21 Setembro 2020
Uma nova encíclica, a reforma da Cúria e legislativa, eleições dos EUA... são algumas chaves.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 21-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Ontem, 20 de setembro, completaram-se 150 anos do fim do Estados Pontifícios e do poder temporal dos papas. Um acontecimento que hoje é vivido com alívio no interior da Igreja, mas que já provocou o autoconfinamento de Pio IX e de seus sucessores, Leão XIII, Pio X e Bento XV que, como protesto, nem chegaram a pisar na Praça São Pedro. Nestes meses, o papa Francisco se viu obrigado a ficar confinado, como boa parte da população mundial. O Pontífice não pôde viajar, porém não parou de trabalhar. O que Bergoglio fez durante este tempo?
Em primeiro lugar, esteve muito atento a tudo o que acontecia no mundo. Os núncios nunca trabalharam tanto, assim como também os outros contatos de Francisco. Porque este Papa tem sua própria rede de informação. Bergoglio se pôs em contato com líderes políticos e sociais, com especialistas em pandemias, com os responsáveis máximos da solidariedade global. E se adiantou ao resto, com a criação de uma força-tarefa, dirigida por ele próprio e com o cardeal Turkson e seu dicastério na vanguarda, para colaborar na construção de um mundo novo. Porque toda crise, e esta é muito gorda, oferece novas oportunidades. E, como Bergoglio não se cansa de repetir, “desta crise sairemos melhores ou piores, mas nunca iguais”.
Fruto dessas conversas, e do trabalho da Igreja em todo o mundo, suas catequeses de agosto e, o que é mais importante, sua nova encíclica, a terceira do pontificado, que sob o título “Tutti fratelli” (o título não será traduzido) será assinada em 03 de outubro e será lançada no dia seguinte, festividade de São Francisco de Assis. O Papa sairá de Roma, pela primeira vez desde que começou a pandemia, para assinar o escrito na Porciúncula de Assis.
Junto à pandemia, Francisco teve tempo, muito tempo, para terminar de repassar, e corrigir, o projeto de reforma da Cúria. “Praedicate Evangelium”, já deveria ter sido aprovada, mas é complicado fazer uma revolução curial em plena pandemia. Contudo, já não há como voltar atrás, e durante este outono europeu veremos mudanças na Cúria. Outras reformas virão diretamente com a aprovação do documento, que extinguirá alguns dicastérios e criará outros. Todos os responsáveis de organismos vaticanos apresentarão sua renúncia ao Papa, que terá as mãos livres (e a desculpa perfeita) para ter uma equipe de sua confiança. Todos de sua confiança.
A reforma do Direito Penal também está sobre a mesa do escritório papal, assim como o famoso “relatório McCarrick”, que deve ser revelado. As sanções contra padres e bispos encobridores devem ser efetivadas em todo o mundo, pois na semana passada a Comissão do Vaticano para a Proteção do Menor voltou a se reunir.
No cenário internacional, duas questões preocupam Francisco: de um lado, a renovação do acordo com Pequim, do qual os Estados Unidos desconfiam; e as eleições no país mais poderoso do mundo, com a possibilidade de Joe Biden se tornar o segundo católico (depois de JFK) a governar os Estados Unidos e, sobretudo, ser o candidato que derrotou Donald Trump. Um segundo mandato do republicano não seria visto com bons olhos na Casa Santa Marta.
E sim, o Papa também teve tempo para explorar em profundidade a realidade dos episcopados em todo o mundo. Embora, por enquanto, não haja um novo consistório de cardeais à vista, reformas estão sendo propostas em alguns países que, durante esses sete anos, resistiram às reformas de Francisco. Espanha, entre eles.
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Um confinamento frutífero: em que o papa Francisco trabalhou durante a pandemia? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU