12 Agosto 2021
O líder da Conferência dos Bispos Poloneses acusou o governo de usar a crise do coronavírus para restringir a democracia e aumentar suas “aspirações autoritárias”, e cobrou dos líderes da Igreja para começarem a reafirmar sua “autonomia e soberania”.
A reportagem é publicada por The Tablet, 11-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Nós testemunhamos um tratamento sem precedentes à Igreja pelo Estado – unilateralmente suspendendo qualquer tipo de reunião e tornando missas e liturgias indisponíveis”, disse o arcebispo Stanislaw Gadecki, presidente da conferência. “Nada como isso ocorreu nos dois mil anos de história da Igreja, nem mesmo durante as guerras, bombardeios e pragas que frequentemente atingiram o povo do nosso país”.
Em um artigo para a Agência Católica de Informação da Polônia (KAI), o arcebispo disse que as restrições do governo violaram a Concordata da Polônia com Vaticano de 1993 e a constituição de 1997, pela falha em sustentar os direitos da Igreja ou cumprir com os requisitos legislativos e consultivos.
“Nós fomos informados de decisões que já foram tomadas, poucas horas antes que eles anunciaram, sem qualquer conversa sobre sua legitimidade ou proporcionalidade, ou qualquer diálogo”, acrescentou Gadecki. “A Igreja foi tratada pior que uma empresa comercial – como uma área não essencial para a vida. Governos passados nunca intrometeram o focinho na Igreja de formas drásticas, mostrando total desrespeito ao seu papel”.
Os líderes da Igreja em toda a Europa alertaram contra restrições permanentes aos direitos religiosos na onda dos lockdowns da covid-19, que restringiram, mas não encerraram os serviços religiosos na Polônia.
Em julho, a Comissão de Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE), sediada em Bruxelas, disse que a liberdade religiosa permanecia “um assunto para as autoridades nacionais” nos 27 estados-membros da UE, mas também foi convocada para que as políticas da UE se concentrassem na “re-expansão da liberdade de culto aos padrões pré-pandêmicos”.
Em seu artigo na KAI, o arcebispo Gadecki disse que a Igreja Católica aceitou algumas restrições para não “minar as decisões do Estado em uma situação excepcionalmente difícil”.
No entanto, ele acrescentou que as demandas por restrições religiosas vieram principalmente de “pessoas desfavoráveis à Igreja”, que não se opunham às “filas de caixa dos supermercados”, e disse que figuras proeminentes como o chefe dos jesuítas, padre Arturo Sosa, haviam alertado de que o governo tenta usar a covid-19 “para fortalecer as aspirações autoritárias e interromper os processos democráticos na tomada de decisões”.
A democracia poderia “ser vítima da pandemia”, a menos que a consciência cívica fosse rapidamente restaurada, disse o arcebispo Gadecki, junto com esforços determinados para restaurar a vida pastoral e sacramental gravemente danificada da Igreja.
“Limitar o acesso às igrejas era contrário à nossa própria Constituição e Concordata, e não era apoiado por estatuto – pode-se ter a impressão de que esses procedimentos foram realizados principalmente para mostrar aos padres que eles estavam sujeitos à autoridade do Estado”, disse o presidente da conferência episcopal polonesa.
“Depois do que passamos, agora é necessário um enorme esforço de evangelização. Esta é a tarefa mais importante para a Igreja de hoje, a ser assumida não só pelo clero, mas também pelos fiéis leigos chamados a participar na sua missão apostólica”.
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Arcebispo polonês critica medidas de prevenção à covid-19 que restringem missas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU