04 Setembro 2020
"Um padre homossexual é "útil" para fazer funcionar a instituição e para sua necessidade de clérigos. Mas sua situação é perigosa hoje, tanto a pressão midiática e social busca a incoerência entre palavras e atos, antes ignorada ou tolerada. Por falar no núncio Ventura, o lado "italiano" e "tátil" do núncio era conhecido nos restritos círculos católicos. Ontem era aceito, hoje não mais", escreve Philippe Clanché, em artigo publicado por blog Cathoreve, 24-07-2020. A tradução de Luisa Rabolini.
Ainda nenhuma fumaça branca no arcebispado de Lyon. Em Nantes, infelizmente foi outra fumaça negra que escureceu a catedral, sempre sem prelado [ndr. entretanto, em 11 de agosto, foi nomeado bispo em Nantes Mons. Laurent Percerou]. Monsenhor Celestino Migliore, nomeado núncio apostólico na França em janeiro, chegou em março e em nada ajudado pela conjuntura, ainda não nomeou nenhum bispo. Mesmo assim, jornalistas especializados garantiram que o prestigioso cargo em Lyon seria indicado antes de meados de julho.
No meu post anterior, mencionei as hipóteses desse impasse, em especial o aumento, admitido por Roma, da recusa por parte dos padres consultados. Eu tinha esquecido outra hipótese, que agora a atualidade me lembra.
Soube-se esta quinta-feira que Mons. Luigi Ventura, predecessor de D. Migliore, será julgado na França pelo Tribunal Correcional por "agressões sexuais" no dia 10 de novembro próximo. Parece que o núncio, que nega esses fatos, tinha o hábito de tocar o traseiro de homens (maiores de idade).
Episódios igualmente deprimentes foram relatados pelo conselheiro nacional suíço Jacques Neirynck em um post publicado em 22 de julho, na qual expressa seu espanto pelo lamentável espetáculo oferecido pela diocese de Lausanne-Genebra-Friburgo. Em 15 de julho, em uma entrevista coletiva, a diocese divulgou os resultados de duas investigações realizadas após as acusações contra o padre Paul Frochaux, ex-pároco da catedral de Friburgo. O padre, que renunciou em maio, é suspeito de abusar de um jovem de 17 anos em 1998 e de assédio sexual a um confrade durante os anos 2008-2011. A diocese estava prestes a nomear outro padre em seu lugar, quando se descobriu que este último frequentava assiduamente sites de encontros homossexuais. Fatos admitidos por ele.
No mesmo dia 15 de julho, o bispo Mons. Charles Morerod corajosamente aceitou falar no noticiário noturno da televisão suíça de língua francesa. Ele também reconheceu que outro candidato potencial foi descartado pelos mesmos motivos. [...]
Vamos voltar para o nosso núncio em Paris. Assim como o Presidente da República e o Primeiro Ministro, que garantem que seus futuros ministros não tenham esqueletos em seus armários (de tipo financeiro ou fiscal, ou conflitos de interesse), o núncio deve encontrar bispos isentos de qualquer prática proibida pela moral católica. Naturalmente se pensa em relações homossexuais, mas também em atitudes equívocas ou muito prementes em relação a mulheres jovens. É por estas razões que Mons. Hervé Gaschignard, embora não haja nenhum procedimento jurídico contra ele, teve que deixar suas funções como bispo de Dax em 2017. [...] Essa necessidade parece diminuir o número de candidatos para o episcopado. Frédéric Martel com seu panfleto Sodoma descreveu a cultura homossexual generalizada na Igreja. Em 2014, no meu livro "Mariage pour tous, divorce chez les cathos", eu tinha proposto uma explicação na qual continuo a acreditar: "O ambiente exclusivamente masculino dos seminários, da vida paroquial ou monástica, e a proibição de ter relações heterossexuais, podem atrair, consciente ou inconscientemente, jovens homossexuais. E em certos ambientes sociais, não há outra forma de escapar honrosamente da norma do casamento”. E citei um religioso dominicano: “Para um homossexual, a do presbiterado é uma condição na qual é possível aceitar o celibato de forma consciente e ser útil à Igreja”.
Este último ponto merece atenção. Um padre homossexual é "útil" para fazer funcionar a instituição e para sua necessidade de clérigos. Mas sua situação é perigosa hoje, tanto a pressão midiática e social busca a incoerência entre palavras e atos, antes ignorada ou tolerada. Por falar no núncio Ventura, o lado "italiano" e "tátil" do núncio era conhecido nos restritos círculos católicos. Ontem era aceito, hoje não mais.
Amanhã talvez venham a ser anunciados os nomes dos novos bispos, resolvidos consigo mesmos e com sua afetividade. E a instituição vai ficar feliz com isso como se tudo estivesse bem. Mas se as regras que proíbem a sexualidade dos ministros do culto católico permanecem inalteradas, será cada vez mais difícil, senão impossível, fazer o barco andar.
(E aqui não vou tratar da questão dos ministérios femininos: o silêncio das autoridades diante desse problema é desolador).
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A impossível busca do bispo perfeito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU