O vigor da recuperação americana, que já dura dois anos, parece estar diminuindo, à medida que consumidores e o governo cortam seus gastos. É o que dizem cinco de nove economistas da comissão acadêmica responsável pela datação das recessões nos EUA.
A reportagem é de
Steve Matthews, da Bloomberg, e reproduzida pelo jornal
Valor, 04-08-2011.
"Essa economia está realmente em equilíbrio precário", disse ontem
Martin Feldstein, professor de economia da Harvard University e membro da comissão de datação dos ciclos econômicos do Birô Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER, na sigla em inglês), em entrevista ao programa "Surveillance Midday", na Bloomberg Television. "Existe agora uma chance de 50% de que poderemos entrar novamente em recessão. Nada nos deu muito crescimento."
Uma desaceleração maior do que a esperada no primeiro semestre de 2011 cria riscos para a maior economia do mundo, disse o economista
Robert Hall, da Universidade Stanford, presidente da comissão. O PIB cresceu a uma taxa anual de 1,3% de abril a junho, após um avanço de 0,4% no trimestre anterior, inferior à estimada anterior, é o que mostraram números do Departamento de Comércio em 29 de julho.
"Quanto mais lenta a taxa de crescimento, maior a probabilidade de que um choque adverso possa deflagrar uma recessão", disse Hall em entrevista.
Embora não seja missão da comissão prever a probabilidade de uma recessão, cada membro pode fazer suas próprias previsões, disse
Hall. A comissão levou mais de um ano para determinar que a mais profunda contração desde os anos 1930 terminou em junho de 2009, uma conclusão a que chegou em setembro de 2010.
O PIB encolheu 5,1% do quarto trimestre de 2007 ao segundo trimestre de 2009, em comparação com a queda anteriormente reportada de 4,1%, segundo divulgou o Departamento de Comércio na semana passada. A segunda pior contração no pós-Segunda Guerra Mundial foi um declínio de 3,7% em 1957-58.
"Os riscos de mais uma recessão cresceram, em comparação com onde estávamos seis meses atrás", disse
Christina Romer, ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca e professora da Universidade da Califórnia, Berkeley, em entrevista ao programa "Street Smart",, na TV Bloomberg, em 1º de agosto. Ela, porém, previu um crescimento, "anêmico, mas positivo".
Membros da comissão citaram o esfriamento da confiança nos setores de habitação, emprego e negócios e esforços para reduzir o endividamento por parte dos consumidores e do governo como obstáculos ao crescimento. Quatro acadêmicos na comissão negaram-se a sugerir as chances de uma recessão ou não responderam a pedidos de comentários.
Os gastos dos consumidores caíram inesperadamente, em junho, pela primeira vez em quase dois anos, ao passo que a taxa de poupança cresceu, é o que revelaram ontem números do Departamento de Comércio, em Washington.
"O consumo está baixo porque o pagamento de dívidas está espremendo os gastos, mesmo tanto tempo após a crise", disse Hall. "Será um processo doloroso, até que consumidores dependentes de crédito fiquem de novo em pé."
Os fabricantes estão contendo sua produção em resposta à fraca demanda do consumidor. A atividade industrial nos EUA quase parou em julho, segundo um relatório do Institute for Supply Management (ISM) de 1º de agosto.
A taxa de desemprego provavelmente permaneceu em 9,2%, em julho (o Departamento de Trabalho divulga o dado nesta sexta). Até junho, a economia recuperou cerca de 1,77 milhão de 8,75 milhões de postos de trabalho perdidos em consequência da recessão que começou em dezembro de 2007 e que durou 18 meses.
"Estamos certamente numa situação mais vulnerável agora", e um novo choque pode causar uma crise semelhante à contração ocorrida na esteira da disparada do petróleo após a invasão do Kuait pelo Iraque, em 1990, disse James Stock, economista de Harvard e membro da comissão do NBER. "Olhando a situação mundial, é certamente possível imaginar choques da magnitude do caso do Kuait que nos empurrem para o precipício".
A confiança dos empresários foi abalada pelo impasse político, que durou meses, sobre o teto de endividamento, disse
Stock.
O presidente
Barack Obama assinou ontem um acordo, incorporando mútuas concessões (de republicanos e de democratas) sobre o limite de endividamento, evitando um default americano. A medida eleva teto de dívida do país até 2013 e incorpora ameaças de cortes automáticos de despesas, para impor US$ 2,4 trilhões em redução de gastos nos próximos 10 anos.
"O debate sobre o teto da dívida americana realmente minou a confiança de consumidores e empresas, além de criar incertezas", disse
Stock. "A solução das incertezas resultante do acordo não restaurou a imagem de competência legislativa na gestão econômica."
Os cortes nos gastos do governo serão um entrave ao crescimento em 2012, disse
Jeffrey Frankel, outro professor de Harvard que atua na comissão da NBER. Embora os riscos de recessão tenham aumentado, "não cresceram, necessariamente, o suficiente para levar a probabilidade para mais de 50%".
"O governo é uma fonte de contração neste ano", disse ele. "O estímulo fiscal está sendo retirado nas esferas federal, estadual e local."
Robert Gordon, membro da comissão e professor na Northwestern University (e que não estimou a chance de recessão), e Feldstein concordaram que a "ressaca" da bolha no mercado habitacional continua a assolar a economia. "Há um vasto excedente de oferta habitacional que esmagou qualquer chance de recuperação na construção residencial", disse
Gordon.
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Economistas veem risco elevado de recessão nos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU