06 Janeiro 2021
O terremoto Covid, que abalou a economia global, custou até agora um trilhão de dólares e em 2021 se traduzirá em 235 milhões de pessoas necessitadas de assistência humanitária, com aumento de 40% em relação a 2020. Quem traça esse quadro desolador é o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. “As perspectivas das exigências humanitárias no futuro próximo são as mais sombrias possíveis", anunciou o responsável pelos Assuntos Humanitários da ONU, Mark Lowcock, destacando o fato de que o Covid causou uma “carnificina em todos os países mais frágeis e vulneráveis do planeta". Os desafios a enfrentar em 2021 são, portanto, enormes e segundo o representante da ONU “será um resultado importante se terminarmos o ano sem grandes carestias”. O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas havia lançado o alarme sobre os danos econômicos que o vírus causaria já em março passado, antes que a disseminação do covid-19 fosse certificada como pandemia.
A reportagem é de Anna Lisa Antonucci, publicada por L'Osservatore Romano, 04-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A agência da ONU havia alertado como a nova e inédita situação composta de proibições de viagens, restrições de circulação, pessoas obrigadas a trabalhar em casa, escritórios fechados e medidas de contenção, teria um forte peso na economia mundial. Por essa razão, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial haviam previsto uma injeção de bilhões de dólares de fundos globais apoiados pelas Nações Unidas disponibilizados para os mercados emergentes e de baixa renda. Apesar dessas ajudas, as perspectivas, especialmente para os seis bilhões de pessoas que vivem em países em desenvolvimento, são sombrias, segundo a agência da ONU.
Em maio, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (Desa) das Nações Unidas havia previsto que a economia global se contrairia em cerca de 3,2% até o final de 2020, enquanto a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertava que quase metade da força de trabalho do mundo teria visto seus meios de subsistência sumir devido ao declínio contínuo do número de horas trabalhadas devido ao lockdown. No mês seguinte, o Banco Mundial confirmou que o mundo estava passando pela pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial.
Em particular, a pandemia atingiu duramente os trabalhadores pouco qualificados, tanto nos países ricos como nos países em desenvolvimento. Demissões em massa ocorreram no setor de serviços, especialmente em setores como turismo, varejo, lazer e hotelaria, serviços de recreação e de transporte. Em dezembro, a OIT publicou um relatório mostrando como os aumentos salariais estão diminuindo significativamente, as pessoas mais afetadas são as mulheres, os jovens e os trabalhadores de menor remuneração: um em cada seis operários deixou de trabalhar em maio e os que continuam trabalhando viram suas horas reduzidas em quase 23%. E essa tendência negativa, segundo os especialistas, deveria continuar mesmo com a chegada das vacinas.
Diante dessa onda de sinais negativos, as Nações Unidas apresentaram a ideia de uma renda básica universal. Em maio, um relatório da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe propôs que os governos concedessem transferências temporárias imediatas de dinheiro para ajudar milhões de pessoas naquela parte do mundo que lutam para atender às suas necessidades básicas. De acordo com Kanni Wignaraja, especialista do programa da ONU sobre o comércio e o desenvolvimento, “se não houver renda mínima com que contar quando esse tipo de choque ocorre, as pessoas não têm escolha e correm o risco de sucumbir à fome ou outras doenças, muito antes de adoecer de Covid”. Por isso, segundo a ONU, é tão “fundamental relançar o debate sobre a renda básica universal e torná-la parte central dos planos de estímulo fiscal que os países estão levando em consideração".
Já no verão passado, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas recomendou uma renda básica universal temporária para as pessoas mais pobres do mundo como um meio de desacelerar a disseminação do covid-19 e permitir que quase três bilhões de pessoas permanecessem em suas casas. Os trabalhadores que não dispõem de uma rede de segurança social não têm outra escolha senão procurar emprego fora de casa, pondo em risco a sua saúde e a da sua família.
O Programa de Desenvolvimento observa, portanto, que onde a renda básica foi adotada, ajudou a retardar a disseminação do vírus e fornecer uma rede de segurança para os necessitados e cita o Camboja como um exemplo onde o governo estabeleceu um sistema de transferência digital de dinheiro para pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Assim como fizeram os governos de Bangladesh, Indonésia, Malásia, Filipinas, Vietnã e outros países.
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O terremoto abala a economia mundial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU