15 Mai 2020
“Amor e solidariedade são os aspectos positivos da oração mundial, por uma mudança de mentalidade ... O tempo das palavras acabou, agora só podem começar as obras. Podemos, portanto, afirmar que a oração comum será um passo importante no desejo de evitar o abismo". Seguindo a proposta do Alto Comitê para a Fraternidade Humana, o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, desde o primeiro momento, ressaltou a importância de que os fiéis de todas as regiões se reúnam em oração para implorar ajuda para toda a humanidade no tempo marcado pela pandemia que o mundo está passando. E para "Avvenire", assim ele responde.
A entrevista com Bartolomeu I é editada por Stefania Falasca, publicada por Avvenire, 14-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Santidade, por que é importante esse momento de oração comum feito por membros de diferentes religiões?
A oração comum não é um ato de sincretismo religioso, mas um verdadeiro ato de liberdade, caracterizado pela capacidade de todo ser humano de se colocar em relação com Deus para o bem de todos. A liberdade de oração é o primeiro elemento que caracteriza todo diálogo humano, porque é um diálogo com Deus. Não é uma forma de panteísmo, mas é uma relação íntima, profunda e sagrada entre a criação e o Criador. É íntima, porque na oração de todo ser humano existe uma sinergia relacional que parte do coração sensível do homem. É profunda, porque coloca cada criatura olhando para si mesma, sem ser vítima de condicionamentos externos, que alteram a profunda visão de Deus. Por fim, é sagrada, porque na sacralidade da pessoa humana existe o comum pertencimento à família humana, que não propõe relações de tolerância, mas relações de igualdade, que não são fundamentalistas ou fanáticas, mas capazes de encontrar as riquezas da fé ou mesmo de referências metafísicas em todos os aspectos da religiosidade do homem. A oração comum, portanto, supera as perseguições, porque elas não têm direito à cidadania; supera qualquer ato de tolerância, porque não há ninguém que permita e alguém que aceite a permissão do outro; supera o fundamentalismo, porque ele é a negação da liberdade e, quando se nega a liberdade, também se nega a relação entre Deus e o homem.
Como deve ser entendido o gesto de jejum ligado às obras de caridade?
O jejum, como forma de oração e as obras de caridade, como um ato de todo relacionamento humano. Nos 2.000 anos de história da Igreja, o jejum não é a ausência ou redução de alimentos ou qualquer outra coisa, mas é uma atitude inerente ao homem que se faz oração em Deus. O próprio Jesus jejuou e ensinou como o verdadeiro jejum espiritual possa superar qualquer força adversa. E na livre oração e no jejum espiritual, não deve faltar atenção para os irmãos. Então esta oração mundial encontra seu verdadeiro modo de ser vivida, participada e certamente escutada e explica sua importância.
Esses gestos que desdobramentos podem trazer para essa humanidade devastada pela pandemia?
Por muitos anos, a humanidade não esteve atenta ao grito de dor que provinha da criação de Deus. Um pequeno e desconhecido vírus nos deteve. Toda a humanidade percebeu sua fragilidade, da importância dos relacionamentos interpessoais e, mais uma vez, encontra-se numa encruzilhada após essa experiência. O tempo das palavras acabou, agora só podem começar as obras. Portanto, podemos afirmar que a oração comum será um passo importante no desejo de evitar o abismo. Vamos elevar nossa oração a Deus com fé, suplicar com a certeza da escuta, implorar com lágrimas de verdadeira contrição. Como desenvolvimento positivo do gesto de oração comum de toda a humanidade, reafirmamos viver este período como uma jornada no deserto para alcançar a Terra Prometida com segurança, quando a ciência, pela graça de Deus, vencerá a batalha contra o vírus. Porque temos certeza de que, inclusive com nossas orações, vencerá. E a prova é uma oportunidade para mudar para melhor. No sentido de fortalecer o amor e a solidariedade. Amor e solidariedade são os aspectos positivos da oração mundial por uma mudança de mentalidade.
Qual é a contribuição que as religiões podem dar para um mundo mais vivível?
Eles podem abrir para o verdadeiro conhecimento do outro. O fechamento, em toda religião, deve ser considerado em si uma traição e uma turvação da ideia de Deus e da Divindade. Conhecer significa participar da vida íntima do irmão que temos ao nosso lado, significa superar os estereótipos que vêm de outras épocas, significa entender, compreender, apreciar e, portanto, respeitar e amar. O respeito e o amor levam ao diálogo, não por uma "única religião mundial", como às vezes ouvimos dizer, mas porque o diálogo forma a base ética e espiritual profunda do homem. Se as religiões do mundo souberem tornar esse diálogo sua força, então também sua fé, seu Credo será fortalecido, não contra alguém, mas a favor de todos. As religiões serão, assim, as porta-vozes de uma "sociedade aberta", onde não apenas a homogeneização e o desenvolvimento econômico baseados no princípio da autonomia da economia terão a última palavra, mas serão expressões de fé na liberdade e na dignidade humana. (Agradece-se pela tradução pe. Athinágoras e Nikos Tzotis).
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Bartolomeu I: oração comum, verdadeiro ato de liberdade, para evitar o abismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU