25 Mai 2021
Se passarem os olhos pela lista de clubes, seja de equipes da série A, B ou C, vai encontrar números fantásticos. Somados, os clubes da elite do futebol brasileiro devem 10 bilhões de reais, 3 bilhões só de impostos devidos ao governo federal, segundo levantamento da consultoria de Sports Value, divulgado por Leonardo Guimarães, da CNN Brasil, em janeiro deste ano.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Dá até para fazer Gre-Nal de números da dívida. O Grêmio aparece em nono lugar, entre os clubes mais endividados da série A, com uma conta negativa de 324 milhões de reais, e o Internacional em décimo lugar, com 318 milhões de reais. Lideram essa corrida o Corinthians, com 553 milhões, o Cruzeiro, com 538 milhões, e o Botafogo, com 514 milhões de reais.
Agora, virem a página: acompanhem as contratações e os salários milionários que esses mesmos clubes pagam a seus atletas e treinadores. Ela mostra, simplesmente, um péssimo exemplo à nação. Mas como se trata de proporcionar circo...
De acordo com o principal jornal esportivo da França, L’Équipe, o treinador da seleção brasileira de futebol desde a metade de 2016, Adenor Leonardo Bachi, mais conhecido por Tite, tem um salário mensal de 1,54 milhão de reais, cálculo de fevereiro do ano passado.
Peguem uma calculadora e vejam quantos anos um operário de salário mínimo teria que trabalhar para receber o que o técnico da seleção ganha num mês: 116,8 anos! Ou seja, no máximo alcançará a metade desse valor depois de 50 anos de vida produtiva!
Karl Marx dizia que a religião é o ópio do povo. Bom, o ópio também é o princípio ativo de anestésicos disponíveis no mercado dos fármacos. Ele aplaca a dor. Mas certamente Marx não sabia disso ainda. O futebol é, hoje, um ópio talvez nos dois sentidos, quando o país passa pela pior crise sanitária de todos os tempos.
Enquanto para o torcedor o futebol, o clube, a seleção é paixão, para o atleta trata-se de uma relação de trabalho, para dirigentes, talvez uma oportunidade de fazer um bom negócio. Futebol tornou-se um grande negócio, com atletas sendo tratados a pão de ló pelo clube, pela torcida, pela imprensa.
O clube estrutura-se, assim, como igrejas do ramo neopentecostal: os dirigentes são os bispos; os atletas, os pastores; a torcida, os fiéis.
Acabou nesse nível o esporte pelo esporte. Longe de representar aquele futebol lúdico em que o jogador sai da fábrica, do comércio, no final do expediente, vai até o campo treinar para enfrentar o adversário no torneio do próximo domingo, sem direito à massagem.
No esporte das multidões o torcedor, às vezes com dificuldade de passar o mês com o salário recebido, deposita o “dízimo” para o clube de coração. Será que se dá conta que com esse “dízimo” ele contribui para aumentar a injusta distribuição e renda, que ele próprio é uma vítima?
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Futebol também tem o seu “dízimo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU