19 Março 2021
“Eu quero insistir no fato de que ninguém, nenhuma pessoa jamais será excluída do cuidado pastoral, do amor e da solicitude da Igreja”. O cardeal Kevin J. Farrell, Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, apresenta o Ano da Família Amoris Laetitia anunciado pelo Papa, que começará amanhã, solenidade de São José e quinto aniversário da publicação da exortação fruto do duplo Sínodo sobre a Família de 2014-15.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 18-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em transmissão por streaming da Sala de Imprensa do Vaticano, o cardeal dos EUA é questionado sobre a recente resposta da Congregação para a Doutrina da Fé que proíbe a bênção de casais homossexuais. Um documento que tem suscitado um acalorado debate no mundo laico e eclesial e também um aberto dissenso por parte de dioceses mais progressistas, onde essas práticas já estão em vigor, como os Estados Unidos e a Alemanha.
Farrell, também Camerlengo e presidente da Comissão de Assuntos Reservados, amortece o debate: “Considero que seja muito importante que todos entendamos que a vida pastoral da Igreja está aberta a todas as pessoas. É essencial que nós estejamos sempre de braços abertos para receber e acompanhar todas as pessoas em suas diferentes fases da vida e nas suas diferentes situações”.
Porém, para o purpurado, deve-se compreender que, quando a Igreja fala de matrimônio, faz uma distinção entre "matrimônio sacramental" e "uniões civis": "Não fala de outras formas de matrimônio". E esta distinção, diz Farrell, “é muito importante quando se fala de bênção dos matrimônios. A bênção é sacramental e, portanto, ligada ao sacramento do matrimônio”.
“Isso não significa que aqueles que estão casados apenas na Igreja recebam os benefícios do cuidado pastoral”, esclarece o chefe do dicastério. “Existem muitas situações pastorais diferentes no mundo atual, em qualquer paróquia. Ainda há pessoas que não podem ter plena participação na vida da Igreja, mas isso não significa que não devam ser acompanhadas por nós e pelas paróquias. Acompanhamos todas as pessoas”.
Certamente, diz Farrell, neste "Anno Amoris Laetitia" muitas dioceses "têm programas" para a pastoral dedicados aos casais do mesmo sexo. E “há organizações e movimentos eclesiais que já trabalharam muitas vezes” com esses fiéis “e continuam a trabalhar diariamente e trabalharão sempre com eles”. O mesmo acompanhamento está reservado também para os casais divorciados e novamente casados: “A Igreja os acompanhará na esperança de que um dia vivam totalmente de acordo com o Magistério da Igreja”.
Com igual apreensão, o cardeal olha para as dificuldades vividas por milhares de famílias em tempos de pandemia, entre lockdowns, ensino à distância, desemprego e - segundo as estatísticas - um aumento de casos de violência doméstica, cujas consequências muitas vezes são pagas, infelizmente, pelas mulheres.
“É importante - ressalta Farrell - que nós, sacerdotes, juntamente com os leigos e os casais, tenhamos um sentido de responsabilidade nestes tempos. Não devemos esperar que os párocos entrem em contacto via zoom, mas sim que cada um se coloque a disposição, por exemplo, para as outras pessoas do mesmo edifício. Devemos nos sentirmos responsáveis pela comunidade”.
Isso é fundamental para superar aquela "sensação de solidão" que "gera frustração e na qual amadurecem as piores violências", ressalta a professora Gabriella Gambino, subsecretária do Dicastério Leigos, Família e Vida, na mesa dos palestrantes junto com um casal de Arezzo, Valentina e Leonardo Nepi, que propiciou hoje seu testemunho.
A "solução" para esse isolamento físico e espiritual, segundo Gambino, é "criar oportunidades de compartilhamento". Fala-se de iniciativas concretas, como pontos de escuta na paróquia a que as famílias podem recorrer, associações familiares, encontros online no Zoom para oferecer a pais e filhos a oportunidade de “poder narrar sua história”. “Todos nós precisamos poder falar de nossa vida”, ressalta a professora, inspirando-se em sua própria experiência como esposa e mãe de cinco filhos.
“É preciso de um espírito de comunhão para se fazer presente como Igreja”, diz Gabriella Gambino, “seria uma grande ajuda para superar o sentimento de solidão, fazer uma rede, criar laços de ajuda”. Nesse sentido, vários instrumentos pastorais já foram produzidos pelo Dicastério e por numerosas Dioceses.
Uma das principais iniciativas do "Ano Amoris Laetitia" será também uma série de dez vídeos em que o próprio Papa Francisco participará com algumas famílias de todo o mundo: "Junto com o Santo Padre elas vão falar sobre como vivem, sobre os aspectos da vida familiar de que fala Amoris Laetitia”, explica Gambino. Não se trata de pessoas perfeitas e modelos já prontos, mas de vislumbres da "vida concreta das famílias". Aquelas “que vivem nas grandes cidades e têm que manter juntos os compromissos de trabalho e os compromissos escolares e extracurriculares dos filhos. Coisas que envolvem deslocamentos constantes de uma parte a outra da cidade, muitas vezes sem grande ajuda de parentes próximos”.
Para essas pessoas foram concebidas iniciativas multimídia, visto que é "quase impossível para elas participar em eventos paroquiais ou diocesanos". “Todos os agentes pastorais – afirma ainda Gambino - devem ir ao encontro das famílias, encontrar novas maneiras, tempos e espaços para estabelecer um diálogo e cuidar delas”. Também estão incluídos os idosos, cujo "protagonismo eclesial" deve ser cada vez mais aproveitado.
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Começa o Ano Amoris Laetitia. O Cardeal Farrell: “Ninguém será excluído dos cuidados da Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU