15 Mai 2020
“Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. Então, eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Advogado, para que permaneça com vocês para sempre. Ele é o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê, nem o conhece. Vocês o conhecem, porque ele mora com vocês, e estará com vocês.”
“Eu não deixarei vocês órfãos, mas voltarei para vocês. Mais um pouco, e o mundo não me verá, mas vocês me verão, porque eu vivo, e também vocês viverão. Nesse dia, vocês conhecerão que eu estou em meu Pai, vocês em mim, e eu em vocês. Quem aceita os meus mandamentos e a eles obedece, esse é que me ama. E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele”.
Leitura do Evangelho de João capítulo 14,15-21 (Corresponde ao 6º Domingo da Páscoa, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
A narrativa deste domingo é a continuação da passagem lida no domingo passado no Discurso de Despedida, como é nomeado no Evangelho de João. São as últimas palavras de Jesus aos seus discípulos, o “testamento”, ou legado de Jesus na ceia de despedida. Os discípulos estão inquietos e assustados e Jesus comunica-lhes palavras reconfortantes, que procuram fortalecê-los no momento que estão atravessando. Na passagem que lemos hoje Jesus fala da vinda do Espírito Santo como aquele que vai continuar sua tarefa.
Desta forma Jesus prepara o grupo que o segue para reconhecer e acolher a presença do Espírito e assim deixar-se conduzir por ele. Convida-os a descobrir sua presença que é discreta e tranquilizadora. O Espírito, o “Advogado”, chamado também o Defensor, que significa “aquele que está junto a...”, será quem prolongará a presença de Jesus e como Jesus estará junto aos seus durante sua vida e os acompanhará e defenderá. O Espírito prometido prossegue a missão de Jesus e “permanece sempre” neles.
É o Espírito que conduzirá a comunidade à verdade completa e a levará a participar da íntima relação de Jesus e do Pai. Uma comunhão que somente é reconhecida pelas pessoas sensíveis a sua presença, ao aroma e à fragrância da sua vida. É assim que a comunidade converte-se na "morada de Deus" no mundo.
Jesus começa dizendo-lhes: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos”. Lembre-se de que na tradição judaica vemos uma importante relação entre o amor e a observância dos mandamentos, como descreve o livro do Deuteronômio quando disse para amar a Javé com todo o coração e com todo o ser e segui-lo e observar seus mandamentos, suas leis, seus decretos (cfr. Dt 13,4-5).
Para um judeu o amor a Deus se concretiza no cumprimento dos mandamentos; esse amor expressa-se na observância da Lei. O texto sobre o qual meditamos hoje inicia com o amor como a condição primeira para entender e acolher a mensagem de Jesus. Sem esse amor suas palavras ficam vazias e sem sentido.
Para acolher com mais profundidade a expressão de Jesus, deixamos que ecoem estas palavras lidas na celebração da Última Ceia: “Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” e continua com a descrição do lavatório dos pés a cada um dos que estavam sentados com ele à mesa. Após este momento, Jesus manifesta claramente qual é seu mandamento: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem amar-se uns aos outros” (Jo 13, 34). O mandamento do amor recíproco é a expressão máxima do amor que Jesus pede aos seus discípulos.
Desde esta perspectiva da obediência ao mandamento de Jesus, que é o amor mútuo, é possível reconhecer a presença do Espírito da Verdade que ele nos promete. Jesus nos convida a preparar o cenário para acolher sua presença. Estar junto ao irmão como nos pede o Senhor é o caminho para receber seu Espírito.
“Eu não deixarei vocês órfãos, mas voltarei para vocês.” Assim como Jesus não nos deixa órfãos, somos chamados a não deixar nossas irmãs e irmãos sós. Pelo contrário, nos convida a caminhar junto aos que estão necessitando de um ouvido que os escute, uma mão estendida, uma pessoa que seja companhia e defensora dos seus direitos. Pensemos, neste momento de pandemia, em tantas pessoas que estão sofrendo a solidão, o desconcerto.
Estar junto ao nosso irmão e irmã dá sentido e razão da nossa esperança, do Espírito que habita em nós e nos faz continuadores da sua presença hoje na situação do mundo que estamos vivendo.
Como disse o Papa Francisco: “Está surgindo um drama, não sei se subterrâneo, porém dissimulado de nossas sociedades, pois às vezes são sociedades hipócritas e inconscientes. Os aproveitadores veem comércio em tudo, no mundo tão triste das mulheres maltratadas, dos sem-teto. Eles têm uma esperança muito pequena, não têm onde se apoiar. Isso é muito triste, porém ao mesmo tempo nos damos conta de que existem”.
E continua dizendo: “Me preocupa a solidão. Terceirizamos a convivência, esquecemos o lado a lado da convivência. Algumas vezes vês uma família que estão comendo juntos, os pais assistindo à televisão e os filhos olhando o celular, porque não podem sair. Eles têm tempo para se encontrar. Hoje temos que resgatar a convivência, e esta será uma das conquistas à qual podemos chegar nessa tragédia muito triste, porém temos que recuperar a convivência humana, a proximidade”.
Neste domingo Jesus nos convida a abrir nossos ouvidos e nossa vida aos nossos irmãos para acolher suas necessidades e responder-lhes desde a realidade que hoje estamos vivendo. Desta forma nos preparamos para receber o Espírito da Verdade.
Tu que sopras onde queres,
Vento de Deus dando vida,
sopra-me, sopro fecundo!
Sopra-me vida em teu sopro!
Faze-me todo janelas,
olhos abertos e abraço.
Leva-me em boa Notícia
sobre os telhados do medo.
Passa-me em torno das flores,
beijo de graça e ternura.
Joga-me contra a injustiça
em furação de verdade.
Deita-me em cima dos mortos,
boca-profeta a chamá-los.
Dom Pedro Casaldáliga
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O Espírito fortalece nossa esperança - Instituto Humanitas Unisinos - IHU