição sine qua non para qualquer estudo da localização das atividades no espaço.
Esta dupla contribuição para a ciência econômica (comércio e geografia) e para a explicação do funcionamento da economia real pesou amplamente na escolha do júri para o prêmio do Banco da Suécia de 2008, mesmo que, nos últimos dez anos ou mais, Paul Krugman tenha abandonado o campo teórico.
O segundo ponto de inflexão na carreira de Paul Krugman veio no verão de 1982, quando o professor Martin Feldstein, na época presidente do Conselho de Consultores Econômicos, pediu-lhe para se tornar o chefe do setor da economia internacional. Graças a uma licença excepcional concedida pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), Paul Krugman ingressou no governo Reagan e trabalhou por um ano no Old Executive Office Building, localizado em frente à Casa Branca. Essa experiência permite-lhe compreender a real natureza do processo de política econômica.
Durante este ano no serviço público, ele ficou surpreso com a falta de compreensão das questões econômicas básicas por parte dos altos funcionários do Estado, que muitas vezes preferem conselhos não questionadores a análises aprofundadas. Mais tarde, após uma conferência em 1992, ele percebeu que a maioria dos economistas almeja muito ao escrever para um público intelectual. Assim, eles se isolam de “todo um público que prefere ser persuadido por homens muito seguros de si” [Krugman, 1998a, p. 10], mesmo que o que eles estão propondo não tenha relação com a realidade. Perdendo todas as ilusões de que bons argumentos poderiam melhorar a discussão da política interna, Paul Krugman forja através do trabalho um novo talento, uma capacidade de participar da vida econômica resolvendo escrever em linguagem simples para atingir um grande público.
A partir do final da década de 1990, ele baniu as equações, os diagramas ilegíveis, o jargão econômico que apenas os doutores em economia podiam entender. Para evitar que as más ideias venham a perseguir as boas ideias econômicas, afirmou, é essencial que sejam apresentadas de forma clara, para que sejam acessíveis a um vasto público. Assim, nos últimos anos, Paul Krugman tem se concentrado essencialmente em defender o livre comércio, os benefícios da globalização e em denunciar a má gestão da política americana. Embora esteja à margem dos círculos de poder, seus livros (La mondialisation n’est pas coupable ou L’Age des rendements décroissants, publicados em 2000) e suas colunas no New York Times lhe conferem o status de conselheiro informal da política econômica americana e contribuíram amplamente para restaurar a imagem de clareza da ciência econômica.
“O termo americano ‘liberal’, ao contrário da expressão francesa ‘liberal’, designa os economistas e políticos favoráveis à intervenção do Estado para garantir oportunidades iguais, proteger os desfavorecidos e melhorar o desempenho econômico” [Krugman, 1998a, p. 35].