04 Junho 2020
A pandemia do coronavírus mostrou que os avanços na luta contra a pobreza e a fome e a busca pela saúde e pelo bem-estar podem ser prejudicados, caso a comunidade global não enfrente as ameaças ambientais que comprometem os sistemas – e que permitem que a humanidade e o planeta sobrevivam e prosperem.
A reportagem é publicada por ONU, 03-06-2020.
Só é possível ter recuperação e desenvolvimento sustentável duradouros quando as respostas, os planos e as políticas ambientais recebem a devida importância. À medida que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) se une à comunidade internacional, mobilizando respostas imediatas às áreas da saúde, economia e segurança, quatro Objetivos de Desenvolvimento Sustentável serão vitais para a recuperação sustentável – Ação Contra a Mudança Global do Clima, (ODS 13), Vida Terrestre (ODS 15), Vida na Água (ODS 14) e Consumo e Produção Responsáveis (ODS 12).
“A pandemia já causou desastres e dificuldades inimagináveis e parou quase completamente nossas vidas. Por conta disso, teremos consequências econômicas e sociais profundas e duradouras em todo o mundo”, disse a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen.
A crise climática pode ter efeitos mais lentos do que a pandemia, mas é provável que eles sejam piores a longo prazo. Não existe ciência, tecnologia ou financiamento para resolver o aquecimento global. Sem compromisso com a descarbonização, o planeta estará a caminho de um aumento de 3,2 graus ou mais na temperatura global, o que traz uma maior probabilidade de pandemias, eventos climáticos extremos, secas e inundações e provoca a desestabilização generalizada dos sistemas alimentares, econômicos e de segurança globais. O aquecimento global descontrolado poderá desfazer os avanços feitos em quase todos os objetivos de desenvolvimento sustentável, o que prejudicará a recuperação econômica.
Contudo, hoje, é possível limitá-lo. Como os planos são formulados para ajudar os países e comunidades a reconstruírem suas economias e sociedades, essa é uma oportunidade para aderir à energia renovável, às tecnologias verdes e aos novos setores sustentáveis que levarão o planeta rumo à descarbonização.
Para a estabilidade climática, o PNUMA está apoiando formuladores de políticas públicas e investidores nacionais, regionais e sub-regionais e criando pacotes e financiamentos de estímulo fiscal verde. Além disso, está priorizando empregos e fontes de renda sustentáveis, incentivando investimentos em patrimônios públicos e infraestruturas sociais e ecológicas, promovendo o consumo e a produção de baixo carbono e impulsionando a responsabilidade financeira.
Esse trabalho se concentra em setores críticos para uma economia forte, como transição energética, edifícios e construções inteligentes, sistemas alimentares, gerenciamento de resíduos e mobilidade, permitindo que o mundo estabeleça a próxima geração de infraestrutura sustentável e produtiva.
Isso inclui esforços para tornar o comércio mais resiliente e sustentável ao clima e aproveitar as lições aprendidas no Novo Acordo Global Verde (Global Green New Deal, em inglês). Em colaboração com o PNUD e outros parceiros, o PNUMA também está apoiando ações em andamento para enfrentar a mudança climática, repensando energia, refrigeração, soluções baseadas na natureza e investimentos de recuperação para se alinhar ao Acordo de Paris e garantir a redução do risco do colapso do clima e da natureza.
Além disso, o PNUMA está encorajando os Estados-membros a identificarem e apoiarem essas oportunidades e reforçarem os resultados favoráveis na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) em 2021 e na ampla agenda de 2030.
Doenças transmitidas de animais para seres humanos – zoonoses como a COVID-19 – continuarão a aumentar à medida que o mundo segue destruindo os habitats selvagens para a atividade humana. Habitats degradados podem promover uma interação mais direta entre pessoas e animais, acelerando os processos evolutivos dos vírus e diversificando as doenças à medida que os patógenos se espalham facilmente para rebanhos e seres humanos.
Para evitar novas pandemias, tanto a destruição de habitats naturais para a agricultura quanto a mineração e a habitação devem se tornar sustentáveis. É essencial que os governos, o setor privado e a sociedade civil se recuperem melhor trabalhando a favor, e não contra, do meio ambiente, a fim de gerenciar e criar resiliência a futuras ameaças sistêmicas.
O PNUMA está fornecendo informações sobre as causas de transmissão de doenças zoonóticas para instruir os formuladores de políticas públicas a protegerem as populações, sensibilizando-os sobre os prejuízos causados pela destruição ambiental descontrolada. Além disso, em colaboração com o Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, o PNUMA está ajudando os governos a desenvolverem e/ou fortalecerem suas políticas e medidas reguladoras de biossegurança, a fim de detectar, prevenir, controlar e gerenciar patógenos zoonóticos, e também está comprometido a apoiar os países para garantir resultados ambiciosos na Conferência das Partes da Conferência de Biodiversidade (COP15), que está prevista para ocorrer em 2021.
Os ecossistemas que sustentam e protegem a vida debaixo d’água são tão importantes quanto sobre a terra. O declínio e a degradação desses ambientes naturais marinhos, costeiros e de água doce, e da biodiversidade que os acompanha, combinados com o aquecimento, a acidificação e a poluição generalizada dos oceanos são uma crise igualmente preocupante.
Os seres humanos dependem desses ecossistemas para proteção costeira, medicamentos, indústrias e alimentos. O estoque global de peixes nas últimas décadas está cada vez mais baixo. Os recursos genéticos marinhos são utilizados para fins farmacêuticos, incluindo antivirais, e a conservação desses ecossistemas garante a conservação dos fármacos. O escoamento excessivo de nutrientes também é uma questão que pode levar à eutrofização, ao surgimento de algas nocivas e ao aumento potencial de zonas mortas, o que pode comprometer a produção e a conservação de recursos vitais.
Com lixos frequentemente acabando em mares e em outras fontes aquáticas e considerando o aumento repentino dos resíduos médicos tóxicos, como os plásticos descartáveis, principalmente devido à COVID-19, a orientação imediata do PNUMA sobre o gerenciamento seguro de químicos e resíduos é importante tanto para esse Objetivo quanto para o Objetivo 15. O PNUMA está apoiando os países para garantir que as oportunidades das economias azuis sustentáveis sejam reconhecidas e incluídas na recuperação econômica pós-COVID. Além disso, está comprometido a apoiar resultados ambiciosos para uma economia azul consciente e para a proteção de ecossistemas na Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, que teve sua data adiada de junho de 2020.
Produção e consumo insustentáveis são perpetuados por financiamentos, investimentos e estilos de vida. Tais práticas levaram ao esgotamento dos recursos naturais, à ruptura de ecossistemas, às economias e infraestruturas de alto carbono e de uso insustentável de recursos e aos problemas e doenças ambientais.
A pandemia mostrou as fraquezas dos nossos sistemas. Provou que, se quisermos alcançar com êxito as metas ambientais, as responsabilidades precisam se estender do governo ao setor privado, sociedade civil e indivíduos. As fronteiras fechadas, a disponibilidade de mercadorias e o confinamento nos forçaram a mudar diversos hábitos ao redor mundo.
Algumas dessas mudanças aceleraram setores novos e emergentes que apoiam o consumo responsável, como o trabalho de casa e a produção local. À medida que as pessoas retornam ao trabalho e as escolas reabrem, algumas dessas mudanças positivas podem ser mantidas. Empregadores públicos e privados e indivíduos testaram maneiras alternativas de trabalhar, estudar e consumir em uma escala que pode dar um salto duradouro em direção à sustentabilidade.
O PNUMA está trabalhando com parceiros em políticas de recuperação e investimentos para incentivar a circularidade, a abordagem inclusiva voltada para o consumo sustentável e o alinhamento das finanças públicas e privadas às economias e sociedades sustentáveis e resilientes. Essa é uma oportunidade de atender a essa demanda com pacotes de estímulo que incluam energia renovável, edifícios e cidades inteligentes, transporte público verde, sistemas alimentares e agrícolas sustentáveis e opções de estilo de vida.
Agir hoje para proteger os ecossistemas terrestres e aquáticos, combater o aquecimento global e incluir medidas de biossegurança e de segurança ambiental é fundamental. Garantir que o conhecimento e o compromisso com o consumo e a produção responsáveis se estendam por todos os pilares das sociedades é um elemento fundamental para o progresso e sucesso de todos os outros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A natureza está em crise, ameaçada pela perda de biodiversidade e de habitat, pelo aquecimento global e pela poluição tóxica. Falhar em agir é falhar com a humanidade. Enfrentar a nova pandemia de coronavírus (COVID-19) e proteger as futuras ameaças globais requer o gerenciamento correto de resíduos médicos e químicos perigosos; a administração consistente e global da natureza e da biodiversidade, e o comprometimento com a reconstrução da sociedade, criando empregos verdes e facilitando a transição para uma economia neutra em carbono. A humanidade depende de ação agora para um futuro resiliente e sustentável.
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Quatro Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) são chave para recuperação sustentável no pós-COVID - Instituto Humanitas Unisinos - IHU