23 Junho 2021
Uma série de catequeses inspirada na Carta aos Gálatas: foi o anúncio hoje do Papa Francisco na Audiência Geral. Na semana passada, o Pontífice concluiu o ciclo sobre a oração, ao qual dedicou 38 catequeses. "Espero que com este itinerário de oração tenhamos conseguido rezar melhor."
A reportagem é de Bianca Fraccalvieri, publicada por Vatican News, 23-06-2021.
Quarenta minutos: este foi o tempo que o Papa Francisco dedicou a cumprimentar e saudar os fiéis e peregrinos cada vez mais numerosos no Pátio São Dâmaso, onde se realiza a Audiência Geral. Não obstante o calor, Francisco não deixou de fazer brincadeiras, ouvir confidências, assinar teses e livros e abençoar quem se aperta para ter pelo menos um segundo da atenção do Papa.
Já diante do microfone, o Pontífice iniciou um novo ciclo de catequeses. O tema agora será inspirado no apóstolo Paulo, mais precisamente em Carta aos Gálatas.
“É uma Carta muito importante, diria até decisiva, não só para conhecer melhor o Apóstolo, mas sobretudo para considerar alguns dos temas que ele aborda em profundidade, mostrando a beleza do Evangelho. Parece escrita para os nossos tempos”, explicou o Pontífice.
Entre os temas a serem explorados nas próximas semanas, estão a conversão, a liberdade, a graça e o modo de vida cristão, mas a primeira temática abordada por Francisco foi a obra de evangelização realizada pelo Apóstolo, que visitou as comunidades da Galácia pelo menos duas vezes durante as suas viagens missionárias.
Sabe-se que os gálatas eram uma antiga população celta que, através de muitas vicissitudes, se estabeleceu na extensa região da Anatólia que tinha a sua capital na cidade de Ancira, hoje Ankara, capital da Turquia.
Paulo relata apenas que, por causa de uma doença, viu-se obrigado a permanecer naquela região - fato que indica que o caminho da evangelização nem sempre depende da nossa vontade e dos nossos projetos, mas requer a disponibilidade a deixar-nos plasmar e seguir outros caminhos que não estavam previstos.
Para o Papa, é interessante notar a preocupação pastoral de Paulo, pois havia muitos infiltrados semeando teorias contrárias aos seus ensinamentos, chegando ao ponto de o difamar. Como alguém dizia, notou o Pontífice, "vêm os abutres a destruir a comunidade".
“Como podemos ver, é uma prática antiga apresentar-se em certas ocasiões como o único possuidor da verdade e procurar menosprezar o trabalho dos outros, até com a calúnia”, afirmou.
Entre as intrigas, os adversários argumentaram que os Gálatas teriam de renunciar à sua identidade cultural e os mesmos se encontravam numa situação de crise. Para eles, que conheceram Jesus e acreditaram na obra de salvação realizada através da sua morte e ressurreição, foi verdadeiramente o início de uma nova vida, mas se sentiam desorientados e incertos sobre como se comportar e a quem ouvir.
“Pensemos em alguma comunidade cristã ou diocese: começam as histórias e depois acabam por desacreditar o pároco, o bispo. É precisamente o caminho do maligno, dessas pessoas que dividem e não sabem construir. E nesta Carta aos Gálatas vemos este procedimento”.
Uma situação que se apresenta também hoje, constatou Francisco:
“Ainda hoje, não faltam pregadores que, especialmente através dos novos meios de comunicação, se apresentam não para anunciar o Evangelho de Deus que ama o homem em Jesus Crucificado e Ressuscitado, mas para reiterar com insistência, como verdadeiros ‘guardiães da verdade’, qual é a melhor maneira de ser cristão.”
Estas pessoas afirmam que o verdadeiro cristianismo é aquele a que estão ligados, frequentemente identificado com certas formas do passado, e que a solução para as crises de hoje é voltar atrás para não perder a genuinidade da fé. Também hoje, como outrora, existe a tentação de se fechar em algumas certezas adquiridas em tradições passadas.
O traço distintivo dessas pessoas, segundo o Papa, é a rigidez: "Diante da pregação do Evangelho que nos torna livres, nos faz alegres, estes são rígidos".
Mas é o próprio Apóstolo que indica o caminho a seguir, e é o caminho libertador e sempre novo de Jesus Crucificado e Ressuscitado; é o caminho do anúncio, que se realiza através da humildade e da fraternidade; "os novos pregadores não conhecem o significado da humildade, da fraternidade"; é o caminho da confiança mansa e obediente, que os novos pregadores não conhecem, na certeza de que o Espírito Santo age em cada época da Igreja. "Em última instância, a fé no Espírito Santo presenta na Igreja nos leva avante e nos salvará."
A rigidez. Sempre a rigidez!
O Papa Francisco descrevendo os que se apresentam como os 'guardiães da verdade' referidos por Paulo na Carta aos Gálatas, afirma:
"Eles afirmam com força que o cristianismo verdadeiro é aquele a que eles estão ligados, muitas vezes identificado com certas formas do passado, e que a solução das crises hodiernas é retornar para trás para não perder o genuíno da fé. Também hoje, como no tempo de Paulo, existe a tentação de se fechar em algumas certezas adquiridas em tradições passadas.
Mas como podemos reconhecer este pessoal? Por exemplo, um dos traços do modo de proceder é a rigidez. Ante a pregação do Evangelho que nos torna livres, nos torna alegres, estes são rígidos. Sempre a rigidez: tu deves fazer isto, tu deves fazer aquilo... A rigidez é a característica deste pessoal.
Seguir o ensinamento do Apóstolo Paulo na Carta aos Gálatas nos fará bem para compreender qual é a estrada que seguiremos. A estrada indicada por Paulo é o caminho libertador e sempre novo de Jesus Crucificado e Ressuscitado; é o caminho da confiança humilde e obediente. Os novos pregadores não conhecem a humildade nem a obediência. E o caminho humilde e obediente avança na certeza que o Espírito Santo atua em todas as épocas da Igreja. Em última instância, a fé no Espírito Santo presente na Igreja, nos leva avante e nos salvará".
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O caminho libertador de Jesus é a resposta aos que se acham “guardiães” da verdade, apostando sempre na ‘rigidez’, afirma o Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU