22 Setembro 2023
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
Primeira Leitura: Is 55,6-9.
Salmo: Sl 144,2-3.8-9.17-18 (R. 18a)
Segunda Leitura: Fl 1,20c-24.27a
Evangelho: Mt 20,1-16a
A comunidade de Mateus resgata a memória de Jesus a partir do martírio de lideranças após a destruição do Templo pelo Império Romano em 70 d.C. Neste contexto, a “vinha” é uma imagem trazida do Primeiro Testamento, e ela simboliza tanto o povo de Deus quanto a terra prometida (cf. 5,1s; 27,2s). A comunidade de Mateus tem forte ligação com as profecias, sendo o sinótico que mais usa a imagem da vinha, que concentra nos capítulos 20 e 21, que focam a ida de Jesus a Jerusalém como centro da tradição judaica e do poder político e religioso estabelecido.
O capítulo 20 está no final da terceira parte do Evangelho que narra o caminho da Galileia a Jerusalém (14,1-20,34). Assim a simbologia da vinha é colocada como anúncio do Projeto do Reino que se opõe aos poderes que levam Jesus à morte na Cruz. Entre estas oposições está o direto que o projeto do Reino estabelece para as pessoas que trabalham na vinha.
A vinha ocorre quatro vezes, nos versículos 2,4,7 e 8. Isto é, se concentra na metade da perícope, onde se estabelece os elementos constitutivos do projeto do Reino em relação aos direitos das pessoas trabalhadoras:
Assim a primeira parte da parábola estabelece que todas as pessoas trabalhadoras – sem exceção - têm o direito ao “pagamento justo” e garantir/lutar/reivindicar este direito é missão de quem guarda da vinha (Jesus e suas comunidades).
A segunda parte do texto retoma a questão do valor do trabalho, mencionado no versículo 1, através do conceito de denário (valor do imposto diário per-capita, cobrado pelo Império Romano), que reaparece no versículo 9. O fato de usar esta unidade para falar do valor do pagamento justo pelo trabalho, pode indicar a superação da exploração imperial. O uso de uma lógica não meritocrática para o pagamento das pessoas que trabalharam provoca uma reclamação ao “oikodespótes”, ignorando a ação obediente do guardião (Jesus e as comunidades). Para reafirmar o direito, o conceito “justo” é substituído pelo conceito “lícito” (éxesti, v.15), termo usado no mesmo Evangelho em discussões com escribas e fariseus (cf. 12,2-10). O Reino resgata o sentido da Toráh, como realização da justiça para todas as pessoas trabalhadoras, subvertendo – como vemos no versículo 16 - a ordem opressora onde sempre a elites (“primeiros/as”) prevalecem sobre as pessoas pobres (“últimos/as”).
Em Deutero-Isaías (40-55) encontramos um contexto de resistência contra o sistema opressor, durante o Exílio Babilônico, onde afirmar que os pensamentos divinos estão acima de outros pensamentos (Is 55,8), implica em uma visão de mundo capaz de transformar o que é injusto e estabelecer a verdadeira misericórdia. O apóstolo Paulo exorta a “viver dignamente segundo o Evangelho” (Fl 1,27a). Na ótica do projeto do Reino não é possível viver dignamente o Evangelho sem estabelecer relações dignas, justas, igualitárias, para todas as pessoas a começar por aquelas que, nos sistemas excludentes, são as últimas.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
25º domingo do tempo comum – Ano A - Subsídios exegéticos para a liturgia dominical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU