08 Fevereiro 2021
Da China ao Oriente Médio, a pandemia favorece os regimes: menos direitos até nos países da Europa Ocidental.
A reportagem é de Giordano Stabile, publicada por La Stampa, 06-02-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A pandemia de coronavírus acelerou o declínio da democracia no mundo, tendência que já dura há quinze anos e foi confirmada pelo ranking anual do Economist Intelligence Unit para 2020. O índice, nascido em 2006, monitora 167 países e territórios no mundo e sofreu retrocessos na maioria. O dado central, o "cisne negro", foi o Covid-19. A resposta dos estados à emergência acentuou os aspectos autoritários e fez emergir como "vencedores" regimes que exercem maior controle sobre suas populações, a começar pela China, enquanto os países ocidentais deram respostas tardias e pelo menos inicialmente menos eficazes . O resultado é que dois terços dos estados viram seu índice diminuir. O nível global caiu para 5,37 em uma escala de 10, o nível mais baixo desde 2006, e hoje apenas 8,4 por cento do mundo vive em "democracia plena", um terço está sob tirania.
Os países são divididos em "democracias plenas", "democracias imperfeitas", "regimes híbridos", "regimes autoritários". O declino afetou também a região da Europa Ocidental, com França e Portugal que passaram de “democracias plenas” para “imperfeitas”, ou seja, com votos abaixo de 8. Situação que atinge também a Itália e os Estados Unidos da América, com leve piora. No entanto, o impacto da pandemia foi sentido muito mais nas regiões da América Latina e do Leste Europeu. Os dois blocos contêm apenas três "democracias plenas" e metade das "democracias imperfeitas" do mundo (26 de 52). Existem sete regimes autoritários na Europa Oriental, incluindo a Rússia, com uma pontuação de 3,31, e a Bielo-Rússia. As eleições contestadas no Minsk, entretanto, levaram a um paradoxo: o renovado empenho civil e a maior desconfiança em relação ao homem "forte", o presidente Alyaksandar Lukashenko, elevaram o índice, ainda que ligeiramente, para 2,59. Ao contrário, em Moscou, as "reformas constitucionais" ensejadas por Vladimir Putin para permanecer no poder além de 2024 tiveram o efeito contrário.
“A democratização da Rússia ainda está muito longe”, conclui o relatório, ainda que a pontuação continue acima daquela da China. Pequim viu um declínio constante desde a ascensão de Xi Jinping ao poder, de 3,00 em 2012 para 2,27 no ano passado. O relatório do The Economist, no entanto, destaca como os fechamentos draconianos decididos em Wuhan e depois em quase todo o país, com 760 milhões de pessoas trancadas em casa, impediram que a pandemia causasse muito mais vítimas em todo o mundo e "é difícil contestar que o 'experiência de bloqueio na China tenha sido um sucesso', embora poucos pensem que possa ser aplicada em outro lugar”.
Países asiáticos como Coreia do Sul e Taiwan, que até viram seus índices melhorar. No resto da região “a resposta à Covid-19 levou a agravamentos”, começando por Hong Kong e Mianmar, a ex-Birmânia, que está em plena involução também devido a problemas internos. Hong Kong caiu de "democracia imperfeita" para "regime híbrido", enquanto a Coreia do Norte continua sendo o país mais tirânico do mundo, com 1,08.
O Oriente Médio. No mapa, que vai do azul ao vermelho, todo o Oriente Médio está na zona vermelha ou laranja, e a Turquia também está em uma situação "híbrida", na zona amarela. Ancara passou de 5,70 em 2006 para 4,48 no ano passado. A região assistiu ao declínio da democracia, sublinha o relatório, "desde 2012, quando as melhorias após a Primavera Árabe foram revertidas: a região sofre uma concentração de monarquias absolutas, regimes autoritários, conflitos" e é a área "com o índice mais baixo, com sete países entre os últimos vinte”. Uma das piores atuações é a do Líbano. Em 2006 estava em terceiro lugar na região, atrás de Israel e Palestina, com discreto 5,82, agora caiu para a quarta posição, superado também pelo Marrocos, com péssimos 4,16. O caso positivo é a Tunísia, que após a revolução do jasmim passou de 2,79 em 2010 para 6,59 no ano passado e agora é a segunda. O Egito fez o percurso inverso, de 3,95 em 2011 para 2,93. Nas últimas colocações permanecem Irã, com 2,20, a Arábia Saudita, com 2,08, e a Síria, com 1,43.
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Democracias cada vez mais imperfeitas. O mundo deriva para o autoritarismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU