16 Abril 2020
“A vida de Frankl nos oferece uma rica e ampla evidência de que as chaves para se libertar das celas de prisão da vida, reais ou imaginárias, estão dentro de nós e ao nosso alcance. O sentido, como nos ensinou o Dr. Frankl, pode ser encontrado em todas as partes, em e através de todas as experiências da vida. Está no momento, em todos os momentos, e só aguarda ser descoberto”, escreve María Gloria Báez, escritora, em artigo publicado por Ultima Hora, 11-04-2020. A tradução é do Cepat.
O psiquiatra austríaco e sobrevivente do Holocausto, Viktor Frankl (26 de março de 1905 – 2 de setembro de 1997) é uma testemunha atemporal da tenacidade luminosa do espírito humano. Sua obra publicada no ano de 1946, “O homem em busca de um sentido”, constitui um dos argumentos mais poderosos para a dignidade humana.
Como sobrevivente dos campos de concentração nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, é mais conhecido por sua crença de que não importa que desafios você enfrente na vida, sempre terá a máxima liberdade para escolher sua atitude e sua resposta ao que está acontecendo. Suas muitas ideias sobre a busca humana de significado, ilustradas por suas próprias experiências e as de seus pacientes, influenciaram milhares de pessoas em todo o mundo.
Nascido e criado em Viena, Frankl estudou neurologia e psiquiatria, com um enfoque particular em problemas de saúde mental como a depressão e o suicídio. Depois de sua educação médica, trabalhou em vários hospitais vienenses, ao longo dos anos 1930. Em 1940, tornou-se chefe do departamento neurológico do Hospital Rothschild, o único hospital que ainda admitia judeus.
Em 1942, Frankl, assim como sua esposa, Tilly, e seus pais, foram deportados para o Theresienstadt, um gueto nazista. Em 1944, Frankl e sua esposa foram encaminhados para Auschwitz. Pouco depois, foram separados. Tilly foi transferida a Bergen-Belsen, e Viktor foi enviado para Dachau, onde permaneceu até a sua libertação do campo pelos soldados estadunidenses, em abril de 1945. Seu pai, mãe, irmão e Tilly, sua esposa grávida, pereceram nos campos.
Ainda que influenciado por seus companheiros psicanalistas Sigmund Freud e Alfred Adler, Frankl finalmente se separou de suas filosofias, valorizando a vontade de significado sobre a vontade de poder ou prazer.
A busca do significado do homem é mais que uma recordação dos horrores do Holocausto. É uma lição comovedora de como a força interior de uma pessoa é a chave para a sobrevivência. Foi esta fortaleza que ajudou Frankl a sobreviver três anos nos campos de concentração, apesar de que sua relativa fragilidade tornasse tal sobrevivência pouco provável.
Ao compreender que sua vida tinha sentido, mesmo em meio às condições mais miseráveis, pôde desenvolver uma vida interior que era ainda mais resistente que seu corpo. Conforme expressou, “a vida nunca se torna insuportável pelas circunstâncias, mas, sim, pela falta de significado e propósito”.
Como prisioneiro n.119.104 no campo de extermínio, o que constitui um ponto nulo de significado para um propósito na vida, foi aí que pôde ver a condição humana em seu pior momento, com pessoas que se comportando de formas inimagináveis. Mesmo assim, viu seres humanos se elevar às alturas da compaixão, o cuidado, o desinteresse e a transcendência.
Por meio de sua vida e trabalho, recorda-nos que todos temos um trabalho importante a fazer, que qualquer coisa que façamos é importante e que o significado pode ser encontrado em todas as partes, durante o tempo todo. Além disso, deixou um legado que pode ajudar a todos, sem importar sua situação, a encontrar um significado mais profundo e rico em suas vidas.
Como criador da Logoterapia, conhecida como a “Terceira Escola de Psicoterapia de Viena”, Frankl teve um profundo impacto, em muitas pessoas, durante sua vida.
É importante destacar que suas lições inspiradoras e de afirmação da vida, hoje, continuam guiando e influenciando pessoas de todo o mundo.
A pandemia de coronavírus pode ser sentida como sem precedentes, mas a humanidade sofreu pior e se fortaleceu. O que importa agora é como a suportamos, se nos fortalece, se aprendemos lições e encontramos significado na luta.
Podemos encontrar significado ao focarmos no que é mais importante para nós: as pessoas que amamos e a comunidade que compartilhamos. No melhor e, infelizmente, no pior está por vir. Podemos administrá-la melhor, de maneira coletiva e individual, se focarmos no que podemos fazer para ajudar os outros, nos proteger e encontrar significado em nossa vida cotidiana.
Este momento único na história nos permite agir com uma tripla intenção: reconhecer nossa responsabilidade, quando enfrentamos uma crise; perceber o que é preciso para se render à nossa ‘nova normalidade’; e, o mais importante, aprofundar e encontrar o significado incorporado na adversidade. Frankl afirma: “Muitas vezes, é uma situação externa excepcionalmente difícil que confere ao homem a oportunidade de crescer espiritualmente para além de si mesmo”. Esses tempos nos desafiam a renunciar o impulso à divisão e abraçar a oportunidade e o consolo que vem com o altruísmo.
A vida de Frankl nos oferece uma rica e ampla evidência de que as chaves para se libertar das celas de prisão da vida, reais ou imaginárias, estão dentro de nós e ao nosso alcance. O sentido, como nos ensinou o Dr. Frankl, pode ser encontrado em todas as partes, em e através de todas as experiências da vida. Está no momento, em todos os momentos, e só aguarda ser descoberto.
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Viktor Frankl. Dizer sim à vida em tempos difíceis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU