09 Setembro 2020
O jesuíta italiano apresentou o livro “Terrafutura”, entrevista de Carlo Petrini com o papa Francisco, a qual considerou um “diálogo honesto” no qual “ressalta-se a ideia de comunidade, onde não há bem-estar se não é para todos”.
Francisco assinará “Fratelli tutti” no próximo 03 de outubro, em Assis.
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 08-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A encíclica Laudato Si’ e o documento sobre a fraternidade humana assinado em fevereiro de 2019 em Abu Dhabi serão as “chaves de leitura fundamentais” da encíclica “Todos irmãos”, que o papa Francisco assinará em 03 de outubro, em Assis. A afirmação do jesuíta Antonio Spadaro começa a confirmar o rumo do novo escrito pontifício, no qual também outros conceitos como “amizade social” serão chaves.
Spadaro assegurou que a encíclica ambiental de 2015 e o documento assinado no ano passado com o grande Imã de Al Azhar são hoje dois dos fios condutores centrais do pontificado de Francisco. Não é uma asseveração menor, considerando a profunda raiz dos documentos, que confluem em uma abertura para fora da cristandade (uma como encíclica ambiental, o outro como documento para a fraternidade universal) como reivindica o mundo pós-coronavírus que servirá de marco a “Todos irmãos”.
Spadaro participou da apresentação do livro “Terrafutura”, nessa terça-feira, um escrito que contém três diálogos entre o Papa e Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, porém que vai muito além. Os documentos incorporados e a estrutura do livro fazem-no como obra de consulta imperdível sobre o pensamento socioambiental do Papa.
Um pensamento do pontífice, precisamente, que Spadaro define como “dialogando com a História”, no sentido de que evoluiu ao longo dos anos e escapa a propostas estáticas. A obra de Petrini, aliás, ilustra perfeitamente, nas palavras do próprio Papa, como foi essa conversão na questão ambiental, desde seu quase desinteresse por Aparecida, em 2007, até a escrita de Laudato Si’ oito anos depois.
Outro ponto alto do livro, para além de seu conteúdo, é o fato de que a arrecadação vai ajudar o centro de estudos Laudato Si’, que Petrini está coordenando em Amatrice, área mais atingida pelo terremoto de 2016, para onde convergirá e replicará as várias experiências que vem desenvolvendo desde 2009.
Ao longo do livro, com efeito, uma ideia de comunidade aparece como o ponto central da sociedade, em que não há bem-estar se não for para todos e que refuta as ideias de benefício a todo custo. De fato, apresenta o “desafio” de aproximar a “sinodalidade”, caminhar juntos, de uma palavra-chave também na esfera civil.
E precisamente o Sínodo Pan-Amazônico 2019, um dos três momentos-chave que Petrini definiu hoje como dobradiças em sua relação com Francisco, desde a primeira convocação em setembro de 2013 e passando também pelo fato de ter conhecido o Bispo de Rieti, Domenico Pompili.
Foi Pompili quem, no início da apresentação, condensou tanto a Laudato Si’ como o documento da fraternidade e as várias linhas de trabalho que Petrini vem desenvolvendo. “O livro apresenta a Terra como o único espaço disponível para a fraternidade”, disse Pompili, também dando uma ideia que poderia ser útil para uma hermenêutica da “Todos Irmãos”.
Francisco e Petrini “basicamente nos mostram que é possível modificar o atual modelo de progresso econômico que queima os recursos naturais. E que para isso é preciso partir dos gestos do dia a dia”, disse Pompili.
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Laudato Si’ e o documento de Abu Dhabi “serão as chaves de leitura fundamentais” da próxima encíclica, segundo Antonio Spadaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU