23 Setembro 2020
A Itália que se cuide. Quando os contágios parecem baixos, é preciso atacar ainda mais com testes, rastreamento e regras sobre as aglomerações
Mas o que a França fez para acabar assim? Esperávamos uma resposta simples e definitiva de Vittoria Colizza, 41, romana, diretora em Paris do laboratório Epicx (Epidemics in complex environments), que elabora modelos de disseminação das epidemias no Inserm (Instituto Francês de Pesquisa Médica). Em vez disso, nos traz de volta à realidade: “Aconteceu o que pode acontecer em qualquer lugar. O controle de uma epidemia é um equilíbrio instável. Basta descuidar um pouco com os testes e o rastreamento, afrouxar as medidas de prevenção ou regras sobre as aglomerações um pouco mais do que o necessário. Os casos começam a escapar lentamente, depois mais rapidamente. Nesse ponto, a epidemia pode assumir o controle. Trazê-la de volta às condições iniciais torna-se bastante difícil”.
A entrevista é de Elena Dusi, publicada por Repubblica, 21-09-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Então não existe o segredo do fracasso francês?
Como em outros países europeus, muitos fatores interagem. Na França, a reabertura das atividades econômicas, embora gradual, foi praticamente total. O teletrabalho é reduzido ao mínimo. Após o fim do lockdown, em 11 de maio, percebeu-se o chamado cansaço da Covid. A atenção geral caiu. Durante as férias, os cuidados a que estávamos acostumados foram esquecidos. Desde julho, a circulação começou a aumentar entre os jovens. Com a volta à família, à escola e ao trabalho, o vírus se espalhou para outras faixas etárias.
Um cenário semelhante ao italiano. Devemos nos preocupar?
É o cenário de toda a Europa, com uma mescla de fatores diferentes, mas não muito. O segredo é não oferecer nenhuma vantagem ao vírus. Quando os contágios parecem baixos, é hora de atacar ainda mais, com testes, rastreamento e regras sobre as aglomerações. A França realiza mais testes do que a Itália, 1,2 milhão por semana. No entanto, não são suficientes, porque a epidemia saiu parcialmente do controle e as hospitalizações na área ao redor de Paris dobram a cada duas semanas. Para retomar o controle, a ação deve ser tomada rapidamente. Mesmo no melhor dos casos, serão necessárias semanas para a mudança de tendência.
O que vocês preveem para o inverno?
Vamos viver em ambientes fechados e perder o hábito de abrir as janelas. Isso vai favorecer a propagação. Mas não há futuro já escrito, um cenário inevitável. Depende de nós.
Vocês já tem as primeiras observações sobre a reabertura de escolas?
Na França, as escolas reabriram em maio de forma voluntária, com 20% de presenças e cerca de vinte focos. O novo ano começou em 1º de setembro. Algumas centenas de aulas são isoladas a cada semana, os casos assintomáticos tornam o rastreamento difícil. Mas a vontade é manter abertas as escolas. Temos a impressão de que as crianças pequenas sejam pouco contagiosas, as do ensino fundamental e médio mais.
Os testes da Itália vão ser úteis para quem vem da França?
Sim, mas nesta frente a Europa deveria ter agido de forma muito mais coordenada.
A letalidade do vírus diminuiu?
Sim, é uma boa notícia. O vírus não ficou bonzinho: o perfil dos pacientes internados é o mesmo de março. Mas se reduziu o percentual daqueles que passam da internação normal para a terapia intensiva, se encurtaram os tempos de permanência em terapia intensiva e baixou a mortalidade. Os pacientes se curam melhor e temos remédios que ajudam no tratamento.
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“O controle da epidemia é sempre um equilíbrio instável. O caso francês prova isso”, afirma a epidemiologista Vittoria Colizza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU