07 Junho 2021
Na antessala de seus 100 anos, que serão completados no próximo dia 8 de julho, o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin (1921) refletiu sobre “o momento único da história”, vivido pela humanidade.
A reportagem é de Virginia Bautista, publicada por Excélsior, 04-06-2021. A tradução é do Cepat.
O considerado “pai do pensamento complexo” alertou sobre a situação com conceitos como crise planetária, incerteza, destruição total e inteligência cega, mas, ao mesmo tempo, falou em metamorfose, amor, poesia, compreensão e força.
“Vivemos em meio a uma crise gigante, multidimensional, que atinge todos os aspectos humanos, a vida biológica, social, afetiva, pessoal e as relações. No entanto, nesta incerteza sobre o futuro, assim como existem perigos, há possibilidades de mudança”, afirmou categoricamente.
De Marrocos, aquele que ocupa um lugar de destaque no pensamento universal, por suas propostas sobre o imaginário coletivo e a transdisciplinaridade, recebeu emocionado o título de Doutor Honoris Causa conferido em cerimônia virtual pela Universidade Autônoma de Chihuahua (UACH), em coordenação com Multiversidad Mundo Real Edgar Morin.
O reconhecimento é “por ser uma referência mundial do pensamento crítico, transdisciplinar e humanista, cuja extensa obra é um legado para encontrar luz em meio às dificuldades de nosso mundo e para fazer da educação o eixo de transformação, igualdade e equidade”, mencionaram os organizadores.
Precedido pelas participações do filósofo Nelson Vallejo-Gómez, secretário-geral do Conselho Científico de Educação Nacional da França, e do professor Rubén Armando Reynaga, reitor da Multiversidad Mundo Real, Morin explicou que não poderia fazer um longo discurso, pois “estou cansado do coração e a medicina me impede de falar. Mas quero expressar meu amor pelo México, por sua civilização, por sua história. Todo o meu agradecimento e lembranças à nação mexicana, a seus professores, seus intelectuais, seus artistas”, destacou.
O ensaísta acrescentou que o difícil momento vivido hoje começou em 1947, com Hiroshima. “E seguiu com a descoberta da degradação da biosfera planetária, em 1972. Depois, foi desenvolvida essa ideologia messiânica chamada pós-humanismo, que prometeu uma metamorfose, uma mutação do poder, mas sem melhorar a compreensão entre pessoas, povos e nações”.
“Estamos em um momento em que existe a possibilidade de destruição total. Temos as piores circunstâncias: superpopulação, pensamento e vontade apenas de poder. Mas acredito que o pensamento complexo pode ajudar as mentes dos cidadãos, dos responsáveis, a enfrentar os problemas”, acrescentou.
O autor de O homem e a morte (1951) está convencido que o pensamento complexo, por meio do qual vê o mundo como um todo indissociável, pode ajudar “a encontrar uma nova via que permitirá à humanidade, aos povos e pessoas continuar a aventura humana em boas condições. “Porque nós traçamos uma aventura extraordinária. Mas existe uma confusão armada na incapacidade de entender as coisas, porque nossa inteligência está cega, reduzida, não vê as qualidades da vida, que são o amor, a poesia e a compreensão”, apontou.
Concluiu que o título de Doutor Honoris Causa “me dá mais força para continuar em meu caminho, que é o de toda a minha vida”.
Após o intelectual francês, tomaram a palavra Luis Alberto Fierro, reitor da UACH, e o governador de Chihuahua, Javier Corral, que mostrou o reconhecimento.
O primeiro disse que “diante da renovação universitária, os ensinamentos de Morin foram um guia. Ensina-nos que os saberes na educação jamais devem ser separados, pois são pilares do mesmo lugar. Propõe o conhecimento para a transformação do mundo”.
E Corral destacou que o legado de Morin “nos ensina a ser conscientes do outro, da condição humana, impulsiona-nos a uma ação transformadora, a uma consciência planetária”.
Edgar Morin se despediu sorridente, após pronunciar seu discurso em espanhol.
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Edgar Morin alerta sobre a crise planetária - Instituto Humanitas Unisinos - IHU