12 Março 2020
As igrejas protestantes adotam critérios de bom senso; poucos cultos suspensos. Controvérsia na Grécia sobre a atitude da Igreja Ortodoxa.
Até agora, o coronavírus teve um impacto limitado na vida da igreja na Alemanha. Atualmente, as duas principais igrejas cristãs não veem sinal de queda no número de presenças nos cultos ou outros eventos, como mostrou uma pesquisa do Serviço de Imprensa Evangélica (Epd) entre as igrejas protestantes regionais e as dioceses católicas. As igrejas tentam usar as regras de conduta para manter baixo o risco de infecção durante o culto. No distrito de Heinsberg, no norte Renânia-Vestfália, onde a maioria dos infectados foi registrada até o momento, alguns cultos e serviços foram cancelados devido ao vírus e os escritórios paroquiais foram fechados.
A reportagem é publicada por Riforma, 10-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Também foi cancelada a abertura da "Semana da Irmandade" em nível nacional da Sociedade de Cooperação Cristão-Judaica, que deveria realizada domingo em Dresden com mais de 1.000 participantes. A Comunidade de Igrejas Evangélicas na Europa (CPCE) cancelou um evento de três dias agendado para o início de março em Bad Herrenalb com participantes de 19 países. A igreja em Hannover adiou ao "Dias dos conselhos da Igreja", que estava marcado para 21 de março, com cerca de 1.500 pessoas esperadas.
A Igreja Evangélica na Alemanha (Ekd) oferece várias dicas para reduzir o risco de infecção. "É possível usar temporariamente cálices individuais ao celebrar a ceia do Senhor", disse um porta-voz da Ekd. Outra possibilidade também poderia ser o chamado "intinctio", a imersão do pão no cálice. As 20 igrejas protestantes regionais seguem essas instruções.
Devido ao medo do vírus no país, as igrejas também enfatizam seu papel pastoral. "Como cristãos, nos concentramos não apenas em proteger os sadios, mas também em cuidar dos doentes", afirma uma carta da Igreja Evangélica de Hesse e Nassau às comunidades e instituições. "Com isso em mente, devemos combater a exclusão social que não ajuda a quarentena necessária do ponto de vista médico e ajudar os doentes e seus parentes o máximo, na medida do possível".
Também na França, a epidemia de coronavírus obriga as igrejas a serem criativas. Em alguns templos, os membros se reuniram em volta da mesa sobre a qual descansavam o pão e o vinho. Em outros, todos mergulharam o pão no cálice. Em outros lugares, os assistentes usavam luvas e distribuíam copos e pão individuais.
"A partir de segunda-feira, 2 de março, escrevi para todas as comunidades locais para recomendar a suspensão da prática da comunhão", assegura Guillaume de Clermont, pastor da Igreja Protestante Unida da França (Epudf) e presidente do conselho regional da região ocidental.
Endereçada a pastores e presidentes de conselhos presbiterais, uma carta também foi enviada no início desta semana por Emmanuelle Seyboldt, presidente da Epudf. Convida a seguir as recomendações do governo à risca, a viver esse período da Quaresma sem celebrar a comunhão e "permanecer vigilante sem dramatizar", resume Daniel Cassou, responsável pela comunicação da Igreja Protestante Unida da França. No início da semana, a União Franco-Belga das Igrejas Adventistas do Sétimo Dia também deu instruções específicas às comunidades: sem beijos ou apertos de mão e, ao mesmo tempo, forneceu muitos frascos de álcool gel, incentivou as pessoas a lavar as mãos três ou quatro vezes durante a manhã de oração, publicou recomendações dos serviços de saúde e equipou os locais de culto com toalhas para secar as mãos.
Os membros da igreja também são incentivados a medir sua temperatura antes de viajar e a avisar o pastor sobre possíveis contaminações por outros membros para limitar o risco. "Em geral, as igrejas são encarregadas de tomar todas as medidas de segurança possíveis se mantiverem programas específicos", concluiu a pastora Elise Lazarus. A pergunta é por quanto tempo essas disposições deveriam ser mantidas. "Sugeri a todos os meus colegas que suspendessem a comunhão por dois meses", disse Guillaume de Clermont, que havia consultado um médico antes da decisão. Segundo este último, esse prazo deveria permitir superar o pico da epidemia. "Esta é uma primeira estimativa, vamos nos adaptar", disse o pastor. Em Morbihan, um dos departamentos mais afetados pelo coronavírus, o prefeito emitiu uma ordem para suspender todas as reuniões (incluindo o culto, portanto) até às eleições. Por enquanto, essas recomendações parecem ser bem recebidas por pastores e fiéis.
O reverendo Herbert Nelson, porta-voz da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana (EUA), adiou a inscrição para a próxima 224.ª Assembleia Geral: “As inscrições para a Assembleia Geral, previamente agendadas para 9 de março, serão agora adiadas para depois de 24 de março", afirmou ele. "Enquanto continuamos com a organização da Assembleia, minha equipe, juntamente com o comitê de organização da Assembleia Geral, está monitorando de perto a situação envolvendo o COVID-19 e estamos desenvolvendo planos de emergência em resposta, se necessário."
A Assembleia Geral é a maior reunião da PcUsa e está prevista para os dias 20 e 27 de junho em Baltimore. São esperadas até 2.000 pessoas. A bispa Elizabeth Eaton, presidente da Igreja Luterana dos Estados Unidos (Elca), publicou a seguinte carta dirigida às igrejas membros: “Em 1527, a peste voltou a Wittenberg, na Alemanha. Duzentos anos antes, a pestilência havia atravessado a Europa matando até 40% da população. Compreensivelmente, as pessoas estavam ansiosas e se perguntavam qual seria a resposta correta e fiel. Em resposta a isso, Martin Luther escreveu sobre o dever de cuidar do próximo, da responsabilidade do governo de proteger e prestar serviços a seus cidadãos, de uma cautela contra a temeridade e a importância da ciência, da medicina e do senso comum.
Para prestar assistência ao próximo, Lutero recomendava que pastores, trabalhadores, médicos e funcionários públicos permanecessem na cidade. O próprio Lutero permaneceu em Wittenberg para cuidar de seu povo. Ele recomendou que hospitais públicos fossem construídos para abrigar os atingidos pela doença. Ele condenou aqueles que corriam riscos desnecessários e que colocavam a si mesmos e aos outros em risco de contágio. Lutero também encorajou o uso da razão e da medicina, escrevendo: ‘Deus criou remédios e nos dotou de inteligência para proteger e cuidar do corpo. ... Usem os remédios; tomem fármacos que possam vos ajudar, fumeguem a casa, o pátio e a rua; evitem pessoas e lugares onde o vosso vizinho não precisa da sua presença" ("Se alguém pode fugir de uma praga mortal", 1527).
Vivemos no tempo do coronavírus. Também vivemos no tempo das mídias sociais e da cobertura das notícias constante e implacável. Muitas pessoas têm as mesmas preocupações daquelas da época de Lutero. Muitas pessoas estão ansiosas. O conselho de Lutero, baseado nas Escrituras, ainda é válido. Respeite a doença. Não corra riscos desnecessários. Atenda as necessidades espirituais e físicas do vizinho. Faça uso de assistência médica. Cuidar um do outro, especialmente os mais vulneráveis.
A organização de toda a igreja recomenda o seguinte para todo o pessoal da igreja: lavar as mãos, ficar em casa quando estiver doente, usar uma máscara se tiver sintomas, consultar o médico. Bispos e pastores fornecerão diretrizes para o culto e as reuniões da igreja.
Lutero também lembrou a nós e a seu povo que deveríamos confiar na fidelidade e nas promessas de Deus, em particular na promessa da vida eterna. Paulo escreve: “Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor" (Romanos 14,8).
Polêmicas na Grécia, enquanto os médicos denunciam que a poderosa igreja ortodoxa pode continuar a celebrar a missa, independentemente das medidas sanitárias. Na ortodoxia, o ritual da comunhão prevê que os fiéis bebam um pouco de vinho que o sacerdote entrega em uma colher. Uma colher compartilhada por todos ... Daí as advertências de autoridades de saúde e médicos. Ao que a Igreja respondeu que "o vinho contém álcool e o álcool mata o vírus", nas palavras do bispo Ioannis de Langada, no norte do país.
A Federação dos médicos hospitalares gregos enfatizou esta semana que nenhuma exceção, “inclusive por razões religiosas" deveria ser posta em ato entre as medidas tomadas para limitar a propagação do vírus. Grécia tem atualmente 45 casos de coronavírus, a maioria deles entre os peregrinos que viajaram para Israel e Egito no mês passado.
A aproximação da Páscoa ortodoxa em abril é o momento em que os gregos lotam as igrejas. Muitos idosos já estão começando a ir mais assiduamente. É por isso que muitos funcionários da saúde e políticos consideram perigoso isentar a Igreja da proibição de grandes aglomerações.
O Ministério da Saúde proibiu em particular todas as celebrações programadas para o Carnaval. Fez o mesmo para reuniões internas nas três regiões ocidentais com o maior número de casos. Mas se recusou a pronunciar restrições às igrejas, deixando a responsabilidade para os bispos. "Simplesmente não é possível fechar as igrejas ou não dar comunhão", disse o bispo Crisóstomo, de Patras, uma das regiões mais atingidas. "Quem acredita na santa comunhão sabe que não tem nada a temer, é uma questão de fé", disse ele na Open TV. "Ao longo dos séculos, nunca houve casos de doenças que se espalharam através da comunhão."
Do ponto de vista político, as condenações são particularmente acaloradas de parte do principal partido da oposição, o Syriza. "Estamos cancelando as celebrações do Carnaval e permitindo que as pessoas venham à igreja para beber todos em uma colher?", disse ao parlamento o ex-ministro da Saúde Pavlos Polakis. O líder do Syriza, ex-primeiro ministro Alexis Tsipras, declarou que não limitar a igreja é uma "escolha anacrônica, não científica e uma ameaça à saúde pública". Na Romênia, a Igreja Ortodoxa permitiu que os fiéis levassem sua própria colher para a comunhão e que beijassem os ícones em casa e não na igreja.
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Igrejas e coronavírus, entre boas práticas e atitudes inconsistentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU