23 Abril 2021
“A decisão da Assembleia legislativa do Estado do Amazonas é realmente muito grave”. O padre jesuíta Paulo Tadeu Barausse, coordenador do serviço de ação e educação socioambiental da Amazônia, não usa meias palavras ao falar com o SIR desde Manaus, capital do Amazonas. O religioso está indignado, como muitos cidadãos de Manaus, com a votação com a qual a Assembleia local decidiu atribuir o título de "cidadão da Amazônia" ao Presidente da República, Jair Bolsonaro. Votação feita de forma repentina, com 11 votos a favor e um contra, no momento em que os ausentes eram numerosos. “Bolsonaro não é amigo nem de Manaus nem da Amazônia”, disse o deputado Serafim Correa, motivando seu voto contrário.
A reportagem é publicada por Serviço de Informação Religiosa - SIR, 22-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
De acordo com o programa das autoridades locais, Bolsonaro é esperado em Manaus nesta sexta-feira, 23 de abril, embora a visita possa ser adiada, já que o presidente está envolvido em conversas com o presidente norte-americano Joe Biden, justamente sobre políticas climáticas. “É uma escolha paradoxal - continua o padre Barausse - que esse título seja atribuído a quem teve tão grave responsabilidade pelo que aconteceu em Manaus. Todos temos presente a crise ligada à pandemia, de natureza sanitária, econômica, social e ambiental. Lembramos as inúmeras vítimas, os 370 mil infectados em um estado de 4 milhões de habitantes, as 12.500 vítimas, a falta de oxigênio. E foi decidido dar um título justamente a quem teve responsabilidade por isso. Parece-me uma grande contradição, inclusive levando em consideração o fato de que dos 62 municípios do estado, apenas 4 deram a maioria ao Bolsonaro nas últimas eleições”.
O jesuíta espera que haja espaço para que a Assembleia revise suas decisões: "Estamos tentando pressionar para que isso aconteça". De fato, muitas organizações da sociedade civil expressaram sua contrariedade à decisão da Assembleia do Estado, também por meio de uma dura nota assinada por dezenas de organizações. Existe também a possibilidade de que a decisão seja contestada do ponto de vista legal, visto que uma lei proíbe a atribuição de títulos honoríficos a titulares de cargos públicos.
Entretanto, após semanas em que a situação dos contágios se manteve sob controle, os números voltam a subir, ainda que moderadamente. “Sim, nos últimos dias houve um aumento - conclui o padre Barausse -, estamos preocupados que, depois das duas primeiras ondas dramáticas, possa chegar uma terceira, enquanto as vacinações continuam lentamente”.
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Coronavírus Covid-19: Assembleia de Manaus concede a Bolsonaro o título de “cidadão da Amazônia”. Pe. Barausse: “decisão muito grave” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU