22 Julho 2020
Olhando para os âmbitos mais próprios do exercício do ministério, damo-nos conta de um excesso que atravessa de cima a baixo a vida do padre: liturgia, pregação, catequese, oração, caridade e assim por diante... Dando a impressão de que o padre pode fazer tudo, apesar da qualidade e da preparação com que o faz, em virtude da sua ordenação.
O comentário é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado em Settimana News, 21-07-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Até hoje, ainda não conseguimos encontrar um modo de superar o “clerocentrismo” na vida das nossas paróquias, onde o padre é a referência para tudo. Uma espécie de funil que corre o risco de sufocar não apenas a leveza missionária de uma comunidade paroquial, mas também a vivência do ministério, que muitas vezes se vê desempenhando funções que não lhe são próprias e para as quais não está devidamente preparado.
O envolvimento ativo dos leigos nesses âmbitos também permanece substancialmente subsidiário – no máximo, aliviando aquilo que deve ser feito, mas sem conseguir reverter o estado de necessária onipresença do padre.
Para este último, o pêndulo entre um senso insano de onipotência e uma depressão desorientadora parece ser, muitas vezes, a consequência inevitável. Em detrimento de todos. Encher a agenda de compromissos é apenas o outro lado da moeda de uma relação patológica com o tempo e a vida cotidiana.
Mas, mesmo se olharmos para os âmbitos mais próprios do exercício do ministério, damo-nos conta de um excesso que atravessa de cima a baixo a vida do padre: liturgia, pregação, catequese, oração, caridade e assim por diante... Dando a impressão de que o padre pode fazer tudo, apesar da qualidade e da preparação com que o faz, em virtude da sua ordenação. Hoje também sem tempo de aprendizagem das práticas de vida de uma comunidade paroquial. Isso ocorre seja quando se é catapultado, dentro de poucos anos, do seminário para a paróquia; seja quando se multiplicam as paróquias pelas quais um padre é responsável.
Em vez disso, passar um tempo aprendendo com a comunidade cristã à qual se é destinado seria precisamente o que ajudaria o padre a compreender o traço próprio da sua genérica vocação (tudo, em toda a parte, sempre). Um exercício de discernimento na configuração pessoal do ministério que o padre deve à vivência religiosa do povo da sua comunidade paroquial.
Uma aprendizagem da fé cotidiana que o leva a compreender que ele não pode fazer tudo no próprio ministério; que alguns aspectos não estão nas suas mãos; que, em outros, ele não é capaz; até conseguir delimitar um território do ministério com relação ao qual ele não é apenas sacramentalmente habilitado, mas também pastoral e humanamente competente.
Um território precioso, não apenas para a sua paróquia, mas também para toda uma Igreja local. A ser conservado com cuidado e a ser destinado com a devida atenção, quando um bispo decide uma mudança de paróquia.
A urgência de tapar os buracos de um clero diocesano em constante diminuição geralmente é fatal em relação a essa boa limitação das possibilidades de competência do ministério ordenado. Nem todos os padres se dão bem em todas as paróquias; e, talvez, seria melhor fazer sem o padre do que pôr as mãos em um destino paroquial que não leva em consideração a fecunda limitação do ministério aprendida na comunidade que se deixa.
Um padre não pode fazer tudo o que concerne ao ministério (ou, melhor, talvez, a uma certa ideia de ministério) em uma paróquia e em toda a parte em uma Igreja local. Em vez disso, quando se pede sub-repticiamente precisamente isso, então se deveria opor resistência: tanto o padre quanto a comunidade paroquial – induzindo a um sério discernimento compartilhado dentro da Igreja local à qual se pertence.
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O padre não pode fazer tudo em toda a parte. Artigo de Marcello Neri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU