04 Mai 2020
Mais de 1.000 católicos, incluindo as lideranças de importantes organizações de justiça social, assinaram uma carta ao cardeal Timothy Dolan, de Nova York, expressando indignação pelas suas recentes demonstrações públicas de apoio ao presidente dos Estados Unidos.
A reportagem é de Jesse Remedios, publicada em National Catholic Reporter, 01-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Sua recente ligação telefônica com o presidente [Donald] Trump e sua aparição na Fox News enviam uma mensagem de que as lideranças católicas se alinharam com um presidente que divide famílias imigrantes, nega as mudanças climáticas, estimula a divisão racial e apoia políticas econômicas que prejudicam os pobres”, declara a carta. “Não há nada de ‘pró-vida’ na agenda de Trump.”
A carta, tornada pública no dia 1º de maio e organizada pela Faith in Public Life Action, inclui assinaturas da Ir. Simone Campbell, diretora executiva da Network, um lobby católico de justiça social; de Stephen Schneck, diretor executivo da Rede de Ação Franciscana; e da Ir. Pat McDermott, presidente das Irmãs da Misericórdia das Américas. Padres e teólogos de universidades católicas de todo o país também assinaram, de acordo com um comunicado de imprensa da Faith in Public Life Action.
A carta é uma resposta a dois incidentes recentes em que o cardeal manifestou publicamente sua admiração e seu aparente apoio ao presidente.
O primeiro foi uma ligação telefônica de Trump realizada no dia 25 de abril com 600 católicos, incluindo o arcebispo de Los Angeles, José Gomez, presidente da Conferência dos Bispos dos EUA.
Segundo o Crux, durante a ligação, Trump se referiu a Dolan como um “grande amigo meu”, e Dolan brincou dizendo que ele telefona para o presidente mais do que para a sua mãe de 90 anos. Trump também se identificou, no telefonema, como o “melhor [presidente] da história da Igreja Católica”.
Alguns dias depois, em uma aparição no dia 27 de abril no programa Fox & Friends, Dolan elogiou publicamente Trump pela sua liderança e sensibilidade “aos sentimentos da comunidade religiosa”.
John Gehring, diretor de programas católicos da Faith in Public Life Action, disse em um comunicado que Dolan e outros bispos não deveriam “dar a aparência de agradar a um presidente que zomba dos valores cristãos em suas palavras e políticas”.
“Não há nada de ‘pró-vida’ em um líder que usa a crueldade como arma política e mostra desprezo por quem desafia sua agenda imprudente”, disse Gehring.
Campbell disse que as políticas do presidente violam diretamente a doutrina social católica e que “a nossa liderança eclesial deveria saber disso”.
Durante uma “live” no Facebook com o editor da revista America, o padre jesuíta Matt Malone, no dia 1º de maio, Dolan defendeu sua decisão de participar do telefonema com Trump, considerando o fato de conversar com líderes políticos como parte da “obra sagrada do acompanhamento”.
O cardeal também disse que recebeu “muito mais críticas” dos católicos irritados com os seus esforços anteriores para trabalhar com o governador de Nova York, Andrew Cuomo, e com o senador Chuck Schumer. Ele disse que os bispos católicos precisam se envolver com os políticos, e “você precisa fazer o nhoque com a massa que tem”.
O parágrafo final da carta diz: “Quando as lideranças religiosas colocam o acesso ao poder acima dos princípios, eles correm o risco de perder a clareza moral necessária para garantir que a política esteja voltada para a busca do bem comum. Eu rezo para que o senhor e outros bispos mostrem a liderança que o nosso país precisa neste momento difícil”.
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Lideranças católicas protestam contra as palavras do cardeal Dolan em apoio a Trump - Instituto Humanitas Unisinos - IHU