29 Outubro 2020
A terceira encíclica do papa Francisco, Fratelli tutti, “Sobre fraternidade e amizade social”, tem um grande potencial inter-religioso e apresenta importantes intersecções com áreas de trabalho do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), avaliou o secretário-geral adjunto do organismo ecumênico internacional, pastor Dr. Ioan Sauca.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
“O papa Francisco toma como centro de sua argumentação a Parábola do Bom Samaritano e afirma que ‘ainda somos analfabetos’ quando se trata de acompanhar, cuidar e apoiar os membros mais frágeis e vulneráveis de nossas sociedades desenvolvidas. Na interpretação dessa parábola, o papa Francisco identifica um importante pensamento-chave que nos afeta social e politicamente, a virtude do amor”, disse Sauca.
Somente por meio da conversão pessoal, prosseguiu o líder ecumênico, as pessoas podem compartilhar seus dons e, finalmente, realizar um espírito de comunhão. “A fraternidade e a amizade social são formas de relações pacíficas entre as pessoas inspiradas pela virtude do amor”, agregou.
Cultivando essa virtude, que é entendida como a pedra angular da convivência humana, as pessoas podem “compartilhar seus dons, realizando um espírito de koinonia (comunhão). Com essa visão, percebemos que compartilhamos a mesma identidade do ser humano, construindo juntos uma grande família humana capaz de viver o ‘sabor local’ com um ‘horizonte universal’, como destaca o papa Francisco”. A fraternidade, disse o secretário-geral do CMI, deve “transcender os limites da família biológica, criando uma expressão universal de philia”.
A Fratelli tutti analisa o contexto religioso, social e político, e destaca pontos nevrálgicos que a pandemia do covid-19 pôs a nu, como o desrespeito aos direitos humanos, a globalização e o progresso sem um roteiro comum, as formas demagógicas de populismo, a migração, a violência, as guerras, mas tenta mostrar, ao mesmo tempo, “um caminho que possa ajudar a navegar por esses desafios e superá-los”.
Sauca lembrou o tema da 11ª Assembleia do CMI, que se reunirá em Karlsruhe Alemanha, em 2022, sob o tema “O amor de Cristo move o mundo para a reconciliação e a unidade”, o que está em sintonia com o que o papa propõe na encíclica.
O tema da Assembleia é “um apelo radical a todos os cristãos para que procurem formas de trabalhar pela paz e reconciliação com as pessoas de outras religiões e todas as pessoas de boa vontade”, frisou Sauca. Trata-se um apelo para que “a unidade visível da Igreja se torne um sinal profético e um antegozo da reconciliação deste mundo com Deus e da unidade da humanidade e de toda a Criação. Mas ela também nos permite trabalhar pela justiça social e condenar toda ação que afeta a dignidade de qualquer ser humano”.
Na Conferência de Secretários de Comunhões Cristãs Mundiais, fórum que reuniu, via virtual, em outubro, representantes das igrejas anglicana, católica, ortodoxa, protestante, evangélicas e pentecostais, a Fratelli tutti foi apontada como uma contribuição positiva para a construção de uma comunidade global mais justa e compassiva.
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Sauca aponta potencial inter-religioso da encíclica Fratelli tutti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU