12 Mai 2020
“Se a tecnologia é a viagem de volta, a ciência é a de ida. Ambas são imprescindíveis, mas seu foco não deveria ser a eternidade do poderoso ‘Homo deus’, ao contrário, a dignidade do frágil homem mortal”, escreve Jaime García Cantero, analista independente, colaborador habitual em publicações especializadas em inovação, estratégia digital e novos meios de comunicação, em artigo publicado por Retina-El País, 08-05-2020. A tradução é do Cepat.
A filósofa Ana Carrasco Conde disse que a. C. e d. C. terá um novo significado após essa pandemia. Antes e depois do Coronavírus. Uma mudança de era em que também um deus morreu: o ‘Homo deus’, de Yuval Noah Harari e seus dataístas.
Diziam que a tecnologia nos permitiria dominar a natureza, eliminar as doenças e sermos imortais. A covid-19 mostrou que mentiam. Onde estão agora os transumanistas e sua vida eterna, aqueles que prometiam que a inteligência artificial anteciparia o futuro?
Zigmunt Bauman contava que, em 9 de novembro de 1989, enquanto Günter Schabowski ditava a abertura de fronteiras entre as duas Alemanhas, ocorria um grande congresso de sovietólogos. Nenhum deles tinha visto chegar a queda do muro. Tampouco nenhum dos poderosos algoritmos que nos cercam soube detectar a praga que hoje assola a Terra.
E o problema não é não poder ver, é estar olhando para outro lado. Os algoritmos sabem qual filme você vai comprar, mas foram incapazes de antecipar a maior crise global do último século. Não é um problema de tecnologia, o problema é a serviço de quem está.
A inovação digital concentrou-se em tornar mais ricos alguns poucos, em vez de melhorar a vida de muitos. Uma visão mercantilista que reduzia o investimento em ciência, fascinada pelos cantos de sereia tecnológicos.
A pesquisa científica converte dinheiro em conhecimento; a tecnologia, esse conhecimento em dinheiro. O capitalismo digital primou esta última e descuidou da primeira. Se a tecnologia é a viagem de volta, a ciência é a de ida. Ambas são imprescindíveis, mas seu foco não deveria ser a eternidade do poderoso ‘Homo deus’, ao contrário, a dignidade do frágil homem mortal.
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O ‘Homo deus’ está morto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU