06 Janeiro 2021
“Nós estamos numa corrida contra o vírus. A cada dia que passa hoje, sem vacinar, é um dia a mais que a epidemia se prolonga. E não é pensar: em vez de a epidemia acabar em fevereiro de 2022, vai acabar em março de 2022. Isso está acontecendo num período em que estamos com quase mil mortes por dia de novo. Não é o que vai acontecer lá no final, é o que acontece hoje: um dia a mais que se espera significa quase mil mortes a mais, que poderiam ser evitadas se esse processo todo fosse acelerado.”
O alerta quem faz é Claudio Maierovitch, que presidiu a Anvisa de 2003 a 2005. Médico sanitarista da Fiocruz Brasília, ele foi diretor de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde (2011-2016) e fala ao Tutaméia sobre a situação da pandemia no Brasil e caminhos possíveis para o enfrentamento da Covid 19.
A reportagem é de Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, publicada por Tutaméia, 05-01-2021.
O quadro é terrível: “Em 2020, nós tivemos um aumento da mortalidade no Brasil. A Covid sozinha superou qualquer outra causa de morte entre os brasileiros. Ela sozinha fez aumentar muito a quantidade de brasileiros que morreram. Certamente nós vamos continuar vivendo isso pelo menos durante esta fase inicial do ano de 2021. Isso certamente ainda vai piorar antes de melhorar. Esses primeiros meses de 2021 serão piores do que os últimos meses de 2020. Se nós não formos rápidos, isso vai continuar acontecendo ao longo do primeiro semestre inteiro até meados do final do ano”.
Como Miguel Nicolelis, outro cientista brasileiro internacionalmente reconhecido, ele aponta os benefícios de um fechamento da economia para a proteção da população:
“Se nós pudéssemos fazer um confinamento rigoroso, em que só os setores realmente essenciais ficassem funcionando, e ficassem funcionando com todas as medidas de proteção, e nós fizéssemos isso por três semanas – digamos –, não há dúvida de nós teríamos um mergulho na curva do número de casos e do número de óbitos. E aí poderíamos até, devagar, ir abrindo um segmento ou outro, com todos os cuidados.” (Clique no vídeo acima para ver a entrevista completa).
Essa medida, no entanto, não é possível sem um comando centralizado: “As pessoas não desejam o confinamento. Elas só vão fazer o confinamento, só vão tomar as medidas necessárias se elas estiverem muito convencidas disso. Se tiverem apoio para isso, um suporte financeiro para isso. Mas não tivemos nem um esboço de reorganização da economia para enfrentar essa situação diferente. Não houve nenhuma atitude organizada de planejamento econômico.”
Ao contrário, o governo de Bolsonaro atuou no sentido de provocar a confusão e passou longe de trabalhar contra a doença: “Eu entendo, claro, as divergências políticas. O que eu não entendo é que, mesmo superada a fase de negação – e diversos governantes tiveram esse período de negação –, não houve um desdobramento para que o governo se colocasse em campo. É como se, além de não agir – uma ação contra uma epidemia exige muita coisa, muita organização, uma multiplicidade de frentes muito diversas, na saúde, na economia, na comunicação –, o governo considere que a grande derrota é admitir que precisa fazer alguma coisa. E a vitória é convencer os outros de que não é preciso fazer nada. Então eles estão tendo uma vitória política fantástica. Imagino que estejam comemorando. Na medida que não se faz nada, significa que prevaleceu uma visão política. Isso não teria outro nome senão aquele que até um ministro do Supremo deu, que é GENOCÍDIO”.
Como explicar isso?, perguntamos ao médico sanitarista. Que diz:
“Dá a impressão de que há uma preguiça enorme. O que me parece é que há uma inépcia, ou que há, mais uma vez, indiferença. As coisas, de certa forma, se encaixam: um governo que defende que os cidadãos têm de ter armas, certamente não dá valor à vida. Se não dá valor à vida, por que vai dar valor à vacina?, por que vai se preocupar tanto que as pessoas morram? Para mim, essas coisas são coerentes, talvez até um pouco mais do ponto de vista filosófico e conceitual do que daquele jeito que a gente está acostumado a pensar, que é por interesses pessoais, incrustados no governo. É uma coisa muito maior do que isso. É ideológico, é uma transformação cultural que a gente nunca viveu antes. Nós sempre fomos um país em que a solidariedade era um valor importante, a valorização da vida. Estamos virando um país onde o ódio se manifesta com muita facilidade, as pessoas ficam indiferentes, acreditam nas coisas mais absurdas que escutam – até de palavras do presidente da república, que dá declarações em tom de brincadeira quando o assunto não é de brincadeira. Não estamos falando de um jogo de futebol, de alguma preferência menor, estamos falando da vida de cada um de nós e da própria economia do país. Infelizmente está sendo tratada como brincadeira.”
Além das mortes, a doença provoca, de forma indireta, o desenrolar de outras tragédias: “A primeira é no sistema de saúde. Se o sistema de saúde está abarrotado por pessoas com uma doença nova, aquelas que dependiam habitualmente do sistema para se tratar das doenças que já existiam vão ter mais dificuldade. Não vai ter vaga para elas, não vão conseguir agendar cirurgia, vai demorar mais para identificar um câncer que poderia ser tratado e aí, descoberto tarde demais, não vai mais poder ser tratado com tanto sucesso”.
“Outro efeito é a miséria. Nós, ao longo desse ano de 2020, com uma reação da luta social, com uma ação até contundente de uma parte do Congresso, conseguimos o auxílio emergencial, que deu sobrevivência a uma camada importante da população, que passou a depender disso. Agora não vai ter mais, e essa camada da população, se já não estava na miséria, agora vai para miséria, vai sofrer as consequências disso. Vai adoecer mais. Vai passar fome!”
Maierovitch lembra que “nós tivemos um governo aqui, não faz tanto tempo assim, que tinha como seu primeiro grande objetivo dar três refeições por dia para todos os brasileiros. Dizia que era inaceitável, inadmissível que uma pessoa, neste país tão rico e tão cheio de recursos, passasse fome. Isso acabou. Nós temos gente passando fome. E, se não for feito nada, nós teremos mais gente passando fome ao longo deste ano que começa. Teremos mais empresas quebrando, mais desemprego, tudo aquilo que leva àquela situação que fez aumentar a mortalidade infantil durante a ditadura ou àquela situação que leva as pessoas a ficarem mais doentes e a terem menos recursos para se socorrer e para se apoiar quando ficam doentes.”
Ele prossegue: “Infelizmente, as previsões não são otimistas em relação a isso, nós vamos ter de brigar muito para que haja suporte social, para que haja investimento público para garantir o mínimo para as pessoas. Hoje, como prioridade absoluta, para os movimentos sociais, para o governo, para todos nós, mas os movimentos sociais são os atores vivos disso, para que a gente interrompa essa mortandade dada por uma única doença.”
Também é preciso lutar, diz o ex-presidente da Anvisa, pela “garantia das políticas sociais que deem suporte à vida das pessoas, suporte de toda a natureza, inclusive econômico-financeiro, para que as pessoas sobrevivam a essa grande crise. Nada justifica mais a utilização de recursos públicos do garantir a vida das pessoas. Eu não quero saber se a balança vai ficar desequilibrada ou não, desde que as pessoas sejam salvas. Para quem morre, não importa se a dívida pública aumentou ou não, se o déficit de importações/exportações aumentou ou não. Nós queremos os brasileiros vivos para pensar nisso lá na frente, para dar um jeito nas consequências disso, do ponto de vista econômico-financeiro, lá na frente”.
Foto: reprodução de frame do YouTube.
A todas essas, lembra Maierovitch, “o Brasil está sem plano de vacinação. Provavelmente já superamos as 200 mil mortes registradas, além de muitos casos que são registrados com outros diagnósticos. Por isso, a estimativa é que esse número, na verdade, seja 50% superior. Infelizmente, nós continuamos com uma apatia em relação à doença como se ela fizesse parte da nossa rotina, como se não precisasse ter nenhum tipo de atitude especial, emergencial, para enfrentar essa doença. Há uma boa parte da população que está alienada da situação porque é uma situação muito ameaçadora – e ninguém gosta de pensar muito que vive numa situação ameaçadora — em que não há coordenação, não há liderança. Nós chegamos numa situação absurda em que as pessoas podem escolher no que elas acreditam, não apenas pela sua simpatia política, mas também pelo que lhes é mais conveniente. Infelizmente, esse é o caminho que nos leva a mais doentes, a mais internações e a mais mortes. Não há como pensar numa ação pulverizada, em algum tipo de comportamento heterogêneo que vá funcionar. Nós precisamos de uma unidade em torno de um projeto mínimo para enfrentar a epidemia”.
A alternativa é o sofrimento e a dor de milhões de brasileiros: “Não existe na história um precedente de uma epidemia que tenha sido controlada sem ação do governo. Não seremos os primeiros a conseguir isso. Se não houver plano, se não houver uma decisão incisiva, nós vamos continuar lamentando e acho que vamos viver num luto muito duradouro”.
Hoje, quando países de todo o mundo começam a vacinar suas populações, o Brasil está apartado desse processo. Mais uma responsabilidade de Jair Bolsonaro, como aponta Claudio Maierovitch: “Nosso país foi passivo em relação a esse processo. O próprio presidente da República falou esses dias: ‘O interesse é de quem quer vender´. Não é possível olhar uma situação dessas e dizer que a doença será controlada por interesses do mercado. Não. O interesse é público, o interesse é de cada um de nós.”
E prossegue:
“Se há falta de vacinas, essa mesma vacina tinha de ser objeto de negociação pelo governo neste momento. Não pode sobrar vacina para a rede privada administrar, sem critério de prioridade, se está faltando vacina para aplicação dos critérios de prioridade das populações e pessoas de maior risco, que receberão a vacina pública. Infelizmente, parece que o contrário pode acontecer: como o programa de vacinação não está operando como sempre operou, a própria rede privada fica na incerteza. Já houve notícia saindo por aí de que a rede privada vai ter de obedecer aos mesmos critérios de prioridade da rede pública. Para que isso aconteça, tem de ter lei ou algum tipo dispositivo para que o governo possa mandar as clínicas privadas fazerem o que tem de ser feito. Se não, são palavras ao vento. O risco é que nós tenhamos um calendário confuso com a vacina pública, que nós demoremos para vacinar a população idosa, demoremos para vacinar os profissionais de saúde. Enquanto isso, os jovens saudáveis, que não são grupo de risco, mas que possam pagar pela vacina, já consigam acesso na rede privada.”
Ele explica a importância de ser feito um programa de vacinação que atinja a maior parte da população no menor tempo possível:
“Nós estamos numa corrida contra o vírus. A cada dia que passa hoje, sem vacinar, é um dia a mais que a epidemia se prolonga. E não é pensar: em vez de a epidemia acabar em fevereiro de 2022, vai acabar em março de 2022. Mas é pensar que isso está acontecendo num período em que estamos com quase mil mortes por dia de novo. Não é pensar o que acontecer lá no final, é pensar no que acontece hoje: um dia a mais que se espera significa quase mil mortes a mais, que poderiam ser evitadas se esse processo todo fosse acelerado. Para mim, é incompreensível que essas coisas não estejam sendo feitos”.
Em síntese: é preciso imunizar muita gente no menor tempo possível: “Nenhuma vacina protege completamente a população vacinada. As vacinas contra a Covid, vamos pensar numa eficácia de 70% a 95%. Se conseguirmos vacinar cem por cento da população com uma vacina que protege 70%, significa que nós, depois de concluído esse processo, ainda teremos trinta por cento, quase um terço da população, ainda vulnerável. É provável que esse número seja suficiente para interromper a circulação do vírus. O vírus só existe quando ele passa de uma pessoa que tem infecção para uma pessoa que pode se infectar. Se muita gente tiver imunidade, vai ser mais difícil que essa pessoa com infecção tenha contato com muitas pessoas que podem se infectar. Quanto mais gente nós conseguirmos vacinar, mais perto vamos ficar do número necessário para que o vírus pare de circular.”
A velocidade é importante também, diz Maierovitch, “porque a doença continua em expansão. Cada diz que passa é mais difícil controlar a doença. Se isso fosse uma corrida, o carro do vírus, além de estar na nossa frente, ele está acelerando mais do que nós, está cada vez se distanciando mais de nós. Além disso, a cada dia que passa, quanto menos gente imune nós temos, é mais gente que pode adoecer. Portanto, teremos mais gente doente, mais gente internada, mais gente morrendo. Quanto mais tempo a gente demora para proteger as pessoas, mais tempo as pessoas terão para ficar doente e sofrer as consequências piores dessa infecção”.
Tudo esbarra na falta de ação e na política antivida do governo: “Infelizmente, não temos criatividade, iniciativa e não temos uma opção do governo atual e das forças que lhe dão sustentação para melhorar a vida das pessoas. Ao contrário. É aquele velho dilema: entre a saúde do mercado e a saúde das pessoas, ele fica com a saúde do mercado. Diminuir a dívida pública porque aí paga o setor financeiro, remunera as dívidas bancárias… Isso tem sido a opção histórica do mercado, no Brasil e no mundo inteiro. Mas, enquanto em boa parte do mundo civilizado os governos chamam esse setor e negociam e impõem que é necessário um esforço para garantir a vida, aqui no Brasil acontece o contrário: aqui no Brasil o que se faz é tirar o dinheiro de quem não tem para garantir o equilíbrio fiscal, para garantir o pagamento da dívida pública. Isso não deveria nem ser mencionado num momento desses”.
A situação só não está pior porque o Brasil ainda tem um sistema de saúde pública de atendimento universal: “O SUS é a nossa grande rede de proteção nesta epidemia. Foi o SUS que nos permitiu chegar até aqui com um pouco menos de dano, com danos na proporção um pouco menor na tragédia que a gente está vivendo. Nós só temos pessoas internadas em grande número em UTIs e atendidas nos mais diferentes serviços porque existem os hospitais públicos, as UTis públicas, os enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, auxiliares, todas essas categorias que estão lá o tempo todo trabalhando para a vida dessas pessoas. Sem eles, a nossa situação seria ainda muito pior. Mas o SUS está sob ameaça o tempo todo. O orçamento do SUS só não foi menor em 2020 do que em 2019 porque o Congresso Nacional aprovou recursos extras para emergência. Se não, já teríamos em 2020 menos recursos para a saúde do que tivemos em 2019. E a previsão para 2021 é de menos ainda. Bate ali no teto de gastos e aí corta os recursos, portanto corta aquilo que precisa no Sus, que são os serviços funcionando, gente trabalhando, equipamentos, medicamentos, equipamentos de proteção para que os profissionais possam trabalhar com alguma segurança. Se não se conseguir garantir mais recursos para o SUS do que aquilo que está previsto na lei orçamentária, nós vamos chegar ao final de 2021 com consequência piores do que chegamos ao final de 2020. Estamos numa situação muito delicada.”
O diagnóstico de Maierovitch, em suma, é de que “esse governo parece incompatível com os princípios mínimos do que a gente espera que haja de ação de governo. Um governo que propõe armar a população e, portanto, estimula a violência, estimula a cisão, é inimigo da saúde, é inimigo do bem estar das pessoas.”
O que torna ainda mais importante, para a segurança e a saúde das pessoas e do país, que as pessoas busquem se proteger, ainda que à revelia da desorientação governamental:
“Eu fico muito triste ao ter de dizer isso, que a defesa das pessoas depende de atitudes individuais. Nós não podemos apostar em políticas públicas, não podemos apostar em medidas tomadas como organização social, em medidas baseadas na solidariedade, na fraternidade, no compromisso, na responsabilidade. Então, a gente tem de apostar em atitudes individuais –algumas delas são importantes para o coletivo também. Claro, além daquelas como escolher em quem vai votar.”
“A primeira é o distanciamento. As pessoas só devem ficar perto daquelas com quem convivem na mesma casa. Se não convivem na mesma casa, manter distância de aproximadamente dois metros. A segunda medida é usar máscara. Ela dificulta passar a doença para o outro. Se todos nós usarmos máscara, todos estaremos muito mais protegidos. Evitar chegar perto de aglomerações e também, do ponto individual, não promover aglomerações. Não basta não ir numa festa; não se deve promover uma festa ou organizar uma reunião ou chamar para um encontro. A quarta coisa é que, naquelas situações em que for inevitável juntar um número um pouco maior de gente, isso deve ser feito em espaço aberto. Se não puder, que sejam feitos em lugares amplos, com janelas abertas, em que o ar se renove constantemente.”
Essas medidas, assim como lavar as mãos frequentemente, com água e sabão ou usando álcool 70%, se contrapõem aos fatores que ajudam a transmitir o vírus: “a proximidade, a fala direta, sem máscara, e os lugares fechados, onde o vírus fica circulando. Outras situações também são problemáticas, como lugares onde há muito barulho, música alta. Isso obriga as pessoas a falarem mais alto. Já existem estudos mostrando que a quantidade de vírus que pessoas eliminam quando falam alto e gritam pode chegar a cinquenta mil vezes mais do que quando falam baixinho, normalmente”.
Do ponto de vista público, o lockdown é uma das medidas que deveriam ser adotadas neste momento, segundo a avaliação do ex-presidente da Anvisa:
“Eu defendo o confinamento. Mas nós fomos derrotados ao longo desta pandemia. Não só por num discurso, mas porque confinamento exige uma energia enorme, exige que as pessoas estejam convencidas. E, para isso, elas precisam ouvir uma única mensagem. Elas não podem ouvir uma confusão. Por que senão, além de não serem simpáticas ao confinamento, elas vão ficar mais ansiosas e mais tensas. Não vão aguentar o confinamento. Se tiver uma mensagem única, se eu sei que todo mundo está confinado, que isso protege a saúde, protege a vida, é mais fácil eu me conformar a ficar também confinado. Agora, se eu sei que está todo mundo na rua, nas festas, nos bares, quem não está confinado é visto como um bobalhão, eu fico mais tenso ainda. Se nós pudéssemos fazer um confinamento rigoroso, em que só os setores realmente essenciais ficassem funcionando, e ficassem funcionando com todas as medidas de proteção, e nós fizéssemos isso por três semanas –digamos–, não há dúvida de nós teríamos um mergulho na curva do número de casos e do número de óbitos. E aí poderíamos até, devagar, ir abrindo um segmento ou outro, com todos os cuidados”.
O certo é que todos nós sofremos muito ao longo do ano passado. E precisamos, como indivíduos e como sociedade, atuar para diminuir esse sofrimento, estancar a mortandade e a dor, como proclama Maierovitch em suas palavras finais na entrevista ao Tutaméia.
“Nós sofremos demais ao longo de 2020. Sofremos em primeiro lugar na pele, porque todos tivemos muita limitação, fomos confinados, ficamos presos, em diversas dimensões: presos fisicamente, presos até mentalmente na medida em que tivemos menos oportunidades de reunir, de discutir, de conversar. Isso sem dúvida foi um sofrimento.
“Sofremos todos porque tenho certeza de que todos que estão aqui nessa sessão conhecem gente que morreu de covid, sabem de gente próxima que neste momento está doente ou que está internada com covid. Esse é um outro sofrimento enorme.
“Sofremos economicamente, sofremos em todas as dimensões.
“Agora o pior é pensar que esse sofrimento tenha sido inútil. Então vamos honrar o sofrimento que cada um de nós teve até agora. Quem não sofreu que honre o sofrimento dos outros a partir de agora para a gente segurar um pouco mais, para a gente conseguir ter paciência, para a gente defender o ponto de vista de que a vida vale mais, para a gente exercitar isso um pouco mais e, até que a vacina atinja um número grande pessoas e que o nosso sistema de saúde consiga estar organizado para diminuir a transmissão, para isolar, para atender, para cuidar das pessoas, todos nós temos de continuar cuidando.
“Se nós conseguimos fazer isso até aqui, nós não vamos morrer na praia, literalmente, e não vamos querer que outras pessoas morram na praia, também literalmente. A gente não quer que ninguém mais morra. Infelizmente, não basta o nosso desejo. Muita gente ainda vai morrer. Vamos tentar diminuir esse número. Vamos nos comportar direito, ficar em casa o máximo possível, usar máscara, manter distância, abolir as aglomerações e festas, e vamos aguentar firme, porque tem luz que a gente consegue enxergar. Tem muita gente pondo a mão, pondo sombra na frente dessa luz, mas vamos enxergar essa luz e vamos seguir, com firmeza, para essa luz!”
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Lockdown faria número de mortes despencar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU