26 Agosto 2020
São poucos, muito poucos. Cada vez menos. Porém, durante anos manejaram todos os resortes do poder na Igreja espanhola. E muitos continuam nas “salas de máquinas”. Inteirando-se de todos os rumores e tratando de sabotar quando algo não lhes convém. No momento, conseguiram que ao menos três listas para distintos bispados para a Espanha – singularmente, Zaragoza –, cujas nomeações estavam previstas para a primeira quinzena de julho, atrasassem (mas não canceladas).
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 24-08-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Por trás está uma luta de poder, similar à sofrida pelo cardeal Tarancón quando mudou a cara do episcopado espanhol depois do Concílio, e que se viu truncada depois da ascensão de João Paulo II ao pontificado. Agora, com Francisco em Roma e, finalmente com uma cúpula episcopal afinada com o atual pontífice, o movimento do setor ultraconservador foi reproduzido. Com várias ressalvas.
Em primeiro lugar, os “mocinhos” (se é que se pode falar do bem e do mal neste tipo de acontecimentos, que pouco têm a ver com o Evangelho de Jesus e muito a ver com o poder político-religioso) não têm o caráter do cardeal nascido em Burriana. Omella e Osoro, nem Francisco, são da irmandade “ordeno e mando”.
Em segundo lugar, a Igreja espanhola já não é o que era, nem tem relevância na Cúria Romana. Muito menos diante de uma sociedade que cada vez mais lhe dá as costas. E os velhos fantasmas, que nunca partiram, voltam para uma última batalha.
E é que, nos últimos tempos, junto com o bloqueio das listas (insisto, atraso, não cancelamento, porque nomes e destinos podem vir à tona em breve), o setor ultraconservador (alguns cardeais, vários arcebispos, alguns bispos e certos setores de instituições eclesiais acostumadas a conseguir o que querem na Igreja espanhola) voltou à “guerra de dossiês” que afetam os possíveis candidatos, mas também o atual presidente e vice-presidente da CEE, que, embora já tenham sido demitidos por Francisco, conseguiram atrasar seus processos. A pandemia não ajudou nas mudanças necessárias, tanto em Añastro quanto em Roma.
O bloqueio atingiu a Congregação dos Bispos, cujo chefe ainda é o cardeal Marc Ouellet, cuja substituição poderia ocorrer em breve, o que resolveria o problema. Mas enquanto isso, o cardeal continua a ouvir o canto de sereia de seus antigos amigos. Entre eles, o ex-cardeal de Madrid, Antonio María Rouco Varela, que continua a ter uma reputação (muitos dizem também ter “envelopes”) como o ainda máximo responsável pela nomeação de bispos no mundo. Sim, é uma pena ter que continuar falando de quem foi o “vice-papal espanhol”, que deveria estar desfrutando de um merecido descanso em vez das misérias palacianas.
No momento, o que aconteceu é que os pré-selecionados enviados pelo núncio Auza – e trabalhados com cuidado pelo setor de reforma – encontraram uma espécie de “silêncio administrativo”, que não é facilitado, como dissemos, pelo coronavírus. Desde o início da pandemia, o cardeal Omella, presidente da CEE e membro da Congregação dos Bispos, não pode ir à Roma, nem intervir no processo com o Papa e Ouellet.
Situação que pode mudar em breve, já que a terceira ressalva desse processo é que os “mocinhos” (insistimos, se podemos falar de bons e maus nesta história) não têm posição a que aspirar, mas sabem que têm pelo menos quatro anos para oferecer este último serviço ao Papa e à Igreja espanhola. E quando Ouellet sair, os obstáculos desaparecerão. Por mais que os cortesãos da velha guarda (que ainda resistem nas cúrias de Madrid, Barcelona ou Añastro) continuem a fazer o que sempre fizeram melhor do que ninguém: tramar para resistir no poder. Eles também poderiam fazer um último serviço e desistir. Antes que os detentores de poder mirem neles e percam seus privilégios. Em qualquer outra empresa, eles já teriam sido demitidos.
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Volta a “guerra dos dossiês”: Ouellet e Rouco Varela bloqueiam as nomeações de bispos para Espanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU