18 Março 2021
Daniel Becker é médico:
"Estamos na iminência de um momento extremamente grave na vida nacional, talvez o pior que já vivemos em termos de crise social. Não vou entrar em detalhes aqui, mas é muito assustador imaginar os próximos meses com o sistema de saúde em colapso total. Isso significa mortes não apenas pelo coronavírus mas também por infartos, apendicite, partos complicados, enfim um cenário medieval. Não dá mais tempo para a vacina evitar a maioria das mortes. Elas ainda demoram a chegar. Estamos no fim da fila. O colapso pode chegar a funerárias e cemitérios. "
Popularidade em meio à pandemia
1) Datafolha: 50% dos brasileiros são contra impeachment de Bolsonaro
2) Pesquisa aponta que 46% são favoráveis ao afastamento do presidente
3) 56% dizem que Bolsonaro não tem condição de liderar o país, diz Datafolha
Hum, para quem trabalha um pouco com lógica, mesmo a mais desvairada, entre os pontos 1) e 3) há algo que, como diriam os franceses, "cloche", ou seja, causa ruído. 50% contra o impeachmente 56 pensam que ele não tem condições de liderar o país....hein, hein, pode repetir? Credo! RR
Reinaldo Azevedo - análise
A evidência do assassinato em massa e o devido registro para a história - 15/03/2021 07h37
"O triunfo da morte" (1562-1563), de Pieter Bruegel, o Velho. Precisamos dar à tragédia a dimensão humana e política que ela tem. E isso supõe o registro organizado para as gerações futuras
Reportagem da Folha traz uma informação aterradora. Leiam. Volto em seguida:
"Ao menos 72.264 pessoas morreram por Covid-19 sem ter acesso a um leito de UTI mesmo tendo sido internadas — mais de 1/4 dos quase 280 mil mortos deixados pela doença no país até agora. O número, reflexo do colapso do sistema hospitalar em diversas regiões do país, representa um óbito para cada três pessoas hospitalizadas. É presumível que parte deles pudesse ter sido evitada com o tratamento intensivo. Os dados são do Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe) e fazem parte de um levantamento da Fiocruz realizado a pedido da Folha. Como em 22.712 (10%) dos casos hospitalizados não há informação de que pessoa teve acesso a UTI, o número de sem-leito pode ser ainda maior. Em 124.064 (57%) casos, a morte ocorreu em UTI."
Retomo:
Eis resumida aí a eficiência do Ministério da Saúde no trato da Covid-19. E assim é mesmo com parte dos governadores fazendo esforços para tentar diminuir a escalada da contaminação e das mortes tanto na primeira onda da doença, como agora, na segunda, muito mais devastadora e letal.
Mas temos o presidente que temos, fazendo o que faz, dizendo o que diz.
Tenho defendido há tempos que entidades da sociedade civil se reúnam e se estruturem para criar um ente que se encarregue de criar o "Brasil Nunca Mais Covid-19". É preciso que a história registre os nomes desses mortos, o que é possível nestes tempos digitais.
Mas também é necessário nominar os algozes, eternizando os respectivos nomes daqueles que contribuíram para esse estado de coisas, não importa onde estejam: governo, órgãos de representação profissional ou de classe, parlamentares, juízes, imprensa (ou algo que finge ser), empresariado...
Outras pandemias haverá. É um imperativo que a história registre as infâmias para que a memória possa advertir gerações futuras. E para que os negacionistas, cúmplices do morticínio, mereçam o devido crédito.
O que está em curso no país é um assassinato em massa. A cada um de acordo com a sua obra.
Sobre genocídio e genocidas. Roberto Romano
O termo genocídio – como o vocábulo totalitarismo – pode ser restrito em termos semânticos sem perder o potencial descritivo almejado. Sim, dificilmente o genocídio coincide perfeitamente com sua definição léxica, posta em enciclopédias e dicionários. O genocídio armênio não dizimou todo o povo da Armênia. O genocídio judeu não dizimou todos os judeus. A completa coincidência da palavra e da coisa é delírio que a filosofia, a psicanálise, a sociologia e a antropologia procuram entender e explicar. Entre o enunciado e o efetivo ocorre um lapso, uma opacidade grave. Só os energúmenos (os movidos por forças externas ao seu consciente) podem acreditar na plena identidade entre palavra e coisa.
Algo assim para o totalitarismo. Este último é o ideal delirante de fazer com que sociedade e Estado unam-se num bloco homogêneo. Assim como a totalidade dos armênios e judeus não foi dizimada pelos poderes ditatoriais, também nunca houve recobrimento completo entre Estado e sociedade, mesmo em regimes como o nazista e estalinista. Tanto na Alemanha quanto na URSS existiram resistências sociais ao elo pregado pela ideologia vigente. Se não existiu plena unidade entre Estado e vida social, nem por isso o poder com tendências totalitárias deixou de causar feridas e sofrimento inaudito na vida da Humanidade.
Quando dizemos que um presidente que nega a ciência, que elogia a morte, que zomba do medo vivido pelos seres humanos, que boicota todas as medidas de saúde pública, quando dizemos, retomo, que ele é genocida, não temos a ingenuidade de falar que ele procura o assassinato de todos os seus concidadãos. Dizemos, sim, que sua prática e falas tem como alvo a morte, não a vida.
Em termos éticos, o descaso com uma só vida é crime que, por lógica, pode ser enquadrado como genocídio. Sendo a Humanidade um Todo, a morte designada de um só de seus integrantes atenta contra aquela totalidade.
Assim, quem nada faz para impedir a morte de duzentas mil pessoas e, além disso, boicota tudo o que poderia salvá-las, merece com toda propriedade o nome de genocida. Cada mulher, cada homem, cada idoso, cada criança, cada jovem pertence ao gênero humano. Rir de sua morte, acusar quem chora de "maricas", é próprio de alguém que se alienou do gênero humano, tornando-se um.....genocida. É assim que eu penso. RR
O grande desafio é fazer com que o ministério da saúde cumpra seu papel: promover a saúde...
• 17/03/1973 – morte sob tortura do jovem Alexandre Vannucchi Leme, apelidado de “Minhoca”, com 22 anos de idade, no DOI-CODI de São Paulo. Neste mesmo ano 1973 serão assassinados sob tortura mais 27 militantes de esquerda no Brasil pelas forças de segurança brasileiro, com a ação de grupos militares e paramilitares, depois do golpe de 1964, que inaugura uma ditadura de 21 anos. Mortes todas acobertadas pelos generais e governantes que se escondiam atrás do AI-5 nos porões e quarteis clandestinos e delegacias oficiais. Houve apoio de muitos médicos torturadores.
Um operador da ditadura. No entanto, lia Marx como poucos progressistas o fizeram ou fazem. Tenho raiva dele devido ao seu desempenho no regime de exceção, em proveito dos ricos e dos mais ricos. Mas minha raiva mais sentida veio depois da ditadura. Eu costumava frequentar sebos perto do Largo de São Francisco. Graças a eles adquiri uma boa biblioteca de autores românticos, de autores gregos e romanos, etc. Tudo com anotações minuciosas por professores antigos que, ao morrer, deixavam órfãs suas bibliotecas. Tal coisa já desmistifica um tanto a lenda de que a cultura clássica no Brasil do século 19 era superficial, mecânica, de "orelhada". Nos volumes que ainda tenho em casa as marginalia eram instigantes porque não só a gramática e o léxico dos escritos eram anotados e discutidos, mas os próprios conceitos.
Volto a Delfim Netto. Quase sempre que eu estava num dos sebos, aparecia uma caminhonete com cobertura na carroceria. Quando a via, eu gelava. "Lá se vão os melhores textos da temporada...". Batata! Os donos do sebo, sabendo o quanto ele era voraz para livros, retiravam das prateleiras justamente os volumes que eu estava namorando. E se iam eles para não sei onde, com certeza uma labiríntica biblioteca, onde seriam devorados pelo Minotauro do espírito. Tal tormendo durou anos e anos. Perguntei ao livreiros quando ele aparecia. "Ninguém sabe. Pode ser ontem, hoje ou amanhã".
Assim, quando via um livro interessante nas lojas, logo pedia para meu enteado, então um jovenzinho para que o comprasse para mim. Detalhe: quando o livreiro notava interesse em algum livro, o preço subia de imediato. Comprado pelo jovem, os livros escapavam de tal destino. Não sei o quanto as lojas lucraram com Delfim. Mas imagino que bastante. Um detalhe: dentre os livros, muitos eram de Marx ou de pensadores de esquerda. Donde ter razão o ditado: "é preciso conhecer os inimigos". Vejamos se ele acerta novamente ao votar em Luis Inácio da Silva. RR
O Brasil está em jejum
Não é nenhuma novidade no modus operandi dos líderes evangélicos midiáticos, que acham que falam pelos "evangélicos", convocarem um "jejum" a "favor do Brasil". Não obstante o jejum ser uma prática no Primeiro Testamento e ter inúmeras críticas dos profetas (Is 58, por exemplo), para esses pastores midiáticos ele funciona como uma espécie de catalizador com o propósito de saber quem ainda está do lado deles quando a situação não está muito boa para o político que eles estão dando apoio acrítico.
Assim, o "jejum pelo Brasil" é para tentar reorganizar a "base eleitoral" que esses líderes julgam que tem de maneira exponencial para que, lá na frente, possam fazer seu lobby e negociar em "nome dos evangélicos". Aqueles que pedem o "jejum pelo Brasil", são os mesmos que estão tentando abrir suas igrejas para continuar a exorbitante arrecadação com o pretexto de que o povo precisa de "Deus nesse momento de crise sanitária".
O Brasil já está em jejum algum tempo. Há milhares de pessoas que não fazem duas refeições por dia. Há crianças que estão comendo farinha com açúcar nesse momento. A nossa gente não consegue comprar o gás de cozinha e agora a cesta básica é a mais cara da história. Isso tudo com a promessa do auxílio emergencial que muitos irão receber, se receber, míseros R$ 150,00. O Brasil já está de jejum, mas esse jejum não agrada nenhum pouco Yahweh.
A pergunta de Zacarias (7,5) ecoa nesses dias de "jejum pelo Brasil": "Pergunte a todo o povo e aos sacerdotes: Quando vocês jejuaram [...] foi de fato para mim que jejuaram?". No mais, apenas o farisaísmo fazia questão de apregoar o jejum como meio de promoção da própria casta religiosa.
Coluna da Mariliz Pereira Jorge hoje na Folha. Para expandir os horizontes lexicais de todo mundo.
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