03 Setembro 2020
"A obra poética de Dom Pedro Casaldáliga mostra a força de uma mística encarnada na vida do povo, especialmente dos mais pobres. “Ruah, Vento de Deus” nos coloca diante de um Deus que gera vida, de um Deus a quem o bispo pede seu Sopro fecundo. Em sua letra descobrimos elementos importantes na vida de Pedro, um homem aberto ao mundo, sempre acolhedor com quem chegava em sua casa de portas abertas, que pedia “Faze-me todo janelas, olhos abertos e abraço”, escreve Luis Miguel Modino, padre espanhol e missionário Fidei Donum.
Perpetuar a memória daqueles que marcaram a história é um legado para a humanidade, também na Igreja. A figura de Pedro Casaldáliga se fez presente na vida de várias gerações, não só no Brasil, como no mundo todo. Como “uma espécie de homenagem póstuma a este nosso irmão, poeta e profeta”, Cirineu Kuhn, uma semana após a morte do bispo do Araguaia, tem feito uma composição que leva por título: “Ruah, Vento de Deus”.
O texto da música fazia parte de vários poemas que Dom Pedro Casaldáliga passou a Cirineu Kuhn em 1987, no dia de sua ordenação diaconal. Naquele dia Dom Pedro lhe pediu para escolher alguns poemas musicáveis para fazer um LP, que teve por título “Cantigas na contramão”, um nome que foi sugestão do próprio Pedro. Depois disso, segundo Cirineu Kuhn, “fomos parceiros em várias outras canções”. Mas “Ruah, Vento de Deus”, foi musicado somente agora, em que Cirineu foi atrás desses poemas e na mesma hora colocou uma melodia.
Foto: Luis Miguel Modino
A obra poética de Dom Pedro Casaldáliga mostra a força de uma mística encarnada na vida do povo, especialmente dos mais pobres. “Ruah, Vento de Deus” nos coloca diante de um Deus que gera vida, de um Deus a quem o bispo pede seu Sopro fecundo. Em sua letra descobrimos elementos importantes na vida de Pedro, um homem aberto ao mundo, sempre acolhedor com quem chegava em sua casa de portas abertas, que pedia “Faze-me todo janelas, olhos abertos e abraço”.
Na verdade, os poemas de Casaldáliga podem ser vistos como uma profunda oração, a exemplo dos Salmos bíblicos, fonte de “Boa Notícia sobre os telhados do medo”. Trata-se de textos que, além de oferecer consolo, eram força para a luta do povo, uma luta que ainda faz parte da vida da humanidade, marcada pela injustiça. Em suas palavras, o bispo poeta e profeta pedia, “Joga-me contra a injustiça, em furacão de verdade. Deita-me encima dos mortos, boca profeta a chamá-los”.
O caminho em comum entre Dom Pedro Casaldáliga e a Verbo Films, a editora dirigida por Cirineu Kuhn, se prolongou ao longo do tempo. Como o próprio Cirineu lembra, Dom Pedro “ajudou a roteirizar várias produções do repertório da Verbo Films, documentários e até ficções tiveram a marca, o espírito, o estilo de Dom Pedro”. Dentre outros, o diretor da Verbo Films cita: Pé na Caminhada, Anel de Tucum, Ameríndia, Canção para Zumbi, Os Sete Sinais da Vida, ou Canudos Açude Vivo, enfatizando que Dom Pedro colaborou em muitas outras produções.
“Querido Pedro, parceiro, amigo, irmão, você já está na Glória, por favor interceda por nós”, pede Cirineu Kuhn, insistindo em “que esta sua mística, cheia de paixão pelo Evangelho e compaixão comprometida com os pobres, seja nossa inspiração na nossa caminhada como seguidores e seguidoras de Jesus Cristo”. O diretor da Verbo Films, e compositor da música lançada recentemente, lembra as palavras do bispo, afirmando que “e como você disse em um dos seus poemas, Viva a Esperança! E é isso que nós queremos continuar cantando e vivendo”.
Ruah, Vento de Deus
Tu que sopras onde queres,
Vento de Deus gerando vida,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo.
Sopra-me, vida em Teu Sopro,
Paz inquieta e Esperança.
Faze-me todo janelas
Olhos abertos e abraço.
Tu que sopras onde queres,
Vento de Deus gerando vida,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo.
Leva-me em Boa Notícia
sobre os telhados do medo.
Passa-me em torno das flores
Beijo de graça e ternura.
Tu que sopras onde queres,
Vento de Deus gerando vida,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo.
Joga-me contra a injustiça
em furacão de verdade.
Deita-me encima dos mortos,
boca profeta a chamá-los.
Tu que sopras onde queres,
Vento de Deus gerando vida,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo,
Sopra-me, sopra-me,
Sopra-me, Sopro fecundo.
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“Ruah, Vento de Deus”: a homenagem póstuma de Cirineu Kuhn a Dom Pedro Casaldáliga - Instituto Humanitas Unisinos - IHU