Teologia em saída para as periferias. Artigo de Eliseu Wisniewski

Foto: Pixabay

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

17 Setembro 2020

"Francisco de Aquino Junior retoma e reelabora o núcleo da experiência eclesial latino-americana, a opção pelos pobres, sua maior contribuição para o conjunto da Igreja e da sociedade. Por sua experiência pessoal, eclesial, pastoral e acadêmica, demonstra familiaridade com o tema. Trata-o com seriedade, clareza e criticidade. Trabalha em profundidade a temática dos pobres, tão cara à Igreja e à teologia de nosso continente", escreve Eliseu Wisniewski, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade do Paraná (PUCPR) e professor na Faculdade Vicentina (FAVI), Curitiba, Paraná, sobre o livro "Teologia em saída para as periferias" [1] de Francisco de Aquino Júnior.

Eis o artigo.

Francisco de Aquino Junior estudou Filosofia na Universidade Estadual do Ceará, obteve a graduação e o mestrado em Teologia pela FAJE, de Belo Horizonte, e o doutorado em Teologia pela Westfälischen Wilhelms-Universität, de Münster, Alemanha. É presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte/CE e professor de Teologia na Faculdade Católica de Fortaleza e na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

A obra Teologia em saída para as periferias sintoniza e colabora com o processo de renovação eclesial desencadeado pelo Papa Francisco. Explicita o caráter teologal e teológico do compromisso com os pobres e marginalizados, formulado pelo mesmo Papa Francisco em termos de “saída para as periferias” e/ou “Igreja pobre para os pobres”.

Além de discorrer sobre um dos maiores desafios do mundo (senão, o maior), trata do lugar e da perspectiva em que a Igreja, a partir de Jesus Cristo e de sua boa notícia do reinado de Deus, deve situar-se. Os pobres e marginalizados ou as periferias do mundo, para a Igreja de Jesus Cristo, mais que um tema entre outros, são lugar social em que ela deve se inserir e a perspectiva com a qual deve se posicionar no mundo. Isso é válido tanto para sua ação pastoral quanto para sua reflexão teológica. Para a Igreja toda. Portanto, não só seus ministros devem ter cheiro de povo e estar a serviço da vida do povo, mas também os teólogos e a reflexão teológica devem ter cheiro de povo e estar a serviço da vida. Para o Autor, falar de periferias do mundo ou de opção pelos pobres é falar de uma característica fundamental da teologia cristã, enquanto inteligência da revelação e da fé cristãs. Trata-se de algo que marca radical e definitivamente a teologia cristã. (p. 13-16).

Reprodução da capa do livro Teologia em saída para as periferias

O livro está estruturado em quatro partes que se implicam e se explicitam mutuamente. A primeira, Teologia em saída para as periferias, atualiza de maneira crítica e criativamente o caminho teológico-pastoral aberto e indicado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e, mais precisamente, pela Igreja da América Latina, através das conferências episcopais de Medellín (1968) e Puebla (1979) e da teologia da libertação. Os capítulos desta parte tratam das orientações teológico-pastorais do Vaticano II e da Igreja latino-americana, bem como das controvérsias e dos consensos que elas provocaram. Destaca-se a novidade representada pelo Papa Francisco e sua perspectiva de uma Igreja “pobre para os pobres”. A conclusão explicita em que sentido as periferias do mundo são o lugar ou, ao menos, um lugar teológico fundamental e não apenas um assunto ou tema entre outros, na teologia (p. 17-69).

A segunda parte, intitulada O mundo dos pobres e marginalizados, se confronta com a complexidade e os desafios do mundo dos pobres e marginalizados, particularmente em sua configuração e em seu dinamismo atuais. As reflexões teológicas dos capítulos aqui concebidos não têm a pretensão de apresentar um esboço sistemático das abordagens e dos estudos desenvolvidos nos últimos tempos a respeito do mundo dos pobres e marginalizados. Indicam, sim, a complexidade desse mundo e o esforço para compreendê-lo. O desafio da compreensão já começa pelo conceito de sua nomeação, pois, pluralidade e diversidade constituem o mundo dos pobres e marginalizados. Outra questão é a que se aninha no discernimento das possíveis causas que geram a situação. Enfim, a título de conclusão desta segunda parte o Autor indica algumas características da situação da pobreza e marginalização de nosso atual momento histórico (p. 71-129).

A terceira parte, que leva por título A fé cristã e os pobres e marginalizados, explicita o vínculo da fé cristã com os pobres e marginalizados. Indica que este vínculo é constitutivo da fé cristã e não meramente consecutivo a ela e, muito menos, opcional. O Autor deixa claro que, quando falamos de Deus, não falamos de uma experiência e de uma ideia (religiosa ou filosófica) qualquer, mas do Deus cristão, revelado na história de Israel e, definitivamente, em Jesus de Nazaré. Portanto, falamos de um Deus muito concreto: o Deus de Jesus Cristo. Os capítulos que compõem esta terceira parte abordam a relação entre “Deus e os pobres e marginalizados”, bem como as controvérsias teológicas em torno dela; a relação entre revelação e fé cristã, indicando que ela é determinante do mistério da Igreja. Como conclusão aponta o caráter e a função escatológicos dos pobres e marginalizados: eles se tornam critério e medida do reinado de Deus neste mundo (p. 131-188).

A quarta parte, O compromisso com os pobres e marginalizados, trata do compromisso cristão para com os pobres e marginalizados. Destaca a dimensão socioestrutural desse compromisso, com seu caráter profético que chega, não raro, ao martírio, expressão máxima de profetismo e prova maior de fidelidade evangélica (p. 189-251).

Francisco de Aquino Junior retoma e reelabora o núcleo da experiência eclesial latino-americana, a opção pelos pobres, sua maior contribuição para o conjunto da Igreja e da sociedade. Por sua experiência pessoal, eclesial, pastoral e acadêmica, demonstra familiaridade com o tema. Trata-o com seriedade, clareza e criticidade. Trabalha em profundidade a temática dos pobres, tão cara à Igreja e à teologia de nosso continente. Com efeito, a opção pelos pobres tem sido afirmada e confirmada por conferências episcopais e pelo Papa Francisco como sendo fundamental para a fé cristã. Enfim, as reflexões de Francisco de Aquino Junior iluminam o fazer teológico de modo que ele incida nos processos históricos de libertação. Por isso, a atual geração pode servir-se desta apetitosa oferta.

Nota

[1] AQUINO JÚNIOR, Francisco de. Teologia em saída para as periferias. São Paulo: Paulinas 2019, 256 p., 210 x 135mm – ISBN 9788535644920

Leia mais