11 Agosto 2020
"Manteve redobrada solicitude sociopastoral diante dos pobres e dos excluídos, usando a palavra e o bastão não para golpear as ovelhas perdidas e indefesas, mas para afugentar os lobos fortes, ferozes e famintos por trabalho humano; dedo em riste e língua afiada contra o latifúndio e as cercas, a tirania e a ditadura, na proteção dos povos indígenas, dos camponeses e das comunidades quilombolas", escreve Alfredo J. Gonçalves, padre carlista, assessor das Pastorais Sociais e vice-presidente do SPM – São Paulo.
Vindo do outro lado do mar, trouxe no corpo e na alma a marca da liberdade; manteve redobrada solicitude sociopastoral diante dos pobres e dos excluídos, usando a palavra e o bastão não para golpear as ovelhas perdidas e indefesas, mas para afugentar os lobos fortes, ferozes e famintos por trabalho humano; dedo em riste e língua afiada contra o latifúndio e as cercas, a tirania e a ditadura, na proteção dos povos indígenas, dos camponeses e das comunidades quilombolas. Homem de Deus, do tempo e dos oprimidos; do Xingu, das águas e da Amazônia, defensor da vida em todas as suas formas e da preservação do meio ambiente, sentinela sempre alerta à vida onde ela encontrava mais frágil e ameaçada.
Chegou com o sonho do Reino de Deus, da Pátria Grande, do novo céu e nova terra; e logo fez-se porta-voz da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais e Base, das Pastorais Sociais, da defesa dos Direitos Humanos e das organizações populares. Combatente intrépido do “bom combate” e companheiro de todos os caminhantes, percorreu rios e igarapés, veredas e estradas, visitando vilas, povoados e comunidades. “Discípulo missionário” do profeta itinerante de Nazaré, incansável na vinha do Mestre; nas terras devastada pela violência dos senhores, com seus capatazes, grileiros e jagunços, pôs-se decididamente ao lado de posseiros, migrantes e pequenos produtores, e como na palma da mão, possuía o mapa das comunidades ribeirinhas, sem medo das ameaças, armadilhas, artimanhas e armas dos fortes e poderosos.
Da Catalunha trouxe também a sensibilidade artística, com acentuada veia poética, olhar estético para as águas e os peixes, as estrelas, as flores e os frutos da Amazônia, mas também para as dores e sofrimentos dos povos que ali viviam e trabalhavam, nutrindo sonhos, lutas e esperanças na construção de uma “terra sem males”. Poeta da biodiversidade, de todos os povos e raças, das múltiplas e variadas culturas, interprete misterioso do divino e do humano, da terra e do céu, da selva e da cidade, formado que era na escola do silêncio e da escuta, do cotidiano e da Palavra, impregnado na sabedoria e no segredo de uma espiritualidade multicultural, aberta e transparente aos caminhos e valores de cada pessoa e suas descobertas.
Trocando o velho continente pelas terras novas e viçosas das Américas, supera a “globalização da indiferença”, como alerta o Papa Francisco, pela cultura da acolhida, do encontro, do diálogo e da solidariedade, deixando para traz qualquer tipo de preconceito, xenofobia ou discriminação; mestre e aluno, aluno e mestre – pronto sempre ao intercâmbio de saberes, aprendizado livre e recíproco que a todos e todas enriquece. Através do outro, pavimenta o caminho para o Totalmente Outro, através do diferente, descortina o horizonte para o Transcendente.
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