23 Julho 2021
A exposição da homossexualidade alheia, o desprezo pelas pessoas gays em geral, a confusão entre homossexualidade e pedofilia: no cerne de tudo isso, está uma homofobia profunda, mascarada como preocupação com a Igreja.
A opinião é do jesuíta estadunidense James Martin, SJ, colunista da revista America, consultor do Dicastério para a Comunicação do Vaticano e autor, em português, de “Jesus: a peregrinação” (Ed. Harper Collins) e “A sabedoria dos jesuítas para (quase) tudo” (Ed. Sextante).
O artigo foi publicado em sua página pessoal no Facebook, 22-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Talvez não seja surpreendente, mas eu fui atacado nos últimos dias por causa de meus comentários sobre a renúncia do Mons. Burrill, da USCCB [Conferência dos Bispos dos Estados Unidos] (então, de novo, eu provavelmente seria atacado se dissesse: “Deus te ama”). Obviamente, os padres que não vivem o celibato ou que usam aplicativos de “relacionamento” representam algo problemático de muitas formas.
Como um aparte, os membros de ordens religiosas fazem votos de castidade, e os padres prometem o celibato em suas ordenações (os padres de ordens religiosas – como eu – vivem tanto o voto quanto a promessa). Os membros de ordens religiosas e padres que não vivem de acordo com os seus votos e promessas são um sério problema moral.
Mas também o são as táticas imorais usadas pela The Pillar para expor a orientação gay do Mons. Burrill, assim como a falsa confusão entre homossexualidade e pedofilia (muitas mídias seculares também ficaram perturbadas com essas táticas). Portanto, ambas as coisas são problemáticas: as atividades do padre e a chamada “investigação”.
Já estou acostumado com os ataques nas redes sociais, e elas não me incomodam, mas também revelam algo essencial sobre a Igreja nos Estados Unidos hoje.
O volume e a crueldade dos ataques (“Você é o próximo, sua b*cha!”, “Estamos atrás de você, Jimmy”, “Quando você vai ser expulso do armário, seu sodomita?”) revelam o nível de homofobia na Igreja hoje. Porque quase todos os ataques vinham de usuários que se identificam como católicos.
Esse mesmo ódio era evidente no texto da The Pillar: a “saída do armário” do Mons. Burrill, o desprezo pelas pessoas gays em geral, a confusão entre homossexualidade e pedofilia, e assim por diante. No cerne de tudo isso, está uma homofobia profunda, mascarada como preocupação com a Igreja.
Artigos como esse, e táticas como essa, por parte de um sítio supostamente católico, dão a muitos católicos (e a outros) a permissão para odiar. Ou para odiar ainda mais.
E nada disso vem de Deus.
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“A homofobia e o ódio contra homossexuais não vêm de Deus.” Artigo de James Martin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU