Rezem juntos e riam em comum

Fonte: Religión Digital

16 Julho 2021

 

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 6,30-34, que corresponde ao 16° domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

 

Eis o texto.

 

A cena está cheia de ternura. Chegam os discípulos cansados do trabalho realizado. A atividade é tão intensa que já não «conseguiam arranjar tempo para comer». E então Jesus faz-lhes este convite: «Venham para um lugar tranquilo descansar».

 

Hoje nós cristãos esquecemos com demasiada frequência que um grupo de seguidores de Jesus não é apenas uma comunidade de oração, reflexão e trabalho, mas também uma comunidade de descanso e fruição.

 

Nem sempre foi assim. O texto que se segue não é de nenhum teólogo progressista. Foi escrito lá pelo século IV por aquele grande bispo pouco suspeito de frivolidades que foi Agostinho de Hipona.

 

«Um grupo de cristãos é um grupo de pessoas que rezam juntas, mas também conversam juntas. Riem-se em comum e trocam favores. Estão a brincar juntos, e juntos estão a falar a sério. Por vezes discordam, mas sem animosidade, como às vezes se está consigo mesmo, usando esse desacordo para reforçar sempre o acordo habitual.

 

Aprendem algo uns com os outros ou ensinam uns aos outros. Sentem falta, com pena, dos ausentes. Acolhem com alegria os que chegam. Fazem manifestações deste ou daquele tipo: faíscas do coração dos que se amam, expressas no rosto, na linguagem, nos olhos, em mil gestos de ternura».

 

Talvez o que mais nos surpreende hoje neste texto seja aquela faceta de cristãos que sabem rezar, mas também sabem rir. Sabem como estar sérios e sabem brincar. A igreja atual quase sempre parece grave e solene. Parece que como cristãos temos medo do riso, como se o riso fosse um sinal de frivolidade ou irresponsabilidade.

 

Há, no entanto, um humor e um saber rir que é um sinal de maturidade e sabedoria. É o sorriso do crente que sabe relativizar o que é relativo, sem necessidade de dramatizar os problemas.

 

É um sorriso que nasce da confiança última desse Deus que nos olha a todos com piedade e ternura. Um sorriso que se distende, liberta e dá força para continuar a caminhar. Este sorriso une. Os que riem juntos não se atacam nem se magoam, porque o riso verdadeiramente humano nasce de um coração que sabe compreender e amar.

 

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