Cardeal Michael Czerny diz que bispos individuais têm a palavra final sobre quem pode receber a Comunhão

Foto: Fotografia Religiosa CC

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10 Mai 2021

 

“Não cabe aos bispos em geral tomar essas decisões. Cabe ao bispo da pessoa em questão”, disse o cardeal Michael Czerny. Mas pelo menos um canonista argumenta que, quando se trata da Comunhão para chefes de Estado, na verdade, a decisão deveria caber ao próprio papa.

A reportagem é de Claire Giangravé, publicada por Religion News Service, 06-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Enquanto alguns bispos estadunidenses discutem a possibilidade de negar a Comunhão a políticos católicos como o presidente Joe Biden, por apoiarem políticas ligadas aos direitos ao aborto, um importante prelado vaticano disse que as decisões sobre a administração do sacramento dependem exclusivamente do bispo que dá a Eucaristia.

“Não cabe aos bispos em geral tomar essas decisões. Cabe ao bispo da pessoa”, disse o cardeal Michael Czerny, subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, em entrevista ao Religion News Service na quinta-feira, 6 de maio.

Os bispos dos Estados Unidos devem votar se vão encomendar um documento sobre a questão da Comunhão durante a sua reunião anual em junho, depois que bispos conservadores como o arcebispo Salvatore Cordileone, de San Francisco, argumentaram recentemente que autoridades eleitas devem ser impedidas de receber a Eucaristia pelas suas opiniões sobre o aborto.

Em uma carta pastoral no último sábado, Cordileone disse que as autoridades públicas que participam de “males morais”, como o apoio aos direitos reprodutivos, devem ser proibidos de receber a Comunhão.

Outros bispos descreveram a proibição da Comunhão como um “passo errado”. Em um artigo publicado na America Magazine na quarta-feira, o bispo Robert W. McElroy, de San Diego, alertou sobre as “consequências destrutivas” que tal decisão poderia acarretar para a unidade dos Estados Unidos e a compreensão dos católicos sobre o seu próprio merecimento de receber o sacramento.

“A Eucaristia está sendo usada como uma arma e empregada como um instrumento na guerra política”, alertou. “Isso não deve acontecer.”

Czerny é a autoridade mais alta do Vaticano a comentar a polêmica, e, em geral, Roma se absteve de comentar publicamente sobre o assunto. O Papa Francisco tendeu no passado a defender uma política inclusiva sobre a Comunhão, dizendo em sua exortação apostólica Evangelii gaudium, de 2013, que a Eucaristia “não é um prêmio para os perfeitos” [n. 47].

Czerny apontou para a “confusão” em torno dos debates sobre o fato de dar a Comunhão a políticos católicos que detêm posições contrárias ao ensino católico, acrescentando que os bispos individuais têm a palavra final nos casos em que há um “escândalo claro”.

Nos casos “em que o governo afirma que tem o apoio da Igreja para alguma medida que realmente não podemos aceitar de forma alguma, isso seria um exemplo em que o bispo teria que se posicionar”, disse o cardeal, “mas cabe para o bispo”.

Na diocese de Biden, em Wilmington, Delaware, o bispo eleito William E. Koenig já disse aos repórteres que espera discutir o assunto diretamente com o presidente.

A confusão sobre quem está autorizado a negar a Comunhão se estendeu aos canonistas. Em um artigo do dia 3 de março no Brooklyn Tablet, uma publicação católica, o D. Jonas Achacoso, doutor em Direito Canônico, explicou que só o papa pode decidir tais questões quando se trata de chefes de Estado. “Cabe unicamente ao próprio Romano Pontífice julgar” os casos referentes a “quem ocupa o mais alto cargo civil de um Estado”, argumentou Achacoso, citando o cânone 1.405 §1.

Mas o Pe. John Beal, professor de Direito Canônico na Universidade Católica dos Estados Unidos, disse que a análise de Achacoso não se sustenta, porque o cânone ao qual ele se refere só se aplica a questões judiciais, como as nulidades.

 

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