Manifesto apresenta a Idade Média como período de luzes

Foto: PxHere

Mais Lidos

  • Zohran Mamdani está reescrevendo as regras políticas em torno do apoio a Israel. Artigo de Kenneth Roth

    LER MAIS
  • “Os discursos dos feminismos ecoterritoriais questionam uma estrutura de poder na qual não se quer tocar”. Entrevista com Yayo Herrero

    LER MAIS
  • O filho de mil homens. Comentário de Daniel Brazil

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

05 Agosto 2021

 

Historiadores espanhóis participantes do seminário El Legado Medieval, realizado no Instituto de Historiografia Julio Caro Baroja da Universidade Carlos III de Madri, divulgaram manifesto enfatizando as contribuições que a Idade Média, tida como tempo das trevas, trouxe para a humanidade. “A Idade Média é uma época de luz”, destacou Maria Jesús Fuente, uma das organizadoras do evento.

A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.

“Pode-se dizer que vem sendo qualificado de ‘medieval’ tudo que tem relação com o atraso, a ignorância, a incultura, a insalubridade, a barbárie, a crueldade, o fanatismo, o horror, a miséria, a monstruosidade, a violência”, afirma o texto. Em tempos de pandemia o termo estigmatizado ganhou nova força para qualificar aspectos negativos. 

A má fama da Idade Média está presente na política, no jornalismo e na cultura popular, assinalam os 70 pesquisadores das principais universidades espanhóis que assinam o manifesto, reporta o jornalista Guillermo Altares, do El País. Fuente aponta Voltaire e o filólogo Alberto Montaner, um dos grandes especialistas em El Cid, como difamadores da Idade Média

Voltaire e Montaner criaram os piores tópicos sobre o período. Consideraram-no “a era do feudalismo no campo político e do obscurantismo no intelectual”. Assim, surgem as imagens de uma Idade Média de masmorras e calabouços inquisitórios. “Na verdade, a Inquisição, da forma como era conhecida no século XVIII teria surgido no início da Idade Moderna (no final do século XV), enquanto a caça às bruxas foi um fenômeno desconhecido na Idade Média e ocorreu entre os séculos XV e XVII”, assinala a coordenadora do evento. 

Nem mesmo Umberto Eco escapa da crítica da professora. Nas Notas sobre o seu romance O Nome da Rosa, o autor escreveu: “É desnecessário dizer que todos os problemas da Europa moderna, tais como os sentimos hoje, foram formados no período medieval: da democracia comunal à economia bancária, das monarquias às cidades, das novas tecnologias às rebeliões dos pobres.” 

Mas sem a Idade Média, repõem signatários do manifesto, não existiriam muitas línguas hoje faladas, medição do tempo, cidades, nem mesmo a influência dos clássicos romanos e gregos, resgatados nos mosteiros medievais

O castelhano, destaca Ricardo Córdoba, professor de História Medieval, é uma língua medieval. O método de contar as datas pelo ano do nascimento de Cristo e o uso de nomes de santos têm origem medieval, agrega. 

A professora especialista em História do Direito, Remedios Morán Martín, destaca o nascimento das Cortes, as primeiras convocadas em 1188, pioneiras como um órgão parlamentar, a criação de Conselhos, organismo assessor na condução de monarquias e que se transformaram nos atuais ministérios. 

Professora da Universidade de Valladolid, Isabel del Val, aponta para o papel da mulher na época, lembrando Duoda, personagem importante dos carolíngeos, que administrou uma fazenda. Ana Echevarría Arsuaga, da Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha, que pesquisa o papel de rainhas e minorias religiosas soma com a colega: “O direito da mulher desde o século XI até os séculos XV, XVI, permite uma gestão de propriedades sem paralelo em toda a Europa. As mulheres da época tinham mais possibilidades de administrar uma propriedade do que as do início do século XX.” 

Fica esquecido, frisa o manifesto, que “a Idade Média impregna o nosso cotidiano: o garfo, o papel-moeda, os óculos, o relógio mecânico, o livro, a imprensa e a água de rosas vêm daquela época”.

 

Leia mais