23 Julho 2020
"A Humana communitas na era da pandemia. Reflexões sobre o renascimento da vida": é o novo documento da Academia Pontifícia para a Vida (Pav) sobre as consequências da crise sanitária provocada pelo coronavírus.
A reportagem é de Isabella Piro, publicada por Vatican News, 22-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Desenvolver uma ética do risco, implementar a cooperação internacional e promover uma solidariedade responsável: estes são os princípios-chave contidos no documento da Pav – o segundo após aquele de 30 de março, intitulado "Pandemia e fraternidade universal" – dedicado à emergência global decorrente do vírus Covid-19. O texto começa com uma pergunta: que lições aprendemos da pandemia?
E acima de tudo: que conversão de pensamento e ação estamos prontos para enfrentar, em nome da família humana? Para a primeira pergunta, a Pav responde com "a lição da fragilidade" que afeta todos, mas principalmente os hospitalizados, os presos e os migrantes nos campos de refugiados. Mas, ao mesmo tempo, desse ensinamento se gerou outro: a consciência de que a vida é um dom. E mais ainda: a pandemia nos fez entender que tudo está conectado e que "a depredação da terra", as escolhas econômicas baseadas na ganância e no consumo excessivo, "a prevaricação e o desprezo pela criação" também tiveram consequências sobre a disseminação do vírus.
Maior atenção – reitera a Academia – também deve ser dada "à interdependência humana e à vulnerabilidade comum", porque enquanto "os países selaram suas fronteiras", alguns até implementam "um jogo cínico de acusação recíproca", "o vírus não reconhece as fronteiras". Disso decorre a exigência de "uma sinergia de esforços" para compartilhar informações, fornecer ajuda e alocar recursos. Portanto, deve-se dar um empenho especial ao desenvolvimento de curas e vacinas: nesse âmbito, de fato, "a ausência de coordenação e cooperação" é um obstáculo ao tratamento contra a Covid-19. Enquanto isso – continua a Pav –, a pandemia aumentou ainda mais a diferença entre os países ricos e os pobres que pagaram "o preço mais alto" porque, por si só já carentes de recursos básicos e muitas vezes atingidos por outras patologias letais, entre as quais a malária e a tuberculose.
Então, o que fazer? Primeiro, o documento lembra a importância da "ética do risco", que comporte responsabilidades específicas em relação às pessoas cuja saúde, vida e dignidade estejam em maior risco. De fato, focar na gênese da pandemia, sem considerar as desigualdades econômicas, sociais e políticas entre os países do mundo – explica a nota – significa não entender o significado das condições que a fizeram se disseminar mais rapidamente. Em segundo lugar, a Pav pede "esforços globais e cooperação internacional" para que sejam reconhecidos como "direitos humanos universais", "o acesso a uma assistência à saúde de qualidade e medicamentos essenciais".
Ao mesmo tempo, espera-se uma "pesquisa científica responsável", isto é, integral, livre de conflitos de interesses e baseada em regras de igualdade, liberdade e equidade. "O bem da sociedade e o bem comum no setor sanitário vêm antes de qualquer interesse no lucro – ressalta a Academia – A dimensão pública da pesquisa não pode ser sacrificada no altar do lucro privado". Disso também deriva a ênfase na importância da Organização Mundial da Saúde, de modo a apoiar sobretudo "as necessidades e preocupações dos países menos desenvolvidos ao enfrentar uma catástrofe sem precedentes".
Finalmente, a Pav espera a promoção da solidariedade responsável, que saiba reconhecer a igual dignidade de cada pessoa, especialmente daqueles que vivem em necessidade. "Todos são chamados a fazer sua parte", enfatiza o documento, razão pela qual são necessárias estratégias políticas corretas e transparentes e processos democráticos íntegros. "Uma comunidade é responsável quando ônus de cautela e apoio recíproco são compartilhados" pelo bem-estar de todos. A nota termina convidando "uma atitude de esperança" que vai além da resignação e da nostalgia do passado: "Está na hora – diz a Pav – de imaginar e implementar um projeto de coexistência humana que permita um futuro melhor" para todos.
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Covid-19. Vaticano: É necessária uma “ética do risco” para proteger os mais frágeis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU