05 Agosto 2021
Historiadores espanhóis participantes do seminário El Legado Medieval, realizado no Instituto de Historiografia Julio Caro Baroja da Universidade Carlos III de Madri, divulgaram manifesto enfatizando as contribuições que a Idade Média, tida como tempo das trevas, trouxe para a humanidade. “A Idade Média é uma época de luz”, destacou Maria Jesús Fuente, uma das organizadoras do evento.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“Pode-se dizer que vem sendo qualificado de ‘medieval’ tudo que tem relação com o atraso, a ignorância, a incultura, a insalubridade, a barbárie, a crueldade, o fanatismo, o horror, a miséria, a monstruosidade, a violência”, afirma o texto. Em tempos de pandemia o termo estigmatizado ganhou nova força para qualificar aspectos negativos.
A má fama da Idade Média está presente na política, no jornalismo e na cultura popular, assinalam os 70 pesquisadores das principais universidades espanhóis que assinam o manifesto, reporta o jornalista Guillermo Altares, do El País. Fuente aponta Voltaire e o filólogo Alberto Montaner, um dos grandes especialistas em El Cid, como difamadores da Idade Média.
Voltaire e Montaner criaram os piores tópicos sobre o período. Consideraram-no “a era do feudalismo no campo político e do obscurantismo no intelectual”. Assim, surgem as imagens de uma Idade Média de masmorras e calabouços inquisitórios. “Na verdade, a Inquisição, da forma como era conhecida no século XVIII teria surgido no início da Idade Moderna (no final do século XV), enquanto a caça às bruxas foi um fenômeno desconhecido na Idade Média e ocorreu entre os séculos XV e XVII”, assinala a coordenadora do evento.
Nem mesmo Umberto Eco escapa da crítica da professora. Nas Notas sobre o seu romance O Nome da Rosa, o autor escreveu: “É desnecessário dizer que todos os problemas da Europa moderna, tais como os sentimos hoje, foram formados no período medieval: da democracia comunal à economia bancária, das monarquias às cidades, das novas tecnologias às rebeliões dos pobres.”
Mas sem a Idade Média, repõem signatários do manifesto, não existiriam muitas línguas hoje faladas, medição do tempo, cidades, nem mesmo a influência dos clássicos romanos e gregos, resgatados nos mosteiros medievais.
O castelhano, destaca Ricardo Córdoba, professor de História Medieval, é uma língua medieval. O método de contar as datas pelo ano do nascimento de Cristo e o uso de nomes de santos têm origem medieval, agrega.
A professora especialista em História do Direito, Remedios Morán Martín, destaca o nascimento das Cortes, as primeiras convocadas em 1188, pioneiras como um órgão parlamentar, a criação de Conselhos, organismo assessor na condução de monarquias e que se transformaram nos atuais ministérios.
Professora da Universidade de Valladolid, Isabel del Val, aponta para o papel da mulher na época, lembrando Duoda, personagem importante dos carolíngeos, que administrou uma fazenda. Ana Echevarría Arsuaga, da Universidade Nacional de Educação a Distância da Espanha, que pesquisa o papel de rainhas e minorias religiosas soma com a colega: “O direito da mulher desde o século XI até os séculos XV, XVI, permite uma gestão de propriedades sem paralelo em toda a Europa. As mulheres da época tinham mais possibilidades de administrar uma propriedade do que as do início do século XX.”
Fica esquecido, frisa o manifesto, que “a Idade Média impregna o nosso cotidiano: o garfo, o papel-moeda, os óculos, o relógio mecânico, o livro, a imprensa e a água de rosas vêm daquela época”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Manifesto apresenta a Idade Média como período de luzes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU