04 Janeiro 2021
“É indispensável que a Igreja reafirme a sua autoridade também nos contextos digitais, a partir da credibilidade.” O Mons. Dario Edoardo Viganò, vice-chanceler da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, publicou recentemente o livro “Testimoni e influencer” [Testemunhas e influenciadores] (EDB), no qual repassa a história da relação entre a Igreja e a autoridade desde as suas origens até o tempo das mídias sociais.
A reportagem é de Riccardo Benotti, publicada em Settimana News, 27-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como a autoridade da Igreja antiga mudou até a pós-conciliar?
As primeiras comunidades cristãs surgiam graças à pregação de um apóstolo, que era considerado uma figura de referência credível e, por isso, uma autoridade reconhecida por toda a comunidade. Para orientar o povo, os apóstolos se valiam da ajuda de colaboradores locais e dos anciãos: eram os episkopoi (supervisores) e os presbyteroi (anciãos). As comunidades cristãs das origens, portanto, eram organizadas com base em um modelo sinagogal que se expressava no conselho dos anciãos. O exercício da autoridade tinha como elemento constitutivo e critério de compreensão a celebração eucarística celebrada em cada comunidade: quem presidia a eucaristia era a mesma pessoa que guiava a comunidade, portanto se trata de uma autoridade ligada sobretudo à fé e aos costumes.
Quando se começou a falar de bispos e padres em um sentido mais próximo ao de hoje?
Entre a segunda metade do século II e o início do século III. Na Igreja antiga, a autoridade se afirmou gradualmente e se ampliou progressivamente sobretudo de três maneiras: por meio da promulgação de leis pelo bem da Igreja, por meio da justiça e por meio da correção dos erros.
O que aconteceu depois do Concílio Vaticano II?
Para a Igreja, a primeira autoridade é a Escritura, e a Igreja, com a sua interpretação, deve continuar buscando o verdadeiro sentido dos textos, deixando-se guiar pelo Espírito Santo para superar os limites impostos pelos diversos gêneros literários.
Com o Concílio, reforça-se a ideia de que a autoridade que a Igreja exerce deve ser entendida como participação na autoridade de Cristo.
Portanto, a autoridade de Cristo é participada pela Igreja com vistas ao cumprimento da sua própria missão, que é a dar testemunho da revelação de Deus. Em particular, a Igreja, no seu conjunto, exprime a sua própria autoridade ao dar testemunho da verdade de Cristo morto e ressuscitado.
O respeito que a sociedade atribuía à autoridade do clero, porém, foi se perdendo com o tempo. Por quê?
Os motivos são múltiplos, mas não devemos esconder a contribuição dada pelo empobrecimento cultural do clero. Até o fim dos anos 1960, o nível dos padres representava para o país um acesso ao saber e aos direitos. A credibilidade intelectual do clero no atual sistema universitário e de preparação profissional restringiu-se em quase todos os casos ao âmbito teológico, pelo qual, aliás, a sociedade mostra cada vez menos interesse.
Uma instituição bimilenar como a Igreja Católica pode continuar tendo autoridade mesmo em um mundo em que são as mídias sociais que ditam a agenda?
As mídias eletrônicas, primeiro, e o desenvolvimento das redes sociais, depois, no contexto da passagem da sociedade burguesa do século XIX para a sociedade das massas do século XX, modificaram significativamente os processos que levam à credibilidade. A Igreja também se insere neste processo, pois, embora tendo origem e finalidade distintas das instituições e das empresas, ela representa uma organização dotada de autoridade de tipo espiritual. Nesse sentido, é bastante difícil reativar as formas clássicas da relação “vertical” em um ambiente caracterizado por um modelo comunicativo horizontal, reticular e socializado.
A autoridade da Igreja pode encontrar um lugar entre os influenciadores da rede?
Inicialmente, os primeiros grandes influenciadores foram as celebridades, que conseguiam capitalizar na web a visibilidade conquistada em outros âmbitos. Agora, estamos assistindo à atualização contínua da lista dos “top tem” influenciadores: superusuários que são capazes de se dirigir a um target de maneira convincente. Mas atenção: se é verdade que há situações nas quais a credibilidade e a autoridade são reconhecidas a uma pessoa, não é evidente que isso, mesmo por questões numéricas, possa se transformar em um reconhecimento social e público, e possa levar a uma mudança de opinião.
Da mesma forma, não é evidente que quem está em uma condição de incidir em opiniões e atitudes públicas seja necessariamente credível, ou seja, goze de uma reputação compartilhada. Acho que é indispensável, portanto, que a Igreja reafirme a sua autoridade também nos contextos digitais a partir da credibilidade. Por outro lado, é o caminho indicado pelo Papa Francisco: “Enquanto estamos no caminho para Jerusalém, o Senhor caminha à nossa frente, para nos lembrar mais uma vez que a única autoridade credível é aquela que nasce do fato de se pôr aos pés dos outros para servir a Cristo”.
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Autoridade e credibilidade em tempos de redes sociais. Entrevista com Dario Edoardo Viganò - Instituto Humanitas Unisinos - IHU