08 Abril 2021
A tendência a abandonar o meio rural para se instalar na cidade perdura pelos séculos e, segundo todos os estudos, se intensificará no futuro. A população se aglomerará ainda mais em gigantescos núcleos urbanos, de costas para a natureza. Esta concentração afetará a nossa saúde, tanto física como mental.
A reportagem é de Manuel Ligero, publicada por La Marea, 06-04-2021. A tradução é do Cepat.
Há uma infinidade de artigos científicos que falam do impacto que uma má qualidade do ar tem sobre os nossos pulmões. Hoje, também sabemos que a ausência de fauna e espaços verdes pode incidir em nossa saúde mental. É o que sugere um estudo em parceria do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv), o Centro de Pesquisa sobre Biodiversidade e Clima de Senckenberg (SBiK-F) e a Universidade de Kiel, publicado na revista Landscape and Urban Planning.
“Uma pessoa que vive em uma região com muitas espécies diferentes de plantas e pássaros se sente melhor do que uma pessoa que vive em uma região com menor diversidade de espécies”, explica Joel Methorst, principal responsável pelo estudo.
Durante os momentos mais duros da pandemia de Covid-19, muitas pessoas chegaram a uma conclusão semelhante. Como explicar os sinais de assombro e alegria que brotaram, durante o confinamento de 2020, com as imagens (algumas reais e outras não) de animais que invadiam o ambiente urbano? Baleias e golfinhos se aproximaram das praias. Raposas, patos e até veados se deixaram ver pelas calçadas urbanas e as praias de alguns povoados. E essa visão, além da oportuna reflexão sobre a forma de viver dos seres humanos, difundiu uma inegável sensação de felicidade.
Graças a este estudo, o que era uma suspeita plausível possui, hoje, um fundamento mais científico. A pesquisa alemã foi realizada com uma amostra de 3.000 pessoas. Foram analisados seus dados de saúde física e mental, assim como a diversidade de espécies animais e vegetais de seus ambientes.
“Nossos resultados mostram que a conservação da natureza pode, de fato, ser entendida como um meio para promover a saúde humana”, afirma a professora de economia ambiental Katrin Rehdanz, da Universidade de Kiel. Os cientistas destacam uma tendência (um efeito positivo na abundância de flora e fauna), ainda que não possam estabelecer uma relação direta de causalidade com a saúde física.
Indiretamente, sim, haveria um vínculo: viver perto de espaços verdes predispõe mais a caminhadas e exercícios. E também se estudou seu efeito em relação ao surgimento de doenças. Hoje, já sabemos que a destruição de biodiversidade fomenta as epidemias. Frear esta devastação, além disso, seria cem vezes mais barato do que enfrentar surtos como o da Covid-19.
Um estudo recente realizado no Reino Unido demonstrou o efeito relaxante que olhar pássaros produz. Esta atividade, aparentemente neutra, pode aliviar a ansiedade e a depressão e atuar positivamente sobre a nossa saúde. Os resultados, publicados na revista Bioscience, apontaram que mesmo sem que se viva no campo, o fato de olhar aves proporciona bem-estar mental. Esta descoberta contrasta com um declínio radical em todos os âmbitos, tanto no rural como no urbano.
Na pesquisa realizada na Alemanha, dão mais destaque à diversidade de aves do que para a sua abundância. Ver pássaros, concluem, não é benéfico em si. O bom é ver muitos e de muitas variedades. “Isto pode se dar pelo fato de que as espécies mais abundantes são os pombos, as gaivotas e os corvos. E não são espécies muito populares”, sugere Joel Methorst.
Um caso de sucesso em ambientes urbanos foi a recuperação do Rio Manzanares, realizada por Madrid durante a administração de Manuela Carmena. A abertura das eclusas converteu um canal morto e estancado em algo parecido a um pântano vivo. O fluxo diminuiu, as águas começaram a se movimentar e surgiram pequenas ilhas de vegetação no leito do rio. Isso trouxe espécies de aves, répteis e peixes desaparecidas por décadas na capital.
Esperanza Aguirre, que então liderava a oposição, criticou duramente esta aposta na biodiversidade. Acusou Carmena de querer tornar o Manzanares em um “charco imundo”. Seu sucessor e agora prefeito, José Luis Martínez-Almeida, descumpriu suas promessas eleitorais e, por fim, decidiu não reverter as mudanças da administração anterior, nem no que concerne ao rio, nem no centro de Madrid, com o plano que restringe a circulação de carros pelo local.
Os pássaros, seja por seu número ou por sua classe, são um claro sintoma de saúde ambiental: indicam uma menor poluição aérea e acústica e, por isso, são escassos em torno das rodovias e em núcleos urbanos com tráfego intenso. Respeitar seus ambientes é benéfico para os seres humanos. “A gestão dos espaços verdes é particularmente relevante no planejamento das cidades. Investindo em biodiversidade podemos promover a saúde da população urbana”, conclui Katrin Rehdanz.
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Quanto mais biodiversidade, mais saúde mental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU