Por: Gustavo Diefenbach, Marilene Maia e Nicolas Nobrega | 22 Mai 2020
Em meio aos desafios postos pela pandemia em curso, está a identificação e protocolos relacionados à vida da população em geral e aos grupos populacionais que apresentam maior risco. Entre os grupos prioritários estão os idosos, que exigem acompanhamento e definição de estratégias para a sua proteção. Conhecer as realidades dos idosos do estado e de Porto Alegre neste contexto de Covid-19 foi o propósito do Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, nesta nota.
Covid-19 no Rio Grande do Sul
Nos últimos dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul em 14 de maio de 2020, foram registrados 2.997 casos confirmados e 120 óbitos, sendo assim, no estado o vírus teve uma letalidade de 4%.
Em relação ao perfil da população, observa-se que a maior parte dos infectados, 42% dos casos, estão na faixa etária entre 30 e 49 anos. Se forem incluídos neste grupo os jovens de 20 a 29 anos, a faixa etária de 20 a 49 anos passa a representar 57% dos casos no Rio Grande do Sul. A faixa etária de 50 a 59 anos representa 16% dos casos e os infectados de 60 anos ou mais representam 22%.
Entretanto o número de óbitos está mais elevado, dentro desses grupos de risco, nas faixas etárias de 60 a 80 anos e mais, representando 85,8% das mortes. Dos idosos com mais de 80 anos que contraíram o vírus, 41% vieram a óbito.
Covid-19 e os idosos
Em meio à pandemia provocada pelo novo vírus Sars-CoV-2, causador da doença Covid-19, há alguns grupos que são mais afetados por ele. Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS, a população idosa tende a desenvolver um quadro mais severo da doença e tem uma maior taxa de letalidade.
Devido a isso, vários cientistas vêm buscando compreender a realidade desse grupo de risco. Em uma pesquisa recente feita pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas - FGV Social, a fim de conhecer onde essas pessoas com maior risco estão localizadas, foi analisado o percentual das populações por UF que são enquadradas como grupo de idosos, sendo assim pessoas na faixa etária acima de 60 anos.
Observou-se que o Rio Grande do Sul reúne a segunda maior taxa de idosos do Brasil, representando 12,95% da sua população. Além disso, o percentual desse grupo na região metropolitana de Porto Alegre é de 10,67%, apresentando a segunda maior taxa do país.
Acesso aos serviços de saúde e capacidade de suporte do SUS
Devido a essa situação, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea lançou uma nota técnica durante o mês de abril, que dá vistas ao estudo sobre a situação dos mais vulneráveis de baixa renda acima de 50 anos de idade, o acesso ao Sistema Único de Saúde - SUS e a mobilidade urbana.
Os primeiros casos da doença no Brasil concentraram-se na população de média e alta renda, que costuma acessar os serviços de saúde privado. Entretanto, uma parte dessa população tem sido encaminhada para hospitais públicos de referência no tratamento da Covid-19. Nesse momento de epidemia, o SUS tem tido um papel fundamental contra a doença, não apenas por causa do trabalho de assistência à saúde, mas também pela gestão e coordenação do Sistema.
Uma preocupação que cresce entre autoridades, trabalhadores da saúde e população é o crescimento no número de pessoas infectadas, podendo chegar a atingir um nível crítico, sobrecarregando o sistema de saúde. Em estudo recente, Noronha et al. (2020) apresenta a quantidade de leitos e respiradores ofertados e demandados, por microrregiões de saúde, em escala nacional. É apontado que, até mesmo em cenário otimista, com o nível de infecção de 0,1% no primeiro mês, cerca da metade das microrregiões do país enfrentaria déficit de leitos para conseguir atender às necessidades de internação.
Número de leitos com respiradores e número de habitantes em Porto Alegre
No estudo feito foram identificados 327 leitos adultos pelo Sistema Único de Saúde com respiradores no município de Porto Alegre e uma população de 1,48 milhão de habitantes, isto é, 2,2 leitos para cada 10 mil habitantes.
Quando analisada a população mais vulnerável, a situação é mais crítica. No mês de maio foi indicado que na capital gaúcha existem 159,6 mil pessoas em estado de vulnerabilidade, segundo os dados apontados pelo Ipea. Destas:
- 8,6 mil pessoas não têm acesso a nenhum estabelecimento de saúde em menos de trinta minutos de caminhada;
- Mais de 1/3 dessa população em vulnerabilidade tem dificuldades no acesso a alguma assistência de saúde; e
- 60,3 mil pessoas residem a uma distância maior do que 5 km do hospital mais próximo, que tenha ao menos um leito de UTI e um respirador.
Os serviços de saúde a serem considerados no estudo são aqueles de atenção primária que permite identificar os casos graves de pacientes com suspeita de Covid-19 e devem ser levados para serviços especializados, além de serviços mais avançados, como pronto atendimento, pronto-socorro e hospitais.
Leia mais
- Planos de saúde e o SUS. Uma relação predatória. Revista IHU On-line 541.
- Sistema público e universal de saúde – Aos 30 anos, o desafio de combater o desmonte do SUS. Revista IHU On-line 526.
- Financeirização, Crise Sistêmica e Políticas Públicas. Revista IHU On-line 492.
- Covid-19 na Região Metropolitana de Porto Alegre: ocupação dos respiradores e leitos de UTI
- Doenças crônicas ocupam 30% dos leitos na Região Metropolitana de Porto Alegre
- A desigualdade de renda antes da pandemia de Covid-19 na Região Metropolitana de Porto Alegre
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Covid-19 e os idosos: dados do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU