Por: MpvM | 15 Mai 2020
"Assumir e testemunhar a fé e a esperança em tempos de incertezas, conflitos e pandemia, requer dos/as discípulos/as missionários/as de Jesus um anúncio transformador, não meramente por meio de uma celebração eucarística virtual ou presencial, mas através de atitudes concretas de amor que se manifestam na proximidade com o outro que se encontra em situação de abandono, desprotegido dos direitos sociais. A força do Espírito Santo pode transformar o coração dos cristãos, para que a prática do amor compaixão possibilite a cura da fome, da doença, do desemprego que viraliza a humanidade. Desta forma, o nosso anúncio poderá devolver a alegria aos rostos enlutados, sofridos e famintos que se encontram estampados nas famílias e ruas de nossas comunidades. "
A reflexão é de Regina Candida Führ, sc, religiosa da Congregação das Irmãs de Santa Catarina. Ela é doutora em Teologia, PhD e Mestre em Educação, Membro da Equipe de Coordenação da CRB/RS, pesquisadora e prientadora de teses do IESLA, avaliadora do BASis pelo MEC, avaliadora dos artigos científicos para a Revista da ANEC, integrante do Projeto Mistério da Palavra na Voz das Mulheres –IHU/ Unisinos.
Leituras do dia
1ª Leitura: Atos 8,5-8.14-17
Salmo: Sl – 65/66,1-7.16.20
2ª Leitura: 1 Pedro 3,15-18
Evangelho: João 14,15-21
Domingo da promessa do Espírito Santo. A liturgia nos coloca neste sexto domingo da Páscoa em clima de Pentecostes. Aprofunda o significado da ressurreição, preparando-nos para a grande celebração da vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, a manifestação pública da Igreja. Jesus não nos deixou órfãos de sua presença (cf Jo14,18), mas mandou-nos o Defensor, o Espírito da Verdade, companheiro fiel de quem se dispõe a amar como o Senhor amou. Este amor implica em acolher e viver sua Palavra, como discípulo missionário que se coloca junto aos feridos, aos empobrecidos de nossa sociedade.
Todo aquele que acolhe o Espírito Santo que foi entregue aos apóstolos (At 8,15), torna-se apto a defender a fé que recebeu (1 Pd 3,15) com mansidão, respeito e com boa consciência (1 Pd 3,16), inclusive em meio a perseguições e sofrimentos. É esta a única vocação dentro da Igreja: imitar a vida e morte de Jesus por estarmos convictos de que esta é a essência do amor e da missão com quem nos encontramos, principalmente com os mais excluídos.
A 1ª leitura (Atos 8,5-8.14-17) narra o início da missão evangelizadora da Igreja, fora de Jerusalém. O nosso texto divide-se em duas partes. Na primeira parte (vers. 5-8), temos um sumário que resume a atividade missionária de Filipe entre os samaritanos. Filipe pregava “o Messias” – isto é, apresentava aos samaritanos Jesus Cristo e a sua proposta de salvação e de libertação. Diante da interpelação do Evangelho, os samaritanos “aderiam às palavras de Filipe”. Dessa adesão, nascia a comunidade do “Reino”, isto é, começava a aparecer uma comunidade de pessoas livres, iluminadas pela luz libertadora de Jesus, e que possuíam a vida nova de Deus: os espíritos impuros abandonavam os possessos, os coxos e paralíticos eram curados. Desta nova realidade brotava uma profunda alegria: a alegria é um dos traços característicos que, na obra de Lucas, acompanha a erupção da comunidade do “Messias”.
Na segunda parte (vers. 14-17), Lucas refere a chegada à Samaria dos apóstolos Pedro e João. Quando a comunidade cristã de Jerusalém soube que a Samaria tinha já acolhido a mensagem de Jesus, enviou para lá Pedro e João em visita de inspeção. Lucas não diz qual a reação de Pedro e João ao constatarem o avanço do Evangelho; apenas refere que os samaritanos, apesar de batizados, ainda não tinham recebido o Espírito Santo. Que significa isto? Provavelmente, significa que a adesão dos samaritanos ao Evangelho era superficial e que não havia ainda, entre eles, uma verdadeira consciência de pertencer a essa grande família de Jesus, a Igreja universal. Assim que chegaram Pedro e João impuseram as mãos aos samaritanos, a fim de que também eles recebessem o Espírito. O Espírito aparece como o selo que comprova a pertença dos samaritanos à Igreja de Jesus Cristo.
Diante deste fato podemos perceber para que uma comunidade se constitua como Igreja, não basta uma aceitação superficial da Palavra, nem manifestações humanas, por mais atrativas que sejam. Torna-se necessário que toda comunidade cristã tenha consciência de que é convidada a viver a sua fé em comunhão com a Igreja universal. Toda a comunidade que quer fazer parte da família de Jesus deve, portanto, viver a comunhão e sinodalidade com os pastores da Igreja universal. Só então se manifestará nela o Espírito, a vida de Deus.
O salmo (Sl 65) é uma oração de ação de graças pública e de caráter universal, ação litúrgica feita por um fiel que, juntamente com outros viveu uma dura prova e foi dela libertado (cf. versículos 16.20). A oração expressa um Deus que se coloca junto na defesa e promoção da vida, libertando e introduzindo o povo na terra da liberdade (versículo 6), preservando a terra da promessa (versículo 7). Ao cantarmos este salmo neste sexto domingo da páscoa, agradecemos ao Pai por ter realizado a maior obra de salvação em Jesus Cristo através de sua morte e ressurreição.
Na segunda leitura (1 Pedro 3,15-18) o apóstolo Pedro se dirige aos cristãos da Igreja primitiva que experimentavam as perseguições religiosas em diferentes contextos. Apesar de confrontados com a hostilidade do mundo, os cristãos são convidados a santificar o coração que significa reconhecer, respeitar, dar ao Cristo, Senhor, e à sua vontade o lugar que Lhe compete, a terem confiança, a darem um testemunho sereno da sua fé, a mostrarem o seu amor a todas as pessoas, mesmo aos perseguidores: “Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo, e estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência” (1Pd 3, 15 – 16a). Cristo, que fez da sua vida um dom de amor a todos, deve ser o modelo para os cristãos configurarem a sua vida. O texto exorta os cristãos à prática da não violência em meio aos conflitos, à perseverança e à fidelidade aos compromissos assumidos com Cristo no batismo.
O Evangelho (João 14,15-21) faz parte do discurso da despedida de Jesus. É o testamento que o mestre deixa à Comunidade antes de partir. Os discípulos se mostram abalados e tristes. Jesus os anima, declarando que não os deixará órfãos no mundo: “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós”. (Jo 14,18). Ele vai ao Pai, mas vai encontrar um modo de continuar presente e de acompanhar a caminhada dos seus discípulos. É uma alusão à sua volta invisível, mas real, mediante o Espírito Santo, que o substituirá junto aos discípulos e permanecerá sempre com eles e com toda a Igreja. É a possibilidade de viver em intensa comunhão com o Pai e o Filho, pelo Espírito da Verdade, que nos é dado como dom da Páscoa.
Jesus promete aos discípulos o envio de um "defensor", de um "intercessor", que irá animar a comunidade cristã e conduzi-la ao longo da sua história. A comunidade cristã, identificada com Jesus e com o Pai, animada pelo Espírito, é o "Templo de Deus", o lugar onde Deus habita no meio da humanidade. Através dela, o Deus libertador continua a concretizar o seu plano de salvação.
Para isso, é preciso um amor autêntico, que se manifesta na observância dos mandamentos: "Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14, 21). Só quem vive esse amor estará apto a receber o Espírito Santo. O amor supera o medo, a separação e a morte.
Pistas para Reflexão:
Assumir e testemunhar a fé e a esperança em tempos de incertezas, conflitos e pandemia, requer dos/as discípulos/as missionários/as de Jesus um anúncio transformador, não meramente por meio de uma celebração eucarística virtual ou presencial, mas através de atitudes concretas de amor que se manifestam na proximidade com o outro que se encontra em situação de abandono, desprotegido dos direitos sociais. A força do Espírito Santo pode transformar o coração dos cristãos, para que a prática do amor compaixão possibilite a cura da fome, da doença, do desemprego que viraliza a humanidade. Desta forma, o nosso anúncio poderá devolver a alegria aos rostos enlutados, sofridos e famintos que se encontram estampados nas famílias e ruas de nossas comunidades.
A primeira carta de São Pedro nos exorta: “[...] estai prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir. Fazei-o, porém com mansidão e respeito e com boa consciência” (1Pd 3, 15b- 16a). O tempo que vivemos requer de nós, homens e mulheres, atitudes de esperança e a construção de relações novas infundidas no Espírito Santo, onde amor se constitua o tecido social capaz de pacificar os conflitos, perseguições humanas e ecológicas que emergem a todo instante em nossa Casa Comum.
Para o Espírito Divino, não há barreiras nem fronteiras. Ele é Espírito de unidade e de paz. Com a sua força e dinamismo somos capazes de reiventar a nossa vida no contexto atual onde vivemos um tsunami de catástrofes naturais, de pandemia, de fome, de conflitos entre povos, de terrorismo, de injustiça e opressão. A presença do Espírito Santo possibilita os(as) discípulos(as) a penetrar no coração de Deus, descobrir seu amor e seu projeto para toda a humanidade. A condição para ter este Espírito é a vivência dos mandamentos que se resumem em um só: O AMOR. Jesus nos chama a viver no amor como Ele viveu. A igreja dá testemunho de um Deus que deseja oferecer à humanidade a salvação por meio de gestos de amor, de serviço, de humanidade, de liberdade, de compreensão, de perdão, de tolerância, de solidariedade para com os pobres?
A comunidade cristã, identificada com Jesus e com o Pai, animada pelo Espírito, é o “templo de Deus”, o lugar onde Deus habita no meio da humanidade. Através dela, o Deus libertador continua a concretizar o seu projeto de salvação.
Neste domingo vamos refletir e rezar sobre estas provocações que nos faz a Palavra de Deus
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6º Domingo da Páscoa – Ano A – O amor vence o medo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU