18 Junho 2021
ROTA 42
"Eu já tive vontade de colocar o pé na estrada. Assim, meio sem rumo. Tirar as coisas do guarda-roupa, colocar de qualquer jeito dentro da mala e ir. Sem destino, sem hora para voltar."
Caio Fernando Abreu
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Sobre mito e história
Paulo J. S. Bittencourt
Professor do Curso de História da UFFS – Campus Erechim
Tal como a conhecemos hoje, a frondosa árvore da investigação histórica parece mesmo deitar suas raízes nas terras gregas do século V a.C. É o que reza a tradição mais difundida entre o pensamento ocidental. Desde os monumentais trabalhos de Heródoto de Halicarnasso (485-425 a.C.) e Tucídides (c. 460-c. 400 a.C.), o conhecimento da experiência humana no passado deixaria de ser tributário da cosmovisão mítica. E isso ao menos em termos estruturais. Mas esse processo se filiaria geneticamente a um movimento revolucionário no pensamento grego, não só similar, como também muito mais basilar em sua emergência. Refiro-me aqui à ruptura fundamental entre o mito e a razão operada por Tales de Mileto (c. 624-546 a.C.) e pelos filósofos jônios que lhe seguiram. De certa forma, Heródoto e Tucídides foram os “pré-socráticos” da Ciência Histórica.
É claro que essa ruptura não excluía, aqui e ali, a irrupção do fantástico. Nesse sentido, Heródoto não é somente um cronista atento. É também um poeta e um teólogo. Não vê as causas que conectam a trama dos acontecimentos, nem os concebe como condicionados por fatores naturais. Todas as coisas humanas têm por causa determinante o efeito e a influência do “daemon”, o gênio ou o espírito divino de determinadas entidades da natureza humana. Assim, a fé em Nêmesis, “daemon” que personifica o destino, o equilíbrio e a justiça divina, conferiria caráter eminentemente providencialista à obra de Heródoto. Mas o que nos pareceria, então, uma razão para censurá-lo, desponta antes como uma advertência para se evitar a injusta avaliação de sua obra pelos ditames da historiografia moderna. Heródoto se propõe a tecer, por meio de copiosíssimos materiais, uma exposição de pesquisas de caráter não só histórico, mas também geográfico e étnico, de modo a descrever costumes e religiões dos povos com os quais interagia o mundo grego. Sua atividade incansável, por exemplo, forneceu um manancial etnográfico sumamente intrigante sobre os citas, antigo povo indo-europeu de pastores-nômades e equestres que ocupavam a estepe pôntico-cáspia. Justamente sobre tais registros documentais se debruçou a erudita intepretação do historiador francês François Hartog, em “O espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro” (1980).
Sim, o fantástico se faz presente de quando em vez na obra de Heródoto. Mas a esse recurso o autor apelava unicamente naquelas descrições de fatos pretéritos cuja referência era assentada quer em testemunhos orais, quer em escritos de alguns de seus predecessores. Quando se tratava de ilustrar sucessos que lhe eram mais contemporâneos, Heródoto não hesitava em abrir mão do encadeamento mais ou menos lógico dos temas fabulosos, atendo-se, com impressionante exatidão, tão somente à narrativa mais singela de fatos humanos. É precisamente por essa atitude intelectual que Heródoto recebeu a alcunha de “Pai da História”.
Outras abordagens, no entanto, identificam o precursor do conhecimento histórico como oriundo da mesma região da Jônia, pátria dos mais antigos filósofos. Mais supreendentemente ainda, sua cidade de origem seria Mileto, aquela própria de Tales. Trata-se de Cadmos de Mileto, cuja obra teria florescido pouco antes da 60.a Olímpiada, em 540 a.C. Valendo-se do grande privilégio de que o dialeto jônico gozava, o primeiro a ser empregado na prosa devido às preocupações da inteligência grega, Cadmo teria gestado a crônica da fundação de Mileto.
Como se vê, a discussão atinente à paternidade da História suscita controvérsias. No entanto, não é tanto sobre esse impasse que gostaria de chamar a atenção.
O que pretendo mesmo enfatizar é o caráter das referências ao passado grego antes do surgimento dos logógrafos de Mileto ou de Heródoto de Halicarnasso. Para tanto, precisamos recuar aos tempos de Homero, que, de acordo com referências do próprio Heródoto, teria vivido em torno de 400 anos antes da época do “Pai da História”. Se a conjectura de Heródoto estiver correta, o poeta épico da Grécia Antiga, a quem tradicionalmente é atribuída a autoria da Ilíada e da Odisséia, teria vivido durante a transição dos séculos X a IX a.C. Já as estimativas contemporâneas privilegiam, para tanto, meados do século VIII a.C., período em que verificamos o surgimento dos primeiros registros a se utilizarem do alfabeto grego. Devemos lembrar que a língua que os historiadores denominam de “grego antigo”, em seus grupos dialetais, surgiu por volta de 1100 a.C., aproximadamente meio século após a invasão dórica e o colapso da civilização micênica. Não é à toa que a fase cujas origens se deram com acontecimentos tão turbulentos – quando do fim da Idade do Bronze Egéia – e que se encerrou com a ascensão das cidades-estados gregas foi justamente conhecida como o período da “Grécia Homérica” (1150-800 a.C.).
Muito antes das pesquisas de Heródoto, a poesia épica de Homero constituiu, pois, a fonte privilegiada para apreciação dos primórdios da civilização grega, uma fonte, contudo, majoritariamente circunscrita ao registro mítico. O impacto da literatura homérica tornou-se tão avassalador em termos de representação do passado grego que, depois de Heródoto, um sábio de grande erudição em muitos campos do conhecimento como Eratóstenes fixou o ano de 1184 a.C. para a queda de Tróia. Mais ainda, essa tradição literária condicionou mais recentemente até mesmo a busca arqueológica pela esplendorosa Tróia, cidade dizimada, de acordo com a Ilíada, pela coligação aqueia sob a liderança do rei micênico Agamémnon. Mas isso será assunto para a próxima edição desta coluna.
Ruy Braga
16 de junho. Aniversário de Henri Lefebvre. Principal sociólogo marxista de sua geração, Lefebvre foi expulso do PCF em 1958, ligando-se, a partir de então, a vários movimentos sociais revolucionários e críticos do stalinismo. Dialogou criticamente com Sartre, foi amigo de Georges Politzer e companheiro de luta de Gyorgy Lukács. Introduziu na França os "Manuscritos de 1844" e trabalhou o pensamento de Hegel em íntima conexão com o de Lênin. Sociólogo da vida cotidiana, do direito à cidade, da contradição entre o viver e o vivido e da revolução urbana, publicou como poucos - cerca de 70 livros -, influenciando intelectuais brasileiros como José de Souza Martins e Milton Santos. Por tudo que viveu, lutou e escreveu, merece ser lembrado.
120 anos de Henri Lefebvre, o autor da Revolução Urbana
Depois de amanhã, 19/06, muita gente vai voltar às ruas contra Bolsonaro. Não só contra ele, mas para exigir sua saída imediata, dada a situação catastrófica que seu governo produziu e a lista infindável de crimes que cometeu.
Essa é a galera que não está esperando que os líderes políticos resolvam os seus planos eleitorais, façam suas contas sobre o "sangramento" do minúsculo nas pesquisas, e decidam sobre a conveniência ou não de derrubá-lo. Essa é a turma que quer derrubá-lo AGORA, porque é uma emergência, independente da preferência eleitoral de cada um(a). Essa galera tem o meu apoio (infelizmente apenas à distância).
Quem for, capriche aí na máscara e nos cuidados sanitários. #ForaBolsonaro
Petistas repetem que Lula transformou o Brasil na sexta economia mundial, mas não sabem como isso aconteceu.
O ranking das economias é medido em dólar. Logo, PIB em R$ x cotação dólar = posição do Brasil no ranking.
Lula recebeu de FHC dólar a R$ 3,30 em 01/03. Em 2011, o "milagre" aconteceu, passarmos Inglaterra, França, Canada, etc e chegamos a sexta posição. Em 12/2011 o dólar estava R$ 1,76. Uma valorização do Real de quase 90% entre 2003 e 2011.
No período citado, o Brasil cresceu na ordem de 35% em termos reais em moeda nacional. Se o dólar se mantivesse no mesmo patamar que o PT recebeu, continuariamos sendo, em 2011, o que sempre fomos, algo entre a 9 e 12 economia mundial. Esse é o milagre petista explicado. Se quiserem saber porque o Real se valorizou tanto, posso explicar o "milagre" Meirelles-SELIC nos comentários.
Esta é mais uma lenda urbana do lulismo. A sobrevalorização do real impulsionou o consumo de bens importados (ou fabricados com componentes importados) e arrebentou a indústria brasileira.
Pegaram o Bolsonaro.
A maluquice dos remédios ineficazes era business.
À custa de 500 mil mortes.
Impedimento é pouco.
Crime de guerra, alta traição.
Farmacêutica revela à CPI que faturou R$ 142 milhões com remédios do “kit covid” em 2020
Tem mais carne debaixo desse angu. A compra de insumo pelo laboratório do exército, para fabricar cloroquina, aumentou muito em quantidade e em preços. O valor pago foi muito maior que o mesmo material comprado da mesma empresa no ano anterior. Conferido no Portal da Transparência.
Não acho que conseguiram desovar tudo, incluindo a que foi doada (?) pelos States. Aguardando o desfecho dessa novela.
A hegemonia dos economistas liberais dá nisso: seguimos as orientações do mercado e nos especializamos em nossas "dotações naturais".
No artigo "A nação de vontade fraca", de 2018, escrevi:
* * *
"Na moderna economia mundial, os países que enriqueceram acima da média são aqueles que dominaram atividades que operam com rendimentos crescentes, induzem maior divisão do trabalho, são mais propensas a absorver mudanças tecnológicas, se inserem em mercados imperfeitos, com grandes barreiras à entrada de competidores, e constituem fortes sinergias com atividades afins.
"Nunca a edificação de uma economia desse tipo foi comandada por cegos impulsos mercantis. Ela sempre resultou de projetos que associavam a busca de riqueza e poder. A indústria foi o setor por excelência em que essas características estiveram presentes. Mais recentemente, alguns segmentos do setor de serviços de alta tecnologia passaram a apresentar tais propriedades. Todos esses setores, em algum momento, foram fortemente apoiados por Estados nacionais.
"A outra ponta do espectro foi historicamente ocupada pelos países pobres, cujas economias, girando em torno da agricultura e da mineração, reproduziram as características opostas, permanecendo, por isso, estacionadas em graus menores de produtividade e de complexidade.
"É impossível transitar espontaneamente de uma configuração estrutural a outra, pois ambas se repõem e se reafirmam.
No século XX, o Brasil ocupou uma posição intermediária, mas vem perdendo posições nas últimas décadas, sofrendo processos de desindustrialização e de reprimarização de sua pauta exportadora.
Mais do que nunca, o país precisa voltar a ter um projeto nacional de desenvolvimento, que não poderá ser uma repetição da experiência anterior.
[...]
"Nosso lugar natural no sistema-mundo é muito periférico. O mundo quer de nós soja e outros alimentos, minério de ferro e outros minérios e, talvez, petróleo bruto, não muito mais do que isso. Tentamos alterar esse lugar no século 20, realizando um razoável esforço endógeno, mas nas últimas décadas perdemos a capacidade de fazer esse esforço. Tornamo-nos uma nação de vontade fraca, que aceita o lugar periférico que o sistema-mundo designou para nós. Esse é o pano de fundo da nossa infindável crise política e dos nossos estéreis debates em macroeconomia."
* * *
Com uma economia organizada assim, não há solução possível para a crise brasileira. Toda a política vira teatro.
Tá chegando!
Ladainha
(Solange do Carmo)
Livrai-nos, Senhor, da peste e da doença
Do genocida e de sua demência
Da negação da ciência
Do saber deixado de lado.
Libertai-nos, ó Jesus crucificado,
Do perverso e do malvado
Daquele Hitler piorado
Que precisamos botar fora.
Olhai por nós, Aparecida senhora,
Amparai-nos nessa hora
O genocida mandai embora
Pra bem longe de nosso terreiro.
Ó mártir Sebastião guerreiro,
Dos perseguidos, companheiro
Combatei em solo brasileiro
Por essa gente tão esquecida.
Valei-nos, Rita tão destemida
Livrai-nos do homicida
Dai-nos a coragem na defesa da vida
Pra ser luz na escuridão.
Ó Jorge que venceu o dragão,
Segurai-nos pela mão
Comandai nosso batalhão
Na luta contra os perversos.
Ó Miguel e anjos do universo,
Ajudai-nos a entoar esses versos
Nestes tempos adversos
Em que o mal anda à revelia
Santa Clara, clareai nosso dia
Tirai-nos dessa agonia
Dessa desoladora pandemia
Que banaliza a morte.
Francisco, dai-nos suporte
Pobrezinho, mudai nossa sorte
Fazei-nos ainda mais fortes
Contra o vírus da ignorância
Terezinha, santinha da nossa infância
Fortalecei-nos na militância
Livrai-nos do mal da ganância
Dai-nos coragem e resiliência.
Santos e santas, clemência
Dai-nos forte paciência
Pra lutar com insistência
Sem jamais desanimar.
A produção das commodities agrícolas demanda o uso massivo de agrotóxicos. “O uso em grande escala de pesticidas acompanhou a expansão de monoculturas como a soja no Brasil. Por esta razão, o uso de agrotóxicos no Brasil, um país do Mercosul para o qual temos dados detalhados, aumentou em ritmo extremamente acelerado nos últimos anos. Enquanto a área de cultura da soja aumentou 53,95% entre 2010 e 2019, o uso de pesticidas durante este período aumentou 71,46%!” , descreve o atlas de agrotóxicos de Larissa Lombardi. A exclamação é do texto original. Em 2019, o Brasil consumiu 620.538 toneladas de agrotóxicos. E aqui está outro aspecto da perda: o veneno causa problemas de saúde ao atingir as pessoas no nível das moléculas e causar doenças. Daí o conceito de “colonialismo molecular” também usado no atlas, uma guerra química contra nossos corpos sobre o qual Larissa fala nesta entrevista.
via Eduardo Izabel Bossi Edu
Ironias de vida
Há alguns dias teve grande repercussão o fato de um jovem negro ter sido acusado injustamente por um casal pelo roubo de um bicicleta elétrica.
Ficou evidente o caráter racista da acusação e o acusado reagiu com grande dignidade.
Agora a polícia prendeu o ladrão da bicicleta.
Como indica o seu apelido, "Lourão", ele é branco.
São dessas ironias da vida.
Polícia prende suspeito de furto de bicicleta elétrica que motivou abordagem de jovem negro no Rio
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